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CUIDADORA DE IDOSOS REDOBRA CUIDADOS COM SUA SAÚDE PARA PRESERVAR A VIDA DE SUA PACIENTE; VEJA AS DICAS

A enfermeira Sônia Maria da Silva. (Foto: Arquivo pessoal)

Najla Passos
Da Editoria/ Com informações da Agência Brasil

A enfermeira barbacenense Sônia Maria da Silva, 38 anos, mudou radicalmente sua rotina desde que as notícias sobre a chegada do Covid-19 ao Brasil invadiram o noticiário. Cuidadora de uma idosa de 80 anos, que sofre de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), precisou adotar rapidamente medidas severas de higiene. “Eu redobrei os cuidados. Preciso me cuidar muito para não contagiar minha paciente”, afirma.

Sônia é jovem, não tem doenças pré-existentes, mas o carinho e o compromisso profissional a fazem prestar atenção em todos os detalhes. Tem evitado sair e se expor o máximo que pode. Quando precisa ir trabalhar na casa da paciente, se cuida. E isso ocorre com frequência, já que ela cumpre jornada de 12 horas, e folga as próximas 36 horas.

Ela usa luva e máscaras no transporte público. E opta por ficar em pé, próxima à janela mais ventilada que encontrar. “Como os ônibus estão bem mais vazios, com um fluxo de seis ou sete passageiros por carro, é mais fácil manter o distanciamento das pessoas”, explica. Na descida do ônibus, faz uso do álcool em gel que sempre carrega na bolsa.

“Eu redobrei os cuidados. Preciso me cuidar muito para não contagiar minha paciente”

Sônia Maria da Silva, enfermeira

Depois que chega à casa da sua paciente, inicia um longo processo de desinfecção. Troca os sapatos, a roupa, lava bem as mãos. Prende os cabelos com touca, coloca outras luvas e máscaras. Limpa o chão, as chaves e as maçanetas que tocou com álcool 70. Os cuidados se estendem também aos medicamentos e material de curativo. “Higienizo tudo”, garante.

A enfermeira conta que a filha da sua paciente deixou de trabalhar para ficar com a mãe. Dispensou uma outra cuidadora e a faxineira para reduzir o fluxo de pessoas na casa. “Ficamos eu e uma outra técnica em enfermagem. Mas a diarista dispensada momentaneamente, para reduzir o fluxo, apesar de não ter diploma de curso superior, é extremamente competente e séria na higienização e cuidado”, explica.

Segundo ela, esta é uma dica preciosa para quem precisa contratar um cuidador. “É preciso saber escolher bem o profissional. Não adiante só ter um bom diploma. O fundamental é ter bons procedimentos”, recomenda.

A cuidadora de idosos no trabalho: touca e máscara. (Foto: Arquivo pessoal)

“É preciso saber escolher bem o profissional. Não adiante só ter um bom diploma. O fundamental é ter bons procedimentos”

Sônia Maria da Silva, enfermeira

Cuidados com a família

A consciência profissional e o amor à vida levou Sônia a tomar decisões difíceis para preservar a saúde não só da sua paciente, mas de todos aqueles que ama. Seu pai é cardíaco. Sua mãe, hipertensa. E ela também tem dois filhos saudáveis, mas que não quer expor aos perigos do coronavírus.

“Levei meus filhos para passarem uma temporada na roça com meus pais, onde não eles têm contato com outras pessoas. A saudade é grande, mas assim estamos todos mais seguros. É uma via de mão dupla. Tendo contato com menos pessoas, me preservo mais e posso cuidar melhor de minha paciente. E, longe, eles não correm o risco de serem contagiados por mim, que preciso sair sempre de casa”, avalia.

Depois de 15 dias separados, com a saudade apertando fundo, Sônia fez sua primeira visita aos pais e aos filhos. Também adotou cuidados especiais. “Troquei toda a roupa antes de entrar na casa e mantive distanciamento seguro o tempo todo”, relata.

Mudança na rotina dos idosos é prejudicial

Em entrevista à Agência Brasil, o presidente da Associação Brasileira dos Empregadores de Cuidadores de Idosos (Abeci), Adriano Machado, disse que um dos grandes problemas decorrentes da pandemia de Covid-19 foi a mudança de rotina que causou para os idosos.

“Higiene e isolamento são a base de tudo. No entanto, é muito importante para o idoso manter a vida na maior normalidade possível, com banho de sol, exercícios e alimentação, uma vez que eles são bem mais sensíveis a alterações de rotina. Isso tem de ser levado em consideração”, recomenda.

Machado alerta ainda que essa rotina não abrange apenas atividades. “Envolve medicamentos, alimentação, hidratação e muitas outras coisas específicas de cada caso”, acrescentou. Nesse sentido, abrir mão de um profissional por medo de ele servir de canal de contaminação para o idoso é também algo que pode ser problemático.

“Higiene e isolamento são a base de tudo. No entanto, é muito importante para o idoso manter a vida na maior normalidade possível, com banho de sol, exercícios e alimentação, uma vez que eles são bem mais sensíveis a alterações de rotina. Isso tem de ser levado em consideração”

Adriano Machado, presidente da Abeci

Riscos dos cuidados não profissionais

“Tivemos o caso de um cliente que, diante dos primeiros casos noticiados de covid-19, dispensou o cuidador. Depois de 2 semanas, por causa da alteração na alimentação, foi gerado um fecaloma, que é quando o bolo fecal [fezes] seca, endurece e não sai espontaneamente. Isso ocorreu basicamente por causa de uma deficiência alimentar”, explicou Machado.

Ele aponta também riscos com relação a aplicação de medicamentos, quedas e desidratação. “Há ainda casos mais complexos, como o de pacientes com Alzheimer. Muitos não sabem, mas há casos em que se tem de cobrir espelhos porque pacientes com tendências agressivas podem quebrá-los por não se reconhecerem, e acharem que se trata de outra pessoa”, alerta.

Profissão em alta

De acordo com a Abeci, apesar de não ser regulamentada, a profissão de cuidador de idosos tem despertado cada vez mais o interesse das pessoas, a ponto de, entre 2004 e 2017, ter registrado um aumento de 690%, passando de 4,3 mil para 34 mil profissionais. Em média, a remuneração é de cerca de R$ 1,3 mil mensais.

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