Wanderson Nascimento
Notícias Gerais*
Considerado como o “Natal” do primeiro semestre para o comércio, o Dia das Mães é tradicionalmente a segunda data mais significativa e lucrativa para o comércio de produtos e serviços no mercado brasileiro, perdendo apenas para o feriado natalino. Neste segundo ano de pandemia da covid-19, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima para o Dia das Mães um volume de vendas de R$ 12,2 bilhões em todo o país, o que representa aumento de 47% em relação ao resultado de 2020 (R$ 8,26 bilhões).
Em Minas Gerais, depois de mais de um mês com quase todo o estado na onda roxa do programa Minas Consciente, com grandes restrições ao comércio, grande parte do estado já progrediu para a onda vermelha, melhorando um pouco as expectativas para compensar as perdas dos últimos meses de crise.
A reportagem do Notícias Gerais ouviu entidades representativas do comércio nos dois principais polos econômicos e comerciais da região: Barbacena e São João del-Rei, e o posicionamento, apesar de otimista, é um pouco distinto entre o Sindicato do Comércio de Barbacena (Sindicomércio Barbacena) e a Associação Comercial e Industrial de São João del-Rei (ACI del-Rei).
Para o empresário Marcelo Leitão, presidente do Sindicomércio de Barbacena, há uma expectativa de bastante melhora em relação ao Dia das Mães do ano passado, tendo em vista que, em 2020, ainda nos dois primeiros meses da pandemia, o medo da população era maior, bem como as restrições. No entanto, os números ainda serão bem inferiores aos anos sem pandemia, uma vez que alguns setores do comércio que são aquecidos nessa época ainda estão sem renovação de estoque desde o início do ano, por causa desse último período de piora da pandemia, o que também pode se refletir em preços mais altos.
Marcelo destaca que não se sente confortável em fazer previsões, com exceção do aumento natural pelo dia festivo, que já ocorre tradicionalmente todos os anos. “O grande obstáculo este ano é o alto preço, principalmente pela falta de produtos, baixo estoque. E essas datas são muito importantes, vai ter crescimento de vendas histórico em um dia só, corresponde a vendas de muitos meses em setores como floricultura, vestuário, calçados, assim como na Páscoa se vende mais chocolate que no ano inteiro”, afirma.
O presidente da ACI del-Rei, José Egídio de Carvalho, por outro lado, se diz muito otimista com o Dia das Mães, que já é tradicionalmente muito rentável e, com a saída da onda roxa, as expectativas melhoraram ainda mais. “Como nós tivemos a felicidade de estar agora com boa parte do comércio reaberto, mesmo que de forma recente, já que retornamos para a Onda Vermelha somente nas últimas semanas, nossa expectativa é a melhor possível. Estamos muito otimistas! Até porque nesse período todo da pandemia houve uma evolução muito grande no que tange às vendas pela internet, o chamado E-Commerce, uma ferramenta importante para alavancar as vendas”, declara.
José Egídio também destacou que o ano de 2020 foi o pior da história para o comércio. “Não só nas vendas do Dia das Mães, mas de uma forma geral. Neste mesmo período estávamos no início da pandemia, ou seja, tudo muito novo, população em pânico, diferentes realidades para nossos empresários e o desafio de reestruturar o comércio para uma nova realidade”.
Importância da vacina
Egídio também tem no aumento da vacinação uma esperança de melhorias concretas. “A chegada da vacina também traz o prenúncio de novos tempos nos negócios e o reaquecimento da nossa economia”. Marcelo Leitão também destacou a importância da vacina, mas lamentou o atraso, que fez o que adiasse essa recuperação por muitos meses. “Por mais que o governo mude de posicionamento com relação à vacina, perdeu o timing, de 110 milhões de vacinas que poderiam ter sido compradas”.
O presidente da ACI del-Rei ainda explicou que o surgimento do novo coronavírus causou uma série de impactos, afetando diversos setores e provocando um cenário de incertezas que não era visto há muito tempo. Infelizmente, muitas empresas precisaram fechar suas portas e se adequar ao que tem sido chamado de “novo normal”. Alguns setores foram ainda mais afetados do que outros: academias, salões de beleza e barbearias; confecções, lojas de calçados, atrativos turísticos, hotelaria, entre outros. O comércio foi um dos segmentos que mais sofreu com o surgimento do vírus. “Com as portas fechadas, muitos comerciantes precisaram encerrar suas atividades ou se adaptar ao novo modelo de negócio”.
Novos modelos de negócios
No período, novos modelos de negócios surgiram e se fortaleceram. José Egídio afirma que, segundo levantamento da AppsFlyer, uma plataforma de monitoramento e mensuração de downloads e uso de aplicativos presente em 98% dos smartphones de todo o mundo, as ferramentas de delivery de comida cresceram 78% em instalações, isso só em 2020.
