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AMEAÇAS DE MORTE A JORNALISTAS SÃO PICHADAS EM MUROS DE BH; ORGANIZAÇÕES MOSTRAM PREOCUPAÇÃO

Imagem: arquivo pessoal

Carol Rodrigues
Notícias Gerais

Diversas ameaças de morte aos profissionais da imprensa foram pichadas em muros de Belo Horizonte, nessa quinta (14): “jornalista bom é jornalista morto” e “colabore com a limpeza do Brasil, mate um jornalista, um artista, comunista por dia” eram algumas das frases escritas. O Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais está preocupado com o crescimento dos ataques. 

As frases com referências ao assassinato de jornalistas foram pichadas em tapumes que cercam o Hospital das Clínicas, localizado na Avenida Professor Alfredo Balena, na capital mineira.

Depois de receber a denúncia, a presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Alessandra Mello, foi até o local e tampou as ameaças com dizeres de apoio e respeito à classe.

Os cartazes com frases do tipo “jornalista bom é jornalista vivo”, “jornalista bom é jornalista que incomoda” e  “respeite a liberdade de expressão” foram colados em cima dos ataques.

“Isso é um ataque não só para a categoria, mas para a democracia e para a população no geral. A população tem o direito à informação clara, transparente, concisa e de qualidade, principalmente num momento desse”, diz Alessandra Mello, indignada, que indica que um estabelecimento do outro lado da rua possui câmera de segurança, cujo as imagens ficam guardadas por 10 dias. No entanto, as gravações só podem ser entregues com determinação judicial ou policial.

Vídeo: reprodução

Denúncia

Um boletim de ocorrência (B.O.) foi registrado e a polícia já está acompanhando o episódio. Wagner Sales, chefe do 1º Departamento de Polícia Civil da Capital, confirma que “é um crime que atinge uma classe de trabalhadores e pode atingir, dependendo da repercussão, a própria democracia”. De acordo com ele, a polícia fará o possível para resolver o caso, incluindo requisitar imagens de vigilância. 

Além do registro do B.O. , de acordo com Alessandra Melo, “o Ministério Público também nos procurou dizendo que vão acompanhar de perto a apuração”.  

Aumento dos casos

O Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais está preocupado com o aumento do número de ameaças e agressões aos jornalistas. De acordo com a presidente, após a pandemia, houve um aumento significativo da quantidade de denúncias. 

“Só nesse período do confinamento, da pandemia, nós registramos quatro casos”, relata Alessandra Melo. Ela cita uma intimidação agressiva a jornalistas no dia 1º de maio e também em uma carreata a favor do fim do isolamento social, na qual os profissionais foram expulsos do local.

A presidente também recorda o caso que viralizou nas mídias sociais, quando uma repórter da Rede Globo foi filmada e xingada ao fazer uma gravação em uma avenida movimentada. O último caso registrado foi o da ameaça de morte nas pichações. 

“Só nesse período do confinamento, da pandemia, nós registramos esses quatro casos”

– diz Alessandra Melo, presidente do Sindicato dos jornalistas de Minas Gerais

“A gente sempre recebe, infelizmente, denúncia de ataques contra jornalistas: nas redes sociais… quando são mulheres, ataques machistas […], isso tem sido uma constante. Mas nunca aconteceu, em um período tão curto de tempo, (tantos) casos como esses”, expõe. 

De acordo com ela, esses atos agressivos de ataque à liberdade de imprensa são legitimados pelas atitudes do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). “Se o maior representante do Brasil fala com tanta desenvoltura, dá banana, manda calar a boca e faz piadinha de cunho sexista com mulheres jornalistas, ele acaba respaldando o cidadão comum para fazer a mesma coisa”, opina. 

Para a jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de São João del-Rei, Luciene Tófoli, o ataque aos jornalistas na capital mineira não é um acontecimento isolado, mas um reflexo de um Brasil dividido pelas fake news e pela imprensa séria, comprometida em levar informação às pessoas. 

