André Frigo
Notícias Gerais
No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, data criada para destacar como é importante que a profissão de jornalista possa ser exercida em sua plenitude, a notícia que vos trago não é das melhores. O Brasil caiu três posições no Ranking Mundial de Imprensa e ocupa agora a 105ª posição em uma lista de 180 países mais seguros para se exercer essa profissão sem medo. O ranking é elaborado anualmente pelos Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
A queda coincide com a eleição de Jair Bolsonaro para presidente, depois de uma campanha acirrada e muito polarizada. Desde então Bolsonaro e seus adeptos têm feito ameaças e ataques sistemáticos à imprensa. Grupos criados nas redes sociais fazem assédio digital, difamam, ameaçam e perseguem jornalistas e órgãos de comunicação.
Essas perseguições e ameaças se dão no dia a dia do trabalho desses profissionais. Relatos de agressões verbais e físicas a repórteres enquanto exercem seu ofício nas ruas estão cada vez mais comuns. Só para registrar, nessa última sexta-feira (1), um cinegrafista foi atingido com um murro enquanto cobria o depoimento de Sérgio Moro na Polícia Federal (PF) após ser confundindo como funcionário de uma emissora de televisão. E neste domingo (3), repórteres foram agredidos em Brasília enquanto cobriam uma manifestação pró-Bolsonaro.
Como não podia deixar de ser, a situação brasileira é um espelho do que já vinha ocorrendo nos Estados Unidos da América desde a chegada ao poder de Donald Trump. O clima para os jornalistas que trabalham nos EUA ficou mais hostil – inflamado pelo postura do presidente americano e seu permanente confronto com a imprensa. Não é por nada que o país também desceu três pontos no ranking e ocupa o 48º lugar na lista. Trump tenta a todo custo desviar a atenção dos seus desvios de conduta enquanto presidente dos norte-americanos.
Em alguns países, o ataque à liberdade de imprensa vem de grupos armados ou do crime organizado – muitas das vezes com a conivência ou o apoio de autoridades políticas. Como é o caso do México que está na parte de baixo da lista, ocupando o 144º lugar, o que o deixa com o título de “país mais letal para os meios de comunicação”, segundo o RSF. Em 2019, o país liderou a macabra contabilidade de 10 jornalistas mortos durante o ano. Já em janeiro de 2020, Rafael Murua Manríquez, diretor da rádio comunitária ‘Kashara’, foi sequestrado e morto. Ao todo, no mundo, no ano passado, foram assassinados 39 profissionais da mídia.
Vem do México também um exemplo de como os ataques à liberdade de imprensa podem vir de esferas oficiais ou de instituições privadas. O país tem dois grandes grupos de mídia, a Televisa e a TV Azteza, que dominam os meios de comunicação e sufocam os veículos de comunicação comunitários. O Brasil vive algo semelhante, onde as indústrias midiáticas estão nas mãos de oito famílias – que se organizam para impedir o surgimento de outras vozes no jornalismo.
Por isso, iniciativas como a do Notícias Gerais têm de ser incentivadas e apoiadas por serem independentes e serem um canal que pode dar voz a uma parte da sociedade e regiões, geralmente esquecidas pelos gigantes da mídia.
Enquanto regimes totalitários – ou com tendências opressivas – tentam sufocar os meios de comunicação, países democráticos que prezam pela liberdade de opinião estão no topo da lista do Ranking Mundial da Imprensa. Noruega em primeiro, Finlândia em segundo, Suécia em terceiro são exemplo disso. Ganhou destaque a melhora do quadro no continente africano. Exemplo disso é a Etiópia que subiu 40 posições e chegou ao 110º lugar e Gâmbia que chegou ao 92º após ultrapassar 30 países.
Respeito pela linha editorial, democratização dos meios de comunicação, pluralidade de vozes, possibilidade de denunciar escândalos políticos e financeiros só é possível com uma imprensa livre.
E a liberdade de imprensa é a garantia da sua liberdade.