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ARTIGO: PÃO E CIRCO NO PLANALTO CENTRAL

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

André Frigo
Notícias Gerais

A polícia cercou os dois acampamentos. Estava ali para cumprir ordens do governador para desmanchar as barracas e remover seus ocupantes. Eram seis horas da manhã desse sábado (13) e a maioria dos acampados ainda dormia quando a ação começou. Os policiais entraram desmanchando as barracas e expulsando seus ocupantes. Vários foram pegos de surpresa, pois ainda dormiam. Os que resistiram receberam jatos de spray de pimenta enquanto gritavam palavras de ordem ou cantavam trechos do Hino Nacional. Ninguém se feriu ou foi preso.

A cena não aconteceu em um acampamento do Movimento dos Sem Terra ou outro movimento social. Os acampamentos citados eram de simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e já estavam a quase um mês instalados na Esplanada dos Ministérios. O lugar era estratégico, pois ficava perto do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), locais onde vira e mexe os manifestantes fazem protestos tidos como antidemocráticos.

Nos vídeos que circulam pela internet é possível ver a ação policial que, comparada a outras retomadas de posse pelo país, beira a delicadeza. Os sprays de pimenta são lançados de uma certa distância nos poucos que ainda resistem ao desmanche. Os manifestantes com suas inconfundíveis camisas amarelas protestam enquanto suas barracas são desmontadas. Nenhum é agredido fisicamente, não se escutam bombas de efeito moral, não são disparados tiros de borracha.

A partir de determinado momento, a confusão ideológica toma conta dos atônitos despejados. Entre um refrão do Hino da Independência e uma oração do Pai Nosso, surgem gritos de “comunistas!” direcionados a polícia, aos bombeiros e aos operários que atuam na operação. O governador do Distrito Federal e os magistrados do STF são rotulados de fascistas por um militante determinado a morrer pela causa. Gritos histéricos e uma mulher ajoelhada implorando para que não levem tudo que eles tem completa a cena.

Não deixa de ser interessante que os manifestantes que adoram pedir a intervenção militar, a volta do AI-5 e que clamam pela ditadura, fiquem revoltados quando se deparam com algo parecido com ela. Eles são a confirmação de que spray de pimenta nos olhos da oposição é refresco. E isto sem sentir na pele nem um centésimo do que uma ditadura pode fazer com alguém que ela considera inimigo. E isso sem mandato judicial ou prova.

À noite os ocupantes dos acampamentos se uniram a outros manifestantes e atacaram o STF com fogos de artifício sob o olhar complacente da polícia – que na parte da manhã eles intitularam de comunista.

É verdade que os números de pessoas nesses protestos que ferem a regra democrática vem diminuindo, mas ao mesmo tempo vem aumentando o radicalismo do seus discursos.

Esse fanatismo é alimentado pelo presidente da República que necessita desta base eleitoral para se equilibrar na corda bamba que se tornou seu mandato. Enquanto sua trupe se mantêm ocupada atacando as instituições democráticas, Jair negocia – sem crise de consciência – com o até então famigerado “Centrão”. Pratica o “toma lá, dá cá” com o grupo político que há anos é o fiel da balança da política nacional. Os seus correligionários, Bolsonaro também repete uma velha receita que funciona bem nas terras tupiniquins. Oferece pão e circo.

Enquanto esse show de horrores desfila pelo picadeiro, no Brasil, a Covid-19 já matou mais de 40 mil pessoas e segue em ritmo alucinante rumo a outros recordes macabros. A economia, que navega em águas turbulentas, sente a falta de quem promova políticas públicas eficientes e sem hesitação.

No entanto, da plateia – antes inerte, que somente assistia a pantomima, surge a reação que os atuais ocupantes do Palácio da Alvorada não desejava. Estão se unindo e indo para as ruas defender a democracia. E ironia da ironias, um presidente eleito democraticamente ataca o movimento em defesa da democracia.

Definitivamente esse circo abaixo das linhas imaginárias e arbitrárias do equador não é para amadores.

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