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LEITORES ELENCAM POSSÍVEIS MOTIVOS PARA NÚMERO DE MORTES POR COVID-19 EM SJDR; ESPECIALISTAS AVALIAM CENÁRIOS

Cemitério de São Gonçalo Garcia (Foto:André Frigo)

Kamila Amaral e Arthur Raposo Gomes
Notícias Gerais

Até a manhã desta quarta (12), São João del-Rei registra 13 vítimas fatais da Covid-19. É a cidade com mais óbitos, pela doença, entre municípios que compõem a Macrorregião Centro-Sul de Saúde.

O Notícias Gerais perguntou aos leitores, por meio das mídias sociais, há quê motivo eles atribuem este triste número de óbitos. As respostas variaram entre falta de cuidado da população, situação da cidade como ponto turístico e histórico mineiro, falta de medidas mais efetivas impostas pelo poder público e outros.

O não cumprimento das medidas de segurança como uso de máscara, álcool gel e distanciamento social, por parte da população, foi uma das respostas mais frequentes. “Porque as pessoas não se cuidam, mesmo com tantas informações”, disse um leitor. “Porque a população não tá nem aí e ainda colocam culpa em asfalto. Affs! O povo que é irresponsável. Não adianta jogar a culpa para ninguém, pois cada um tem sua parcela de culpa”, opina outro.

A maneira como a administração municipal lida com a pandemia de Covid-19 também foi elencada como um dos motivos para o alto índice de mortes. “Porque tudo por aqui se resolve com asfalto!”, ironiza um seguidor do NG. “Porque temos um sistema de assistência à saúde péssimo há anos! Aqui, se não pagar, morre mesmo”, acredita outro morador.

Mas as ações das outras instâncias de governo também foram citadas. “Porque faltou cuidar dos doentes, na Fase 1, com o Protocolo do Governo Federal”, pontua um leitor. Outros indicam os turistas e visitantes como principais vetores de transmissão do vírus. “Porque todo mundo de fora entra aqui”, alega uma pessoa. “Total populacional, padrão habitacional de inúmeros bairros, cidade turística, falta de cuidados pessoais de parcela da população, etc”, enumerou outro leitor.

Houve quem disse que “as cidades históricas concentram um grande número de idosos e pessoas com comorbidades”; e também surgiram os negacionistas: “quase 4 meses pandemia, acidente trânsito na BR 265, quase parada e região nossa matou mais que Covid-19. Sem falar de mais de 30 óbitos por outras doenças, no período (da) pandemia”, foi um dos comentários. E seus respectivos críticos: “por causa de pessoas como essas que responderam aqui negando a existência da doença ou não sentindo culpa porque foram ‘idosos’ que morreram”, enfatiza uma seguidora.

Como os especialistas avaliam

Para o médico infectologista Herbert Fernandes os dados devem ser analisados levando em consideração a forma como a Covid-19 tem se comportado em cada território. “Se a gente for fazer uma comparação com o número de proporção de habitantes, por mais que (em São João del-Rei) seja um quantitativo de mortes um pouco maior, a nossa Macrorregião de Saúde, como um todo, tem uma das menores taxas de óbito e de ocupação de leitos do estado”, ressalta o infectologista.

Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil

Fernandes atribui os resultados da macrorregião aos investimentos e preparos feitos para enfrentar o coronavírus: tanto na compra de equipamentos quanto na capacitação das equipes de saúde. “Quando a gente vai analisar friamente os dados, quando a gente observa o que era esperado, a taxa de mortalidade na região é de 1,19% e a taxa de letalidade do estado é 2,1%”, destaca o médico.

Mesmo que cada morte seja uma tragédia e deva ser sentida como tal, o infectologista avalia que mesmo que o fato de São João del-Rei ter mais mortes que cidades maiores possa gerar estranhamento e preocupação, “os números são satisfatórios” quando considerado o cenário atual.

Devido a falta de estudos voltados para esse tema específico, Fernandes defende que qualquer resposta para “porque São João del-Rei tem mais mortes que cidades maiores?” é opinativa. Sendo assim, o infectologista não acredita que os visitantes possam ser uma das causas para o maior número de mortes, uma vez que “em março a gente teve freado o mercado turístico, que está voltando só agora”, acredita.

Segundo ele, apesar das cidades de interior agruparem, historicamente, uma quantidade maior de idosos, esse também não parece ser um fator decisivo no caso. “Em São João del-Rei a taxa de distribuição de casos se concentra na faixa etária entre 30 a 59 anos, então é muito difícil ter relação com o número de idosos”, rebate.

