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POR TRÁS DAS ESTATÍSTICAS, SAUDADE – DONA MARIINHA, A BARBACENENSE QUE COMPLETARIA 92 ANOS, SE NÃO FOSSE A COVID-19

Foto: Ana Márcia Lopes

André Frigo
Notícias Gerais

Hoje seria um dia perfeito para as pessoas conheceram o lado alegre e comunicativo de Maria Izabel de Assis Saraiva, ou melhor, Dona Mariinha, que era como todo mundo a chamava. Se Mariinha não tivesse perdido a batalha para a Covid-19, estaria completando 92 anos nessa sexta (10).

Saber lutar e vencer as adversidades que foram surgindo em sua vida era uma das principais característica dessa caçula entre quatro irmãs. Nascida em 1928, na Fazenda da Fogueira, localizada no munícipio de Caranaíba, a filha de Abelart Ferreira de Assis e Rita de Assis Souza, ela herdou do pai o lado comunicativo. “Muito falante, muito amiga. Era uma pessoa excelente”, relembra sua nora Graça Rezende.

Após o casamento com José de Souza Rezende, foi com ele residir na cidade de Barbacena. Lá nasceram os três filhos, Osmani, José Maria e Sônia. O começo foi difícil, exigiu coragem e disposição dessa guerreira – como os parentes a definem. Excelente cozinheira, fazia salgados para festas e costurava para fora como forma de garantir o sustento dos filhos.

“Uma pessoa batalhadora, no princípio da vida tiveram muita dificuldades, dificuldades da própria vida, para criar os filhos. Sempre muito batalhadora, correu atrás das coisas dela, uma pessoa vencedora, de grande sucesso”, afirma Graça.

Porém, a vida iria colocar à prova a disposição para luta e a forma de encarar a vida dessa barbacenense de coração. Ela ficaria viúva quando José foi atropelado perto da casa onde residiam. Na sequência, perderia o filho José Maria, quando ele tinha dezoito anos e faleceu vítima de problemas congênitos no coração. Em seguida Sônia, a caçula, não resistiu a um câncer e morreu aos 22 anos.

Sua disposição para viver não a deixou desistir. Casou-se novamente com Gumercindo Saraiva Filho. Viveram bem: ele trouxe, além de afeto, estabilidade financeira. Mas novamente a vida resolve testar Mariinha, e Gumercindo faleceu após lutar contra um câncer. Nesse momento, ela temeu pela própria sanidade. Sua nora conta que quando Mariinha se viu sozinha, ela dizia buscando um caminho: “Eu não posso ficar doida. Preciso colocar minha cabeça no lugar”.

“Guerreira, enterrou dois filhos, enterrou dois maridos. Podia ter desistido, mas estava sempre sorrindo. Namoradeira até o fim da vida, ela vivia o hoje como se não houvesse amanhã”, nos conta sua sobrinha Ana Márcia Assis Correia Lopes, para quem Mariinha foi sua segunda mãe.

“Guerreira, enterrou dois filhos, enterrou dois maridos. Podia ter desistido, mas estava sempre sorrindo. Namoradeira até o fim da vida, ela vivia o hoje como se não houvesse amanhã”

Ana Márcia, sobrinha

E foi a forma como Mariinha enfrentou os reverses da vida que marcou todos que conviveram com ela. Mesmo tristes com a morte, seus parentes transmitem tranquilidade quando falam sobre ela. “Era muito alegre e comunicativa. Todo mundo gostava dela. Conhecida todo mundo. Gostava de fazer tricô, costurava, era bem versátil. Pessoa muito marcante”, nos diz seu filho Osmani.

Ana lembra que a tia tinha seus momentos de rabugice, mas até nesses momentos Mariinha conseguia imprimir sua marca. “Era uma ranzinza maravilhosa, era doce. Ficava brava principalmente quando alguém resolvia conversar durante sua novela. Aí xingava todo mundo”, lembra.

Há pouco tempo visitou Dinah, sua última irmã ainda vida e que já completou 95 anos. Um encontro de mulheres que desafiavam a vida e pareciam desconhecer que ela teria um fim. Nos últimos sete anos morava com o filho Osmani, em Brasília, após ser diagnosticada com Alzheimer. Nem assim perdeu uma de suas características. “Mesmo com Alzheimer, ela não perdeu o gosto pela conversa. Quando sentava perto de alguém, puxava papo e a conversa ia embora”, recorda Osmani.

“Mesmo com Alzheimer, ela não perdeu o gosto pela conversa. Quando sentava perto de alguém, puxava papo e a conversa ia embora”

Osmani, filho

Uma batalha lutada sozinha

A última batalha dessa pessoa que cativava todos que a conheciam, que gostava de uma boa conversa e era boa companhia, foi lutada sozinha. Internada no dia 25 de maio para tratar de uma inflamação na vesícula, contraiu o novo coronavírus. A partir desse momento não pode mais receber visitas. Entubada, lutou até o dia 12 de junho quando veio a falecer.

A “namoradeira de Barbacena”, como sua sobrinha gostava de brincar com ela, parece que escolheu o dia dos namorados para o final desse enredo. Deixou dois netos, uma bisneta e as melhores lembranças que seus familiares e amigos poderiam ter.

Mariinha sabia sorrir para vida.

Uma série especial

A série especial Por Trás das Estatísticas, Saudade é produzida pela equipe do Notícias Gerais para homenagear as vítimas fatais do novo coronavírus, bem como ressaltar que, apesar da presença rotineira de números relacionados a casos confirmados e óbitos, esses algarismos representam mais que isso: são vidas… são histórias.

Todas as imagens e informações presentes foram cedidas por membros das respectivas famílias.

Caso você seja familiar de alguma vítima e queira prestar essa homenagem, entre em contato com a reportagem do NG pelo WhatsApp (32) 9 8508-4646, Instagram ou Facebook ou pelo e-mail redacao@noticiasgerais.net.

2 COMENTÁRIOS

  1. Minha amiga do coração, a querida Dona Mariinha, despediu-se da vida para ficar em nossa lembrança , com saudade imensa. Sinto tanto sua falta! Lembro- me do seu riso espontâneo , de suas estórias de vida, sérias ou engraçadas. Ficávamos às vezes a desfilar suas lembranças, tão ricas de luta, alegria de viver, momentos dolorosos e dias felizes. Que falta sinto de você, minha amiga. Siga sua jornada na eternidade sem esquecer do nosso amor .

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