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“AS PESSOAS ESTÃO COMENDO MAIS NA PANDEMIA”, DIZ PRESIDENTE DO SINDICATO RURAL DE BARBACENA SOBRE BONS RESULTADOS NO CAMPO

Foto: Arquivo/Agência Brasil

Najla Passos
Notícias Gerais

São boas as notícias que vem do campo: apesar da pandemia, da alta do dólar e da crise econômica que resulta de tudo isso, o setor está crescendo e gerando mais empregos. Em maio, foram 1,8 mil empregos formais gerados só em Minas Gerais, como atestam os dados do Cadastro Geral de Empregos (Caged), divulgados na segunda (29) pelo Ministério da Economia.

“O agronegócio está crescendo. parte do setor sentiu a crise provocada pela pandemia no início, mas já se adaptou e voltou a gerar empregos, como fica fácil perceber em conversas com nossos associados que, em junho, já voltaram a contratar e a expandir”, afirma Renato Laguardia, presidente do Sindicato Rural de Barbacena, que representa os produtores de dez municípios da região.

Segundo ele, os resultados são diferentes em cada setor, mas, no geral, o agro vai bem. No último dia 25, o Banco Central divulgou uma nova projeção de retração do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, calculada em 6,4%.  Para o setor da agricultura, porém, a estimativa é de crescimento de 1,2%.

Segundo ele, o consumo de alimentos aumentou no período. “A vaca não sabe que tem pandemia, que tem Covid-19. Ela continua produzindo todo dia. Então, nós não paramos. Não houve dificuldades para o seguimento do leite, como também para o de carne, por exemplo. Inclusive, as pessoas estão comendo mais na pandemia”, afirma.

Setores em alta ou estáveis

Foto: Najla Passos

Produtor de leite, ele cita o setor, muito forte na região, como exemplo dos que experimentam variação positiva dos preços. “Antes do novo coronavírus, o produtor recebia R$ 1,40 pelo litro de leite. Hoje, recebe R$ 1,70, R$ 1,80, R$ 1,90, dependendo do volume e qualidade. Já tem leite no mercado valendo R$ 2”, esclarece.

Laguardia acrescenta na receita de sucesso do setor a alta do dólar, que impede que os grandes laticínios possam importar o leite e derivados, favorecendo o produtor local. “Antes da pandemia, estávamos produzindo menos porque o preço estava baixo. Com a alta do dólar e o consequente aumento do produto, passamos a produzir mais”, explica.

A má notícia, segundo ele, é que estes aumentos foram repassados para o consumidor final. A cesta básica subiu no início da crise e agora estabilizou. “Mas estabilizou no alto”, destaca ele, exemplificando com o preço do queijo, tão essencial à mesa dos mineiros. “A muçarela era R$15, R$ 16 reais. Hoje, está R$ 25, R$ 28”, aponta.

O presidente do Sindicato conta que frutas, legumes e verduras experimentaram uma queda de consumo, no início da pandemia. “O mercado de verduras e legumes teve uma queda de quase 50% no início. Os produtores levavam cem caixas para o CEASA [em Belo Horizonte] e voltavam com 50. Tinham que jogar produtos fora. Mas agora já começa a normalizar”, afirma.

Conforme ele, para o setor de olericultura, vale a lei da oferta e da procura. “O tomate, agora, estava custando R$ 5 a caixa. Já esteve a R$ 50. É muito volátil”, explica

Outros setores que não tiveram prejuízos durante a pandemia, segundo ele, são os dos produtores de carne. “A produção de frangos, suínos, caprinos, por exemplo, não tiveram problemas. Mas os custos de produção aumentaram muito”, destaca.

Aumento nos custos de produção

O investimento em segurança dos trabalhadores durante a pandemia impactou os custos da produção, mas não são o maior desafio, conforme Laguardia. A alta nos preços dos insumos, provocada pela disparada do dólar, é o que mais tira o sono dos produtores hoje.

“Fertilizantes, defensivos agrícolas, soja, milho, óleo diesel e energia estão mais caros. Então, para muitos de nós, produtores, apesar do aumento no preço dos produtos, ainda estamos ‘trocando cebola’, como se diz no campo. Mas se a gente olhar o comércio, as indúsrtrias, temos que comemorar”, afirma.

