Início Gerais Economia AUXÍLIO EMERGENCIAL GARANTIU BEM-ESTAR MÍNIMO PARA FAMÍLIAS EM SJDR, DIZEM ECONOMISTAS

AUXÍLIO EMERGENCIAL GARANTIU BEM-ESTAR MÍNIMO PARA FAMÍLIAS EM SJDR, DIZEM ECONOMISTAS

Foto: Agência Brasil

Kamila Amaral
Notícias Gerais

O auxílio emergencial foi essencial em termos sociais e econômicos para a cidade de São João del-Rei. Isso é o que disseram o professor do Departamento de Ciências Econômicas e coordenador do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Economia (NEPE/UFSJ), Douglas Marcos Ferreira, e a professora aposentada da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Daniela Raposo, em entrevista ao Notícias Gerais. 

Até agosto de 2020, mais de R$ 65 milhões foram transferidos para a cidade, segundo dados do Portal da Transparência do Governo Federal. Esses recursos foram recebidos por mais de 26 mil são-joanenses.

“Do ponto de vista social, o auxílio emergencial garantiu uma renda adicional para aproximadamente 30% da população de São João del-Rei, em um contexto de aumento do desemprego na cidade e elevação do custo da cesta básica no município”, destaca Ferreira. 

Enquanto isso, do ponto de vista econômico, o professor explica que os recursos transferidos por meio do auxílio emergencial foram importantes na geração de renda e consumo na economia local, em meio ao cenário de incerteza causado pela pandemia. Isso porque, parte do recurso foi utilizado em compras no comércio – contribuindo, assim, para a retomada da economia na cidade.

“Portanto, o auxílio emergencial foi fundamental para a garantia de um bem-estar mínimo para muitas famílias são-joanenses, que tiveram boa parte de suas rendas afetadas pela pandemia”, argumenta o professor.

O economista lembra também que São João del-Rei é um município polo regional, e o setor de comércio e serviços se destacam pela geração de emprego e renda para boa parcela da população.

Dados disponibilizados pelo Ministério da Economia, referentes a dezembro de 2019, mostram que São João del-Rei possuía 3.325 estabelecimentos comerciais e de serviços, empregando um total de 16.747 trabalhadores com carteira assinada – o que correspondia a 74% do total de profissionais com carteira assinada no município. Entretanto, o setor de comércio e serviços foi o mais afetado com a pandemia e ainda não recuperou totalmente as perdas de 2020. Ainda segundo o Ministério da Economia, em 2020, o setor de comércio e serviços registrou o fechamento de 474 vagas formais.

O coordenador do NEPE/UFSJ ressalta também outras situações exacerbadas pela crise. Além do desemprego, o custo da cesta básica no município apresentou alta de 26%, em 2020, com elevação dos preços em 12 produtos, de um total de 13 pesquisados mensalmente, fato que compromete ainda mais a renda das famílias. 

“Considerando esse contexto atual, o fim do auxílio emergencial é extremamente preocupante, principalmente para as famílias de renda mais baixa, uma vez que isso fará com que muitas delas passem a estar em uma situação de pobreza. Além disso, o comércio local também será impactado pois o consumo ficará comprometido com a redução na renda das famílias”, afirma o professor.

Preocupação econômica e social

O pagamento do auxílio emergencial foi suspenso em dezembro de 2020, quando terminou o período de calamidade pública decretado pelo governo federal devido a pandemia da Covid-19. Foi o decreto de calamidade, e o “orçamento de guerra”, que permitiu que o Executivo nacional flexibilizasse os gastos – visando investir em ações de combate ao novo coronavírus e ultrapassando o teto previsto para 2020.

No entanto, Daniela Raposo, professora aposentada da UFSJ, salienta que o fim do auxílio é “extremamente preocupante” tanto do ponto de vista social quanto econômico. “Primeiro porque a pandemia está longe do fim, além do atraso das vacinas e da incerteza quanto ao processo de imunização há uma nova variante do vírus no país”, frisa ela.

Além disso, Raposo aponta que o auxílio representou uma importante fonte de recursos financeiros para cerca de 67 milhões de brasileiros, tornando-o o principal motor do crescimento do país em 2020. 

Considerando o aumento da inflação, principalmente no preço dos alimentos, a alta taxa de desocupação no país e a previsão de apenas 3% do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2021, a professora aposentada sustenta que o fim do auxílio produzirá o aumento da vulnerabilidade das famílias. 

“Ou seja, vai aumentar a taxa de pobreza e de extrema pobreza do país e a desigualdade. Além disso, como a economia ainda não está aquecida para absorver essas pessoas, as famílias vão perder capacidade de compra. O consumo vai cair, e, consequentemente, também a produção, a geração de renda e o recolhimento de impostos”, acrescenta.

Raposo avalia que seria preciso adotar medidas para contrabalançar os efeitos sociais e econômicos do fim do auxílio e, ainda sim, manter em equilíbrio as contas públicas. No entanto, o atual cenário político não se mostra favorável a isso. A economista cita, como uma problemática bastante atual, os gastos “exorbitantes e muito questionáveis” do governo federal em alimentos.  

“Veja que, não justifica uma ação do Congresso, percebidamente mais hábil na condução desta crise, criar novas formas de auxílio com base no discurso de equilíbrio fiscal mediante o perfil de gastos do governo federal num momento onde a vulnerabilidade cresce”, explica. 

Ela compara que, enquanto o Executivo nacional gastou mais de R$ 2.500 mil com vinhos para o Ministério da Defesa, dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) indicam que o Brasil caiu cinco posições no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano em 2019. 

“Quem tem fome, tem pressa. Não pode esperar”

afirma professora aposentada da UFSJ.

“Ademais, o governo federal se mostra incapaz de conduzir o processo de imunização da população, fator determinante para retomada do crescimento econômico, segundo inclusive o ministro da Economia, Paulo Guedes”, finaliza Raposo.

Ministério admite necessidade do auxílio

Em coletiva realizada na última terça (26), o próprio Ministro da Economia admitiu que a volta do auxílio emergencial pode ser necessário, devido a demora na vacinação, mas seria uma valor menor e para um número reduzido de pessoas. 

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