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ARTIGO: MAIS “NÓS” DO QUE “PONTOS”

Raruza Keara *

Os dias de isolamento domiciliar apresentam o desafio diário de como não entregar os pontos diante das inseguranças na área da saúde e no setor econômico e da instabilidade política.

A Quarentena Criativa do Peça Rara Estúdio de Criações passa bem, obrigada! Muita gente envolvida, graças também ao Notícias Gerais e aos seus leitores. Recebemos fotos e comentários nas redes sociais do projeto e as pessoas nos contam como o artesanato tornou os dias mais curtos e com mais qualidade. 

Mas, como jornalista atuante no setor artesanal, sei que a dose desse remédio administrada por mim em conta-gotas criativas é um paliativo para tantas dúvidas sobre o que restará de nós, de nossos planos pessoais, dos empregos e dos negócios quando essa crise passar.

As redes sociais estão recheadas de frases como “se não morrer desse vírus, morro de fome”, que denunciam o verdadeiro desalento dos mais humildes, o desespero dos autônomos e dos médios, pequenos e microempreendedores da nação. O Brasil tem aproximadamente 40 milhões de pessoas na informalidade e sem nenhuma seguridade social.

Entre os 10 milhões de artesãos e artesãs brasileiros muitos vivem na informalidade, estão fora do Simples Nacional, ou seja, não são Microempreendedores Individuais (MEIs) ou pequenos e médios empreendedores, vivem das redes de subsistência, mantidas por eventos solidários e feiras locais. Tudo o que está paralisado por conta das medidas preventivas contra o COVID-19.

 Victória Souza, assessora de comunicação do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes, conta que as atividades artesanais são decisivas para o faturamento das vinte e quatro cidades que integram a Trilha. Artesanato, turismo e cultura sofrem pelo efeito cascata, limitando a geração de renda desses municípios às atividades agrícolas e à prestação de serviços. Como explicou o jornalista e ex-secretário de Turismo, Artesanato e Cultura do município de Resende Costa/MG, Fernando Chaves.

Para o jornalista, existem dois momentos difíceis no caso de Resende Costa: o presente que impõe à perda de turistas e de vendas e o período após a pandemia, uma vez que o retorno dos turistas à cidade não será imediato e a estocagem de produtos será grande, afetando o trabalho dos artesãos e das tecelagens duramente. Chaves explicou que cerca de 80 lojas de artesanato, 10 pousadas e 10 bares e restaurantes da cidade serão prejudicados já esse mês.  

As medidas defendidas pelo Governo Federal, por meio do Ministério da Economia, ainda não foram colocadas em prática. Mas, elas já contam com a liberação de R$ 14,4 bilhões mensais dos cofres públicos durante os três próximos meses. O valor do benefício é de R$600 reais por pessoa (maiores de 18 anos) e foi definido na quinta (26), após muitas discussões entre governo e representantes do Legislativo Federal. Esse recurso foi destinado aos trabalhadores informais, desempregados, MEIs, autônomos e pessoas de baixa renda (Veja quem poderá receber o benefício).

Com relação aos pequenos e médios empresários, consultei algumas publicações do SEBRAE. Segundo a instituição, as ações são pontuais na prorrogação do pagamento de impostos e flexibilização nas taxas de juros e no tempo na contratação de empréstimos (ver todas as informações aqui). O que para pequenos e médios empresários pode não funcionar, pois os efeitos da crise (perda de vendas e folha de pagamento de funcionários), somados ao endividamento a longo prazo, tornarão quase impossível manter o capital de giro e recursos para gerir os empreendimentos. O SEBRAE criou um guia com ações essenciais para os empresários nessa primeira fase (acesse aqui), bem como um canal de comunicação para auxiliar os empreendedores. Artesãos e MEIs também conseguem orientações por lá.

No início desse texto, apresentei uma afirmativa sobre o medo da doença, da fome, o medo da morte. Falei também das doses paliativas e do efeito em conta-gotas que o artesanato libera de forma tão positiva para nossa vida.

Mas, sem grandes respostas ou ousadas saídas, eu encerro essas linhas. Não sei ainda qual o impacto real dessas medidas econômicas para os pequenos e mais indefesos da engrenagem capitalista ou quanto elas poderão garantir minimamente a dignidade, o pó de sonho, de futuro para nós. Por agora, ficarei com uma gota de respiro e com a vontade de tecer minhas linhas. Nos nós da vida às vezes é preciso apenas esperançar a criação de novos pontos.

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Jornalista, docente e designer em crochê

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