Segundo ele, antes do carnaval, um saco de soja, direto da fábrica para o produtor, custava R$ 72. Hoje, sai por R$ 100. A soja, utilizada para alimentar o gado, subiu com a disparada do dólar, já que, apesar de ser produzida no país, é exportada em grande escala. “O preço obedece a lei da oferta e da procura”, explica Renato.

O drama da floricultura

flores
Imagem: Arquivo pessoal

Segundo o presidente do Sindicato Rural de Barbacena, a crise foi sentida de forma diversa pelos diferentes seguimentos do agro. O mais prejudica deles, sem dúvida alguma, foi o de floricultura, muito importante para a região de Barbacena e Alfredo Vasconcelos.

“São produtores que tinham muito mercado, que vendiam para várias capitais do país e, de uma hora para outra, passaram a não vender mais nada. É a situação que mais nos preocupa hoje”, afirma.

Renato lembra que o comportamento de cortar as flores e plantas ornamentais do orçamento é comum em tempos de crise. “As pessoas priorizam a comida. Então, a floricultura foi o primeiro setor a sentir a crise provocada pela pandemia e provavelmente será o último a sair dela”, esclarece.

Conforme ele, os cerca de 50 produtores da região sindicalizados têm adotado estratégias diferentes. “Temos produtores resistindo, mas temos também produtores que desistiram: passaram o trator por cima e desistiram de vez da floricultura. Neste setor, houve muito desemprego, suspensão de contratos de trabalho, redução de jornada”, lamenta ele, lembrando que é um setor altamente produtivo e gerador de impostos para os municípios. “Este setor está sendo sufocado”, afirma.

Para tentar minimizar o problema, o Sindicato intermediou gestões com os governos estadual e federal, com o apoio da Federação da Agricultura de Minas Gerais e da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). “Conseguimos que o governo federal adiasse os prazos para pagamento das linhas de financiamentos com os bancos e, com a Secretaria de Agricultura de Minas Gerais, articulamos medidas como o parcelamento das contas de energia elétrica nestes meses de pandemia”, exemplifica.

Readaptação dos pequenos produtores

Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

Com a proibição da realização das feiras livres, já no início da pandemia, os pequenos produtores da agricultura familiar sentiram muito o impacto da pandemia, mas foram adaptando e aprenderam rapidamente a conviver com o novo cenário, buscando novos mercados e novas formas de comercialização dos seus produtos.

“Os pequenos produtores se adaptaram e passaram a vender por aplicativos, fazer entregas por delivery e a focar mais nas vendas para os mercados, nos sacolões da região. É impressionante como os pequenos expandiram o acesso à internet para viabilizar seus negócios”, acrescenta.

Laguardia ressalta que os programas de qualificação produzidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e divulgados pelo Sindicato Rural ajudaram muito neste processo. “Ao invés dos cursos presenciais tradicionais, a qualificação agora é online, via WhatsApp. Todos nós estamos nos adaptando ás reuniões por videoconferências, as lives, a esta nova realidade”, avalia.

Segurança na pandemia

Os protocolos para segurança dos trabalhadores rurais durante a pandemia também são preocupação recorrente do Sindicato Rural. Com o vírus cada vez mais alastrado para os pequenos municípios do interior, os cuidados são redobrados.

“Precisamos investir em informação para mostrar que há circulação de pessoas na zona rural. São s caminhões que chegam para buscar os produtos, para levar os insumos. Então, todos precisam se proteger e adotar as medidas de segurança. Achar que quem está no campo não corre riscos é um erro. Inclusive, a taxa de infecção na zona rural de Barbacena vem aumentando”, alerta o presidente.

Segundo ele, na região ainda não houve nenhum problema mais grave e a categoria vem investindo em equipamentos e protocolos de segurança para evitar que isso ocorra.  Ele lembra que, no sul do país, por exemplo, há frigoríficos que tiveram que parar completamente suas atividades em função de surtos do novo coronavírus, o que prejudica tanto a produção quanto a garantia de emprego. “Esta é uma preocupação permanente”, atesta.

Laguardia lembra que como a produção não para, qualquer suspensão da atividade é um problema sério. “Quando chega a hora de tirar o frango, não há como esperar. A mesma coisa o porco, o boi, o leite. O agronegócio não parou e nem pode”, reforça.

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