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ARTIGO: ENTRE TACOS E BOLEROS, O COTIDIANO DE UMA INTERCAMBISTA BRASILEIRA NO MÉXICO

Pachuca de Soto, capital do estado de Hidalgo, no México. Foto: Alícia Antonioli

Alícia Antonioli *

O intercâmbio estudantil é um sonho para muitos. Para mim, viver fora do Brasil era um desejo antigo, apesar da minha pouca idade. Com mãe turismóloga e pai estrangeiro, não sei se teria como ser diferente. O principal objetivo disso: me relacionar com pessoas de realidades diferentes da minha, aprender outras perspectivas de mundo, conhecer  costumes e tradições de outros povos.

Pensando assim, consegui uma bolsa através da Universidade Federal de São João del-Rei e vim parar no México. Especificamente na cidade de Pachuca de Soto, capital do estado de Hidalgo. Aqui as pessoas são acolhedoras, educadas e muito gentis. Querem que você prove as comidas e bebidas locais, conheça os principais pontos turísticos da região, te apresentam os amigos e te levam para almoçar na casa da família… Recebem estrangeiros como ninguém.

Eis que após dois meses chega a pandemia. As aulas presenciais de escolas e universidades são suspensas, os mariachis já não têm festas para tocar, as senhoras que vendem cestas de palha e os ambulantes com comidas de rua ficam à deriva. O movimento diminui, lugares fecham as portas, universitários voltam para seus “pueblos” e o cenário muda.

“As aulas presenciais de escolas e universidades são suspensas, os mariachis já não têm festas para tocar, as senhoras que vendem cestas de palha e os ambulantes com comidas de rua ficam à deriva”

Desde o dia 20 de março, estudantes de todo o estado só têm aulas online. A previsão de volta às atividades era dia 21 de abril, depois 4 de maio, agora o semestre será finalizado via internet – no México, o período letivo começa em janeiro e termina no fim de maio ou início de junho.

Alícia (a segunda da esquerda para a direita) com amigos intercambistas de várias nacionalidades.
Foto: Arquivo pessoal

Tudo isso gera uma insegurança sem precedentes na vida de uma intercambista. Assim como eu, há chineses, espanhóis, argentinos, tchecos e chilenos cheios de dúvidas: “Volto para casa correndo o risco de me contaminar e contaminar minha família no meu país? Ou fico aqui isolado em casa e tento continuar o intercâmbio?”; “Será que eu vou conseguir voltar pra casa quando o prazo do intercâmbio e a bolsa acabarem?”.

A situação no México não é tão diferente da brasileira. O presidente levou o início das contaminações na brincadeira, ainda há muitas pessoas passeando pelas ruas, o comércio de produtos não essenciais segue aberto em diversas zonas e quando a quarentena oficial começou, pessoas aproveitaram para viajar a Acapulco – balneário conhecido pelos brasileiros por conta de um episódio da série “Chaves”. Mesmo assim, optei por ficar. É triste dizer isso, mas me sinto mais segura aqui do que no Brasil atualmente.

“tenho esperanças de que se nos mantivermos em isolamento e seguirmos as indicações da Organização Mundial da Saúde, conseguiremos vencer a pandemia e eu voltarei para casa sem medo”

Como barrar a monotonia longe da família e dos amigos

Ficar longe de quem a gente ama não é nada fácil, mas tento ver o lado bom das coisas, por mais clichê que isso soe. Tenho estudado sobre a cultura mexicana, escutado muitas canções clássicas do país e visto filmes e documentários produzidos aqui. Além disso, a Secretaria de Cultura de Hidalgo disponibilizou oficinas, aplicativos, cursos, materiais digitais e audiovisuais para manter a população longe do tédio.

Sigo tendo aulas e atividades que me mantêm ocupada na maior parte do tempo. Mas quando a saudade aperta, o Whatsapp e Skype encurtam a distância e as videochamadas acontecem por horas. Apesar de tudo, tenho esperanças de que se nos mantivermos em isolamento e seguirmos as indicações da Organização Mundial da Saúde, conseguiremos vencer a pandemia e eu voltarei para casa sem medo.

*É estudante de Comunicação Social/UFSJ e intercambista na Universidad Autónoma del Estado de Hidalgo, estuda questões de gênero e cultura no jornalismo. Carioca, vive em São João del-Rei há 10 anos. Instagram: @antoniolialicia

2 COMENTÁRIOS

  1. Que texto fofo. Obrigado, Alícia. Fique bem e mande mais notícias. E não vá para Acapulco. Bjs

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