Por Douglas Caputo*
Galinha que cacareja sem parar é porque tá choca. Nós, os mineiros, sabíamos bem o que era isso. Mas, como hoje, pintinho é filho de chocadeira, não ouvimos mais a tagarelice das poedeiras no quintal de casa.
Parece que não é essa a percepção do governador Romeu Zema (Novo), já que ele anda ouvindo, e muito bem, por aí. Além de ouvir, Zema decidiu também cantar de galo.
É que o empresário-governador trepou no poleiro e amanheceu a última terça (7) com melodia dramática para o funcionalismo público de Minas.
“Peço desculpas. Não é por uma decisão deliberada que estamos deixando de pagar. É porque, infelizmente, o recurso não existe. Temos de pagar na hora que o recurso entra no cofre”, afirmou o governador em entrevista ao Estado de Minas.
E não é que o cofrinho avolumou?! Em reunião com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) quinta passada (09), em Brasília, Zema chegou com o pires na mão e voltou com uns bons trocados no bolso.
O suficiente para anunciar o pagamento, na próxima quarta (15), de uma parcela do salário de servidores ameaçados de não receber. Até então, só funcionários da Segurança e Saúde já estavam com o seu garantido.
Reza a lenda que tocaia é invenção de mineiro. Até parece que Zema estava de butuca, esperando o desquite oficial de Bolsodoria para ciscar no terreiro de Brasília. Será que o casal Bolsozema vai vingar? Se vingar, um brinde a eles, com cloroquina, é claro.
Mesmo porque o coronavírus deve embarcar nessa lua de mel. Em videoconferência quarta passada (8), o governador resolveu, digamos, socializar o micro-organismo, agora com trânsito livre para turistar pelas Alterosas.
“Pequena pátria”
Na época em que prosa e verso eram bons, o planger do violão vibrava a “Pátria Minas” no belo-horizontino Santa Tereza. Da década de 1980 pra cá, a memória do Clube da Esquina virou um quadro na parede, uma placa comemorativa desapercebida na capital.
Não só por conta do Corona, mas por vários patógenos que adoeceram o Estado, já agonizante desde a gestão do então governador Fernando Pimentel (PT). Mas, o golpe de misericórdia veio com a política econômica neo, ultra, pós-liberal de Zema.
O perigo iminente de corte de salários e a demora do governador, relatada por prefeitos, em dar uma resposta à pandemia ratificam que atual gestão mineira transformou a “pequena pátria” em algo ainda muito menor, uma Miniarquia.
O conceito original define que, no miniarquismo, o Estado deve apenas garantir segurança física e jurídica à população, já que a economia cuidaria do resto. Ora, com essa história de Corona com passaporte, a teoria precisa ser atualizada.
Dizem por aí que as galinhas derrubaram os porcos e já capitaneiam a “Revolução dos Bichos”. Tão tiranas quanto os suínos, elas racionaram o milho, terceirizaram granjeiros e vão privatizar Ovobras.
Comunas do pau oco, essas aves de ovo virado são, na verdade, liberais em pele de cordeiro. Cuidado com a próxima omelete que comer, ela pode estar contaminada com a gripe aviária, uma conspiração na época de rupturas dentro de rupturas.
*É jornalista, mestre em Letras e professor do curso de redação SOU1000.