“As vendas de supermercados também avançaram. O segmento representa mais da metade (50,8%) de todo o volume de vendas do varejo brasileiro e, por ser considerado um serviço essencial, tem funcionado praticamente sem restrições, absorvendo inclusive parte do consumo que antes era direcionado para bares e restaurantes. Além dos supermercados, os segmentos de artigos farmacêuticos, móveis e eletrodomésticos também já recuperaram o nível pré-coronavírus, com os lojistas conseguindo adaptar seus negócios para a venda online”, declara.
Expectativas de preços e setores mais rentáveis
De acordo com a CNC, da cesta de 17 bens e serviços para o Dia das Mães, somente cinco apresentaram retração na comparação com o ano anterior: bolsas (-7,6%), artigos de maquiagem (-6,3%), livros (-3,1%), roupa feminina (-2,3%) e sapato feminino (-1,3%). Em geral, a cesta apresenta a maior variação média desde 2016 (4,7% em 2021, contra 7,7%, em 2016). “É reflexo dessa inflação mais alta que a gente está experimentando este ano, primeiro do efeito da inflação de alimentos no início do ano e, depois, pela inflação de combustíveis. Quando a inflação é mais alta, isso acaba se espalhando para determinados preços do comércio”, afirma o economista sênior da CNC, Fabio Bentes, à Agência Brasil.
Em contrapartida, os setores que apresentaram os maiores aumentos foram os de TV, som e informática (19,2%), joias e bijuterias (14,4%) e flores naturais (13,3%). Bentes afirmou que em relação à TV, som e informática, o segmento vem de um ano não tão difícil, porque as famílias ficaram em casa e passaram a consumir mais esse tipo de produto, o que abriu espaço para a recomposição de margem. Além disso, boa parte desses produtos é montada no Brasil com componentes importados, nos quais o dólar alto acaba tendo impacto no preço. O mesmo ocorre em relação ao setor de joias e bijuterias, em que o preço das matérias-primas é cotado em dólar. “Então, quando o dólar sobe, acaba jogando também esses preços para cima”.
O segmento de vestuário, calçados e acessórios costuma, tradicionalmente, liderar as vendas nesse período do ano. Em 2020, movimentou R$ 1,6 bilhão, com redução de 62,7% em relação a 2019. Este ano, a previsão de faturamento do segmento se eleva para R$ 4,09 bilhões, segundo a CNC, mostrando variação positiva de 146%. “Vai mais que dobrar este ano”.
Fabio Bentes observou que em 2021 o varejo está pegando o processo de reabertura. “Os shopping centers estão voltando a operar, o que não tinha no ano passado. O segmento do vestuário é muito forte em shoppings e sofreu muito em 2020”. Ele explicou que além de ser o setor que mais vai movimentar, em números absolutos, as vendas no Dia das Mães, será também o que mais vai crescer em comparação ao ano passado, por essa realidade diferente da operação dos estabelecimentos comerciais.
Em seguida, devem vir os ramos de móveis e eletrodomésticos (R$ 2,38 bilhões) e farmácias, perfumarias e cosméticos (R$ 1,52 bilhão). Sobre o segmento de perfumaria, Bentes destacou que, além de ter um apelo natural associado à data, é um segmento de tíquete médio (valor médio das vendas de um período) também baixo. Disse que a crise sanitária acaba provocando uma crise econômica, pressão no orçamento das famílias, com desemprego ainda elevado e inflação alta. “Geralmente, quando você tem um cenário desfavorável para o orçamento familiar, esses segmentos crescem, como os de vestuário e perfumaria e cosméticos, aos quais os filhos recorrem no momento de aperto no orçamento”.
Empresas quebradas
No contexto de isolamento social por causa da pandemia de covid-19, que alterou o comportamento de consumo das pessoas e obrigou o comércio a cumprir uma série de restrições que vêm castigando o setor, mais de 75 mil estabelecimentos comerciais fecharam as portas no ano passado no país. No Rio de Janeiro, foram mais de 10 mil, de acordo com dados do CDLRio. Aldo Gonçalves, do Clube dos Diretores Lojistas do Rio (CDLRio) e do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Município (SindilojasRio), lembrou que, na capital fluminense, o comércio parou por quase 100 dias e cada dia parado representa cerca de R$ 405 milhões em perda de vendas.
Apesar do otimismo reduzido, os lojistas criaram promoções, descontos, sistemas de crédito diferenciados e diversificação de produtos na intenção de aumentar as vendas na data das mães. Eles apostam que vestuário, calçados, bolsas e acessórios, joias e bijuterias, perfumes, produtos de beleza deverão ser os presentes mais vendidos.
*Com informações da Agência Brasil