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BASTIDORES DA NOTÍCIA: QUER SABER POR QUE VOCÊ PODE CONFIAR NO NOTÍCIAS GERAIS?

Por Najla Passos
Da Editoria

Nos seus dois meses de vida, o Notícias Gerais já publicou exatos 811 conteúdos. Uma média de 13,5 matérias por dia, incluindo sábados, domingos e feriados, o que significa que nossa redação funciona (quase) 24h por dia, (sempre) sete dias por semana.

Há os artigos e crônicas dos nossos colunistas, algumas matérias de agências públicas e assessorias, as reportagens produzidas pelos nossos correspondentes, mas a maioria destes conteúdos são produzidos pela nossa reportagem, na redação virtual do NG.

Mas será que você faz ideia do esforço necessário para que cada notícia chegue até você?  Do quão trabalhoso é garantir que elas cumpram os nossos altos padrões de qualidade de informação e ética? Quer conhecer um exemplo?

A 1º morte por Covid-19 em Barbacena

Sábado (2), 16h52. Uma mensagem chega pelo WhatsApp do NG: “Acabou de falecer aquele senhor confirmado com Covid-19, que as fake news diziam que era queijeiro e que estaria espalhando o vírus por Barbacena”. Imediatamente, toda a equipe de plantão no Notícias Gerais é acionada para checar a informação.

Apesar de não termos publicado nenhuma notícia falsa a respeito, nos lembramos imediatamente do caso do produtor rural, acusado em vários grupos de notícias da cidade de “estar espalhando o vírus de casa em casa, enquanto vendia queijo”.

Uma mentira horrível que alguns compartilharam sem se preocupar com o quanto afetaria a vida daquela família – e das famílias de outros vendedores de queijo que viriam a ser confundidos com o personagem da fake news…. mas voltemos ao caso!

A difícil arte de conseguir informação

Às 16h54, dois minutos após a primeira mensagem, um parente da vítima confirma a informação. Mas, ao contrário daquele seu vizinho que escuta uma fofoca na rua e já posta no WhatsApp sem se preocupar com sua veracidade, a equipe do Notícias Gerais insiste em ter pelo menos mais uma fonte para confirmar a primeira.

Até porque, sabemos que a primeira morte em decorrência de uma doença ainda pouco conhecida tem grande impacto para a população de um município. Não se pode brincar com um caso destes. É preciso evitar pânico, ouvir todos os envolvidos, confirmar cada detalhe.  E é preciso dar informação segura, para evitar que os desavisados e descabeçados continuem achando que o vírus não existe.

Nosso primeiro contato foi com a assessoria de comunicação da Secretaria de Saúde de Barbacena, que afirmou desconhecer a ocorrência. Na sequência, fizemos uma ligação para a secretária de Saúde de Barbacena, Marcilene Dornellas, mas o telefone estava desligado.

Insistir sempre, e se atentar para os detalhes

A terceira tentativa foi outra ligação, agora para o Hospital Policlínica e Maternidade de Barbacena (Imaip), onde o paciente estava internado. A recepcionista disse que não tinha autorização para falar sobre casos de pacientes. Repassou a tarefa para a enfermeira-chefe do plantão.

A enfermeira-chefe se desculpou, mas também afirmou que, por questões éticas profissionais, também não poderia comentar o assunto. Pressionada pela nossa reportagem, sugeriu que contatássemos o diretor-administrativo do Imaip, Marcelo Ferreira.

Pelo celular, o diretor-administrativo afirmou que não está no hospital, sequer em Barbacena, e que não tem como confirmar a informação. E indicou ao NG entrar em contato com a Vigilância Epidemiológica do município. Ou seja, retornar para o início e contatar a equipe da Secretaria de Saúde.

Nesta altura, uma luz vermelha já estava acessa. Todas as pessoas contatadas se recusaram a falar sobre o assunto, se mostraram claramente desconfortáveis ao serem confrontadas. E o mais indicativo de que havia fogo para além daquela fumaça: ninguém desmentiu a ocorrência em momento algum.

Apesar das dificuldades, o NG não desiste

A reportagem, então, ligou para o coordenador de Vigilância em Saúde de Barbacena, Maurício Becho. Como previsto, ele também informou que não poderia comentar o assunto.

Tentamos, por fim, um último recurso: o contato com uma fonte de nossa confiança que não só confirmou a informação, como avisou que a Prefeitura de Barbacena estava finalizado a nota que emitiria sobre o caso.

Pronto, após OITO ligações, iríamos enfim redigir a matéria e publicá-la. Sabíamos que não era a notícias que muitos gostariam de receber no final de semana, como também não era a que gostaríamos de dar. Mas seguimos com nosso trabalho.

Pêsames, insultos… e recomeça tudo de novo

Sábado (2), 17h40. O NG publica a seguinte manchete: LUTO EM BARBACENA: MUNICÍPIO REGISTRA PRIMEIRA MORTE EM DECORRÊNCIA DA COVID-19

A notícia cai como uma bomba nas redes sociais. A maioria dos leitores lamenta o ocorrido, se solidariza com os familiares da vítima. Mas há sempre aquela minoria que grita que é mentira, que é invenção da imprensa.

E chegam a acusar o NG de participar de uma “conspiração internacional” inusitada, envolvendo comunistas, a Globo, a ONU e o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro, entre outros personagens díspares, para derrubar a popularidade do presidente Jair Bolsonaro”.

Mas nós não temos tempo sequer de entrar na polêmica. Um minuto de silêncio em atenção à família da vítima, e já partimos para a próxima pauta: mais um caso confirmado de infecção por Covid-19 em São João del-Rei.

Foto: Reprodução/Redes sociais

Em tempo:

Jornalistas, mesmo os melhores entre os melhores, erram. Afinal, são humanos. Mas a maioria se esforça muito para informar com qualidade. E é deste esforço que se constroem as democracias.

Este relato é a nossa forma de prestar solidariedade à equipe do jornal O Estado de S. Paulo, brutalmente espancada, com chutes e pontapés, por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), neste domingo (3).

A equipe foi atacada enquanto cobria mais uma manifestação inconstitucional e antidemocrática, em Brasília, para reivindicar o fechamento do Congresso e do STF, além da volta da censura à imprensa, por meio de um novo AI-5!

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