Sobre os índices epidemiológicos em São João del-Rei, a professora do curso de Medicina da UFSJ e vice-presidenta da Seção Sindical dos Docentes da UFSj (Adufsj), Ana Pimentel, também elenca um cenário: São João del-Rei é um município de médio porte e com alta rotatividade de pessoas, já que é uma cidade mineira turística e polo microrregional de Saúde, ou seja, continuou recebendo pacientes de outros municípios vizinhos durante a pandemia.

Na semana em que o Brasil atingiu o número de 100 mil vidas perdidas para a doença, a médica reforça: “cada pessoa que morreu pela Covid-19 deve ser lembrada… as suas famílias devem ser respeitadas e acredito que uma maneira de honrar a memória dessas pessoas é dizer: essas mortes poderiam ter sido evitadas se o país tivesse adotado – nesse caso, responsabilidade do Governo Federal – a coordenação de medidas que protegessem a vida das pessoas”.

Em julho, um levantamento feito pelo Tribunal de Contas da União indicou, entre outros fatores, “baixa execução do orçamento destinado a ações de combate à Covid-19” por parte do Ministério da Saúde, conforme publicado pela assessoria de comunicação do TCU.

“O Brasil é um exemplo internacional de enfrentamento a outras epidemias anteriores e toda essa inteligência e prática acumulada antes poderia ter sido acionada agora. Além de não ter sido utilizada, o que o Governo Federal tem feito é silenciar e negligenciar práticas do Sistema Único de Saúde (SUS)”, avalia Ana.

Sobre o “Minas Consciente”

Pimentel lembra que a estratégia adotada pela Prefeitura de São João del-Rei foi por aderir ao programa “Minas Consciente”, desenvolvido pelo Governo de Minas. “Toda epidemia exige uma coordenação de vários municípios para que se enfrente a situação epidemiológica”, confirma a docente, que faz críticas à iniciativa estadual.

“É um programa muito deficitário e com equívocos sérios: por exemplo, o ‘Minas Consciente’ se baseia, quase exclusivamente, na lógica de abertura e fechamento de comércio. Mas não está articulado com uma coordenação do equipamento de saúde do governo estadual, da rede assistencial, e do Estado como um todo”, pondera. Assim, na visão de Ana, o governo do Estado deveria ter assumido essa gestão que não ocorreu – o que fez com que os municípios procurem, isoladamente, insumos para prevenção e tratamento da doença.

Nesse contexto, a médica cita algumas realizações da prefeitura, em parceria com a UFSJ: “por exemplo, a articulação da atenção primária à saúde (os postos de saúde), para atender parte da população que apresente sintomas suspeitos”.

Apesar disso, ela enxerga que a administração municipal foi “pressionada por setores da sociedade à abertura do comércio em momentos epidemiológicos em que a curva era muito ascendente”. “E quando a gente acompanha o momento de abertura mais incisiva do comércio e a curva de crescimento epidemiológico, percebemos que elas acontecem ao mesmo período, estão sintônicas”, completa.

Em maio, uma carreata chegou a ser promovida para pedir a reabertura de parte do comércio.
(Foto: João Pedro Justino)

O que diz a administração municipal

Segundo a enfermeira-chefe do setor de Epidemiologia de São João del-Rei, Eliene Freitas, o número de mortes tende a subir com o aumento no número de infectados pelo coronavírus. Mas ele argumenta que a Secretaria Municipal de Saúde tem intensificado as medidas de prevenção.

“Observamos que esses óbitos estão muito associados a algumas outros fatores, como comorbidades. A gente ainda não teve fatalidades em pessoas sem registros de comorbidades”, enfatiza.

Freitas ressalta também que o sistema local de Saúde tem se mobilizado para garantir a todos a assistência necessária, “desde a ponta… desde o primeiro atendimento”, informação que é atestada pela professora Ana Pimentel. No entanto, a conscientização da sociedade ainda precisa ser aprimorada para não haver saturação do sistema de Saúde.

“Está organizado de uma forma que, cada um fazendo a sua parte, todos terão seu atendimento de forma adequada e oportuna. Mas se não houver comprometimento de todos, não tem lugar no mundo. Até mesmo grandes potências que lamentaram grandes perdas. Existem situações que eu tenho que cuidar da minha saúde”, frisa a enfermeira Eliene.

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