“Hoje em dia, a grande imprensa tem trabalhado muito, tem sofrido muito e eu ainda acredito que seja o último grande reduto da verdade nesse país”, defende Luciene. Além disso, a docente acredita que os ataques aos profissionais são, sobretudo, ataques contra a pátria e contra a verdade.

Cenário se repete no país

O Brasil é o 6º país mais perigoso do mundo para a prática jornalística, de acordo com relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Entre 1995 e 2018, 64 profissionais de imprensa foram mortos no país. 

Celso Bejarano, jornalista há 30 anos, atuou no Mato Grosso do Sul, onde viu de perto a violência contra profissionais da imprensa. Na cidade de Campo Grande, um jornalista foi fuzilado numa padaria de classe média. Em Cuiabá, registrou o assassinato do dono de um jornal. Na fronteira, quase todos os anos, há históricos de violência contra jornalistas que são mortos em casa ou na rua. 

“Desses crimes que contei a gente sabe bem qual o motivo: profissionais que são mortos porque noticiaram alguma coisa relacionada a máfia, a organizações criminosas, bandidos”, relata Celso, que hoje exerce a profissão em Brasília. 

O Brasil é o 6º país mais perigoso do mundo PARA A PRÁTICA JORNALÍSTICA, de acordo com a Unesco

Na visão de Bejarano, o cenário se repete na capital do país: são vários registros de profissionais sendo agredidos e intimidados, principalmente em manifestações a favor do presidente da República ou contra o isolamento social recomendado por causa da pandemia de Covid-19. “O jornalista não tem que precisar se proteger, jornalista não tem que aprender tática de guerra”, defende.

“A questão é que no momento eles (manifestantes) acham que tudo o que os jornalistas fazem está ligado a uma questão política, sendo contra uma determinada corrente política, o jornalista tem sido odiado e agora até mesmo ameaçado”, relata Celso Bejarano. 

Na visão do profissional, os ataques aos jornalistas têm se intensificado. Ele relata que, em um ato pró-Bolsonaro, em Brasília, chegou para fotografar e estava com medo: “tava com medo de entrevistar, eles perguntam para qual jornal você trabalha e o que vai escrever, eu não ouvia isso a muito tempo, décadas”, lembra.

Em Brasília, situação preocupa Sindicato

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) tem cobrado medidas mais efetivas para a proteção da classe. Em nota, o sindicato revela que “parte dos apoiadores do presidente da República que frequenta o local (o Palácio da Alvorada) tem agredido, quase todos os dias, verbalmente, com xingamentos, e feito intimidações aos jornalistas”. 

O SJPDF, buscando proteger os profissionais, entrou com um pedido urgente no Gabinete de Segurança Institucional, na Secretaria de Governo e na Secretaria Especial de Comunicação Social.

Entre as medidas exigidas, estão a instalação de câmeras de segurança na entrada de locais movimentados e a criação de entradas diferentes para apoiadores e jornalistas. O sindicato também pede que os apoiadores não entrem na sala destinada à imprensa e que ocorra o banimento do acesso àqueles que agredirem – física ou verbalmente – profissionais de imprensa.

No comunicado, o SJPDF ainda diz que “caso providências não sejam tomadas, o Sindicato estuda outras medidas possíveis, inclusive judiciais”.

Fenaj se pronuncia sobre o caso de BH

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) se manifestou a respeito dos atos de ameaça à vida dos profissionais de imprensa em Belo Horizonte. De acordo com Antônio Paulo, integrante da Diretoria Executiva da Fenaj, o órgão repudia e denuncia todo ato de violência verbal, física, ameaça ou intimidação. 

A Fenaj “manifesta solidariedades aos profissionais mineiros agredidos, neste ato covarde. Conjuntamente com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, exige que as autoridades públicas, a polícia e o Ministério Público, apurem os fatos ocorridos e a Justiça puna os culpados”, declara Antônio Paulo. 

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