Início Gerais Brasil DENÚNCIA VIRA GUERRA POLÍTICA ENTRE MORO E BOLSONARO

DENÚNCIA VIRA GUERRA POLÍTICA ENTRE MORO E BOLSONARO

Imagem: Reprodução

Celso Bejarano
Especial para o Notícias Gerais

Brasília – Ganhou contornos políticos o depoimento do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, o também ex-juiz federal que denunciou o ex-chefe antes de renunciar ao cargo. Moro disse que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tramava nomear alguém de confiança para ocupar o comando da Polícia Federal, meio dele saber antes de todos e tudo sobre eventuais investigações tocadas pela instituição.

Por este motivo, disse o ex-ministro, resolveu sair do cargo que havia assumido em janeiro de 2019, há 16 meses.

O depoimento de Moro ocorreu no dia que mais de 400 pessoas morreram no Brasil vítimas da Covid-19, doença causada pelo coronavírus. Do início de março deste ano para cá, em apenas dois meses, perto de sete mil pessoas já morreram infectadas pelo vírus.

A audiência de Moro durou quase nove horas, neste sábado (2), na sede da PF, em Curitiba (PR), onde mora o ex-ministro desde que deixou a chefia do ministério, em Brasília, duas semanas atrás.

Moro chegou e saiu por um caminho privativo e nem sequer foi visto pelos manifestantes que lá bradavam os nomes do presidente e do ex-ministro. Ele não conversou com a imprensa – nem antes nem depois da audiência. Nem os participantes da audiência, como delegados da PF, advogados e procuradores do MPF (Ministério Público Federal) se dispuseram a comentar as declarações do ex-ministro. A investigação corre em segredo judicial.

Moro prestou o depoimento por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal), corte que acatou o pedido do MPF, dono da apelação pela abertura de inquérito para apurar a veracidade das declarações do ex-ministro.

O protesto

Do lado de fora, desde a manhã de sábado, grupos apoiadores de Bolsonaro e simpatizantes de Moro rivalizam com palavras de ordem e, não fosse a intervenção policial, poderiam ter entrado em vias de fato. Um cinegrafista foi agredido por um defensor de Bolsonaro, que confundiu o profissional como funcionário da Rede Globo, empresa atacada com frequência pelos seguidores do presidente. O rapaz trabalhava no local, mas para outra emissora televisiva.

Para os bolsominions, expressão já conhecida dos brasileiros, pejorativa e como nominam os seguidores do presidente, Moro, antes querido por essa turma, virou uma espécie de “Judas” por denunciar o presidente.

O quase embate mais parecia com ato político envolvendo candidatos rivais. Mas o que acontecia lá dentro do prédio era uma audiência cujo desfecho pode incriminar ou, até, consolidar pedidos de impeachment de Bolsonaro. Semana passada foram divulgadas pesquisas de opinião com nomes de Moro e o presidente como eventuais candidatos em 2022. 

Ao menos por enquanto, os levantamentos indicam que o atual presidente bateria Moro. 

Quando ex-ministro afirmou que o presidente quis interferir politicamente no comando da PF, Bolsonaro, para especialistas jurídicos, teria praticado crimes como coação no curso do processo, corrupção passiva privilegiada e obstrução da justiça.

No entanto, o mandatário só sai dessa investigação incriminado caso o ex-ministro mostre provas aos investigadores.

Do contrário, é o ex-ministro que pode se dar mal. Sem comprovar as declarações, recai sobre ele delitos como denunciação caluniosa e crime contra honra.

Antes do depoimento em Curitiba, Moro deu duas entrevistas e nelas disse ter provas suficientes para incriminar o presidente. As evidências contra o mandatário estariam anotadas em mensagens e áudios de diálogos telefônicos travados entre o ex-ministro e Bolsonaro.

Embora sem nada divulgado sobre o depoimento, presume-se que Sérgio Moro tenha levado consigo as tais conversas e entregues aos investigadores, neste sábado.

Moro conquistou fama nacional ao comandar a Lava Jato, maior operação que se tem notícia no Brasil de combate à corrupção. Ele ganhou notoriedade ao condenar o ex-presidente Lula, sentença ainda hoje criticada por aliados do petista.

Com reputação em alta Moro logo virou aliado de Bolsonaro, que o nomeou ministro da Justiça já no início do mandato, em janeiro do ano passado.

Moro, que há 22 anos atuava na magistratura disse ter concordado com a proposta porque Bolsonaro havia prometido a ele liberdade para agir no combate à corrupção.

Agora, fora do cargo, o ex-ministro tem afirmado que sua investida contra a criminalidade tem sido atrapalhada por Bolsonaro.

Depois do depoimento de Moro, policiais federais e procuradores podem ouvir outras pessoas para concluir o inquérito. Depois disso, o MPF decide se denuncia, ou não, o presidente.

Em Brasília, enquanto o ex-parceiro o denunciava em Curitiba, o presidente passeava de helicóptero por cidades situadas no entorno da capital brasileira. Sem obedecer as orientações médicas, Bolsonaro descumpria o distanciamento social ao cumprimentar simpatizantes.

Pelas redes sociais, Bolsonaro atacou o ex-ministro, a quem chamou de Judas, personagem bíblico que trocou Jesus Cristo por moedas.

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