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ARTIGO: PÁSCOA DE 2020 – UM PRIVILÉGIO PARA TODOS OS SERES HUMANOS

Por José Domingues de Godoi Filho *

Certamente, nos últimos 300 anos, a Páscoa de 2020 é uma das mais importantes para nossas gerações. Um marco irreversível para a história das relações humanas, a despeito dos altos custos sociais que estamos vivendo e que ainda virão. Por isso mesmo, somos privilegiados por estarmos vivos nesse momento.

Páscoa é passagem e um momento, para, nos cantos da quarentena,  pensarmos sobre nossas vidas. Um espaço para entendermos que nossas lutas e dificuldades nos trazem a esperança de construção de um mundo melhor. Na Páscoa de 2020, é preciso termos coragem para anunciar o “Fim do Mundo”, como o fez o grande poeta das montanhas de Minas, Carlos Drummond de Andrade, em seu “POEMA DA NECESSIDADE”:

É preciso casar João,
é preciso suportar Antônio,
é preciso odiar Melquíades
é preciso substituir nós todos.

É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.

É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbado,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.

É preciso viver com os homens
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar O FIM DO MUNDO.

A Páscoa 2020 é um momento para resgatarmos nossa fé e esperança para estabelecermos novas metas e possibilidades para as relações humanas.

Tomo de empréstimo a imagem do cedro do Líbano, muito citada e lembrada pela minha avó e tios libaneses, como um bom exemplo para nossa tarefa  e,  para a passagem irreversível que a humanidade está iniciando; como já ocorreu, em alguns momentos de nossa história, desde pelo menos dez mil anos atrás.

O cedro do Líbano cresce lentamente até atingir 40 metros de altura. Nos primeiros anos cuida para que suas raízes aprofundem e atinjam cerca de um metro e meio de profundidade, enquanto, em superfície a planta não passa de cinco centímetros.

A Páscoa de 2020 nos obriga entender que precisamos criar, aprofundar e fortalecer as raízes para a passagem para um novo tempo. Como o cedro do Líbano, devemos aprofundar nossas raízes. Quanto mais coragem  tivermos de dar uma chance ao amor e a  vida, mais profundas e robustas serão nossas raízes e, como o cedro do Líbano,  poderemos atingir os quarenta metros de altura.

Com raízes profundas e robustas, o cedro do Líbano é muito resistente, uma das árvores de maior longevidade. No quintal dos ancestrais libaneses de minha mãe, há exemplares com mais de mil anos e, no Líbano, algumas que atingem três mil anos. Mas há necessidade de sempre buscar as águas mais profundas,  que só são encontradas quando buscadas. Não estão na superfície. Indiferença, comodismo, individualismo e imobilismo não nos levarão ao encontro das águas profundas.

Que a Páscoa de 2020, nos permita assimilar os ensinamentos da figura do cedro do Líbano, para entendermos e lutarmos pela passagem para um mundo mais igualitário, fraterno e de amor a vida.

Boa Páscoa e coragem.

* Professor de Geologia da UFMT e mineiro de Monte Sião.

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