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COM O PAI NA UTI, ESTUDANTE DE CINEMA SINTETIZA EM VÍDEO INQUIETAÇÕES E ANGÚSTIAS CAUSADAS PELA PANDEMIA

Foto: arquivo pessoal

Aos 50 anos, o engenheiro Cláudio Nazareth passou três dias entubado na UTI, entre a vida e a morte. E venceu a Covid-19 sorrindo, cantando e dando um exemplo de coragem e leveza para enfrentar o maior desafio dos nossos tempos.

Mas quem conta muito bem esta história é a filha dele, Arê Nazareth, uma estudante de cinema de 19 anos que, desde criança, sempre amou criar histórias. O vídeo produzido por ela emocionou muita gente ao expôr as inquietações e angústias causadas pela pandemia.

E para conhecê-la um pouquinho melhor, o Notícias Gerais decidiu entrevistá-la. De quebra, ainda teve acesso a um outro vídeo no qual ela retrata como o novo coronavírus mudou a vida de todos nós. Confira!

Notícias Gerais – Como surgiu sua paixão pelo audiovisual?

Arê Nazareth – Desde pequena eu sempre gostei muito de filmes e amava escrever e inventar histórias. Quando mais nova, meu pai tinha uma filmadora, e eu e minha irmã gravávamos algumas cenas das minhas histórias com ela, mas não editava ainda. Com isso, quando eu tinha uns 10 anos, ele me deu um computador e eu comecei a brincar com a edição e fizemos mais filmes.

NG – E como é sua relação com o audiovisual? Vai muito ao cinema? Devora Neflix? Baixa tudo o que tem na net? Curte mais Youtube? Me conta um pouquinho disso….

AN – Sim, risos! Eu amo ir ao cinema e amo ver os novos filmes e series da Netflix! Mas também assisto bastante vídeos no Youtube, gosto de acompanhar o trabalho e o crescimento de canais pequenos, me identifico de alguma forma.

NG – Quais suas principais referências no mundo do cinema/audiovisual?

AN – Ainda estou me descobrindo aos poucos, pois estou no início do curso e não tenho muitas experiências, mas gostei de trabalhar com vozes e projeções. Além disso, como referência, gosto muito das produções de Phoebe Waller-Bridge, pela forma como ela consegue expressar o gênero comédia dramática, acho que ela faz isso muito bem. Também pelo fato de, em uma de suas produções, ela quebra a quarta parede, – que é quando o personagem interage com o público – e eu sinto que isso aproxima os telespectadores e da mais engajamento para a história. E, por fim, mas não menos importante, admiro muito o trabalho de Phoebe principalmente por ela conseguir ser atriz, produtora e escritora de suas próprias criações.

NG – Já fez algum vídeo profissional? Tem uma produção própria preferida?

AN – Nunca fiz nada profissional, ainda estou me arriscando nas pequenas criações caseiras. Diante disso, em junho, eu fiz um vídeo para um trabalho de cinematografia digital da faculdade de relatos sobre o isolamento social. Essa é uma das minhas produções mais especiais, porque foi o maior projeto que eu fiz e eu consigo enxergar nele um pedacinho de cada pessoa importante na minha vida, pois todos me ajudaram de alguma forma e eu tive um apoio enorme de cada um! Vou deixar o link aqui para caso você queira assistir:

NG – E do que você mais gosta: direção, fotografia, produção? Quais suas pretensões?

AN –Ainda não sei te responder sobre isso com certeza, mas gosto bastante de direção, fotografia, arte e roteiro.

NG – No vídeo que fez sobre o seu pai, deu pra ver que você concilia sensibilidade e técnica muito bem. Como se deu a ideia de usar o audiovisual para se expressar em um momento angustiante?

AN – Eu sou uma pessoa bastante expressiva, gosto muito de escrever sobre as minhas sensações e angústias, mas sinto que a linguagem híbrida causa um impacto maior e traz mais sensibilidade para o sentimento que eu quero expressar. Além das produções audiovisuais e da escrita, também sou uma grande fã de música, então eu sinto que essa soma do texto falado com a imagem e o som causam um mix de emoções que envolve os telespectadores e consegue transmitir a mensagem de uma forma mais profunda e com menos ruídos.

NG – A infecção do seu pai por Covid-19 mudou sua forma de ver o mundo?

AN – Com certeza! Contei um pouco sobre isso no vídeo. Sou bastante sonhadora, estou sempre fazendo vários planos e projetos e, desde o início da pandemia, quando tudo parou, eu percebi que nem todos eles estavam ao meu alcance. Quando meu pai estava na UTI piorando cada vez mais, eu consegui enxergar um flashback de todos os nossos momentos juntos e comecei a refletir sobre diversos assuntos. Nós dois somos pessoas com pensamentos totalmente diferentes, discordamos em várias questões e, por isso, estamos sempre em atrito. Porém, ao refletir sobre isso eu senti que é exatamente esse fato que nos completa e que nos faz ter a certeza de quem somos e aonde queremos chegar. Nossas diferentes formas de enxergar a vida fazem com que a gente forme as nossas próprias conclusões com base em pensamentos adversos, afinal se todos pensassem igual não teriam novas lições e a vida perderia a graça. A partir dai comecei a escrever aquele texto e por fim fiz o vídeo.

NG – E a forma de ver o audiovisual, também mudou?

AN – Sempre enxerguei o audiovisual como uma forma de transição do meu mundo interno para o mundo externo. Meu principal objetivo nesse meio é conseguir tocar e ajudar pessoas através da minha arte. Quero propor reflexões, causar impactos e tocar os corações que precisam ser tocados. Também quero propor um espaço de identidades e identificações, onde as minhas criações funcionem como um espelho de almas.

NG – Como você traduziria em palavras o recado que o vídeo passa para as pessoas?

AN – A ideia que eu quis passar com o vídeo foi uma reflexão sobre o que fazemos com as nossas vidas, com as pessoas que entram nas nossas vidas, com o mundo a nossa volta e a confiança e certeza que depositamos no “amanhã”, visto que a natureza da vida é instável, mutável e imprevisível.

NG – E como você antevê o cenário do audiovisual nestes tempos de pandemia, com tudo praticamente parado? Há saídas?

AN – Esse cenário é difícil de antever, pois é uma situação nova e ela ainda está se alterando e se ressignificando ao longo dos meses. Com a tecnologia ao nosso favor estamos conseguindo lidar de uma forma melhor do que o esperado, pois existem filmes caseiros, feitos a distância, e documentários que retratam a situação atual. Além disso, o consumo do audiovisual cresceu muito com a pandemia, mas por outro lado muitas séries e filmes foram canceladas. Por fim, acredito que existam saídas sim, mas elas exigem adaptações e até nos acostumarmos com elas não será fácil.

3 COMENTÁRIOS

  1. Amor da minha vida, sem.Deus, a equipe médica e sem a família não estaria aqui fazendo esse comentário, obrigado pelo carinho Arê seu pai te ama muito.

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