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MULHER PRETA, NATÁLIA ENCONTRA NA POESIA CAMINHO PARA AMOR E AUTOCONHECIMENTO

Foto: Arquivo pessoal

Najla Passos
Notícias Gerais

A são-joanense Natália Vitória dos Santos, 21 anos, estudante de Psicologia da UFSJ, tem um passado parecido com o de outras muitas mulheres negras: cresceu em um mundo onde o amor é cantado por todos os cantos, mas sem jamais conseguir reconhecê-lo ao seu alcance.  “Ser mulher negra é viver num mundo que nos desconsidera, ignora nossas dores e necessidades”, afirma.

Se sentindo sozinha, incompreendida, decidiu colocar no papel tudo o que sentia. O resultado foi poesia pura; mas uma poesia cheia de dor. “Quando olhei a mim mesma naqueles versos, vi uma menina ingênua que pedia por socorro. Resolvi, então, fazer de mim mesma meu refúgio. Cansei de esperar que um outro me curasse”, questiona.

Assim nasceu a Natália escritora pulsante e forte. “Comecei, então, aqui por dentro. Passei a enxergar o meu amor como ferramenta de transformação. O amor é algo que reverbera: se você o cultiva, seu brilho reluz também em outros corpos, em outras vidas e outras histórias… amar é uma revolução!”, enfatiza.

Empoderada, ela descobriu a mulher preta e forte que, como ela mesma diz, faz questão de incomodar. “Em um mundo embranquecido, uma mulher negra que fala, que escreve e que ri, incomoda, pois esse nunca foi o espaço que nos foi reservado. Hoje me sinto mais viva e potente, solto os meus cabelos e me desabafo nos meus textos”, explica.

Ela conta que, no seu dia a dia, seus textos e poesias são suas companhias, são a forma como se encontra e se conecta com o mundo. “Não tenho medo de falar de sexualidade, de desejo e nem de problemas sociais… mulher preta é isso, é amor por dentro e por fora, merece o amor do mundo e a luz dos deuses”, justifica.

Nem sempre o resultado que sai no papel é agradável para ela. “Se conhecer é isso, né? Um processo onde encontramos muitos amores, mas também muitas feridas, que estamos aí pra curar, né? O importante é não ter medo de se olhar. No fim, estamos crescendo e sendo mais amor a cada dia”, avalia.

Foto: Arquivo pessoal

O amor é algo que reverbera: se você o cultiva, seu brilho reluz também em outros corpos, em outras vidas e outras histórias… amar é uma revolução!

Redes sociais e redes de afetos

As poesias de Natália ganham o mundo através das redes sociais: no Médium, no Facebook e no Instagram. E, nelas, ela se conecta com outras pessoas – universitárias ou não – que se reconhecem em seus escritos.

“Desde que entrei no processo de auto amor, me cerquei de pessoas que me inspiram, principalmente de mulheres, elas estão muito em minhas redes e isso me traz muita satisfação, percebo uma identificação e admiração ímpar por parte delas… no entanto o meu público é bastante variado, tenho percebido um interesse de pessoas fora do ciclo universitário e isso me deixa bastante feliz”, conta.

Com planos de publicar um livro, diz que ainda está no processo de pensar o conteúdo. E neste processo, se cerca de boas companhias. “Minha primeira e grande inspiração é Carlos Drummond de Andrade, devido sua grande versatilidade. Rupi kaur, Ryane Leão e Clarice Lispector também são grandes inspirações femininas”, conta ela.

“Gosto muito de literatura que promove reflexão a respeito do ser mulher e também livros que promovem reflexões sociais. Indico dois livros: Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola Estés, e o livro Mulher negra afetividade e solidão, de Ana Cláudia Lemos Pacheco”, conclui.

Conheça seus poemas:

O medo
pelo bem querer
se entrega à suculência
do desejo

fonte de amor
calor
e
clorofila

fluente
fui seiva

movimento
emoção
coração e identidade

do íntimo ao céu
do céu a planta do pé

por bem querer
desejo-te

– – – – –

E foi na palavra que me senti confortável
Não era mais eu perdido
Incompreendido
Era eu me lendo de novo pela manhã
Sabia que poderia ser do meu jeito
Mesmo que mudo o silêncio me calasse pelo medo
Sempre desejaria internamente dar ao amor a palavra
O mundo se fez meu sentimento
E mesmo que grande e apavorado
É tudo que eu tenho
Um coração e uma palavra
E mesmo que eu chore
E que meu amor não seja acolhido em outros mundos
Seguirei vivendo
Com as luzes acesas
A escrever meu bem e minha história

– – – – – –

Vamos de cor amor

É minha liberdade que me define
Meus sonhos são despidos
E me levantam do mar ao céu
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Quando fecho meus olhos enlouqueço
Minhas derretidas são frescas e intensas
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Não tenho medo do estranho
Meu sonho é forte
Coisa de preta

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