Início Gerais Economia GRUPO DE SÃO-JOANENSES IGNORA PANDEMIA E CONVOCA CARREATA PELA REABERTURA DE COMÉRCIO

GRUPO DE SÃO-JOANENSES IGNORA PANDEMIA E CONVOCA CARREATA PELA REABERTURA DE COMÉRCIO

Carreata defende mesmo o povo? (Imagem reprodução Facebook)

Douglas Caputo
Especial para o Notícias Gerais

Uma célula bolsonarista, ao que tudo indica, convoca a população são-joanense para carreta nesta quinta (21). Segundo as peças publicitárias que se espalham pelas redes sociais, o objetivo é preservar empregos por meio da reabertura do comércio local.

Não por acaso, um dos adeptos do movimento publicou foto de máscara encomendada especialmente para o evento. De um lado, o mandatário Jair Bolsonaro (sem partido), de outro, o slogan do executivo, “Brasil Acima de Tudo, Deus Acima de Todos”.

Com o tema “São João não pode parar”, a campanha copia outras mundo afora. Na Itália, a desastrosa “Milão não para” fez o prefeito Giuseppe Sala admitir que “errou” na estratégia. No início de maio, a cidade acumulava quase 15 mil mortos.

Já no Brasil, o Governo Federal investiu R$4,8 milhões em peças publicitárias, cujo mote era “O Brasil não pode parar”. Em veiculação a partir de 26 de março, a campanha foi suspensa cinco dias depois pelo Supremo Tribunal Federal.

Não adiantou muito, já que Bolsonaro continua sua ofensiva pela reabertura da economia, mesmo com quase 18 mil mortos pela Covid-19 até essa terça (19).

Apesar de não estar ligado ao movimento, não há manifestação pública de adesão à carreata, o prefeito de São João del-Rei, Nivaldo Andrade (PSL), também é um defensor da reabertura do comércio, conforme já publicado pelo Notícias Gerais.

Garantias: é preciso relativizar

Inoportuno (Imagem reprodução Facebook)

Garantida constitucionalmente, a liberdade de expressão deve ser feita com responsabilidade. Convocar pessoas para aglomerações, agora, é um ato inoportuno.

Isso porque São João já se enquadra na chamada transmissão comunitária do coronavírus, ou seja, não é mais possível identificar a origem da contaminação.

Apesar das reuniões públicas para fins pacíficos também serem garantidas pela Constituição, a possibilidade do vírus circular pela cidade põe em risco quem pretende se aventurar na carreata a favor da liberação do comércio.

Tal proposta se torna ainda mais descabida quando se considera que São João é cidade-polo da região.

Moradores de localidades vizinhas que fazem compras na cidade podem contaminar e serem contaminados, o que geraria um fluxo incontrolável de transmissão de Covid-19.

Para os negacionistas da iminente crise sanitária regional, contrapõem-se a insuficiência de recursos hospitalares e a curva da doença que ainda não atingiu o pico na região.

Além disso, no pior dos cenários, uma contaminação generalizada nas Vertentes poderia trazer o caos funerário, já que cidades menores não estariam preparadas para um grande volume de enterros.

A economia precisa reagir, com “abertura consciente do comércio”, conforme enfatiza o cartaz do movimento “São João não pode parar”.

Só que, para isso, é preciso considerar toda uma logística de boas práticas para que a sociedade local não pereça como já ocorrido na Itália, Espanha e Estados Unidos.

O momento requer mais reflexão e menos desatino para o bem da população. Há que se repensar a iniciativa, mesmo porque o padrão de consumo não pode ser como antes da pandemia.

Se esse padrão continuar, o que se pode esperar depois do coronavírus, um paraíso sem dor, sofrimento? Não aposte nisso.

Consciente?

Cidade com praia sem mar não deve pular onda (Arte/Agência Minas)

Ao que tudo indica, a liderança não identificada da carreta parece desconsiderar o plano “Minas Consciente”, do Governo Estadual. Ele classifica as atividades econômicas a partir de quatro “ondas”: verde, branca, amarela e vermelha.

Segundo o hotsite do plano, o Campos das Vertentes ainda está na “onda verde”, pela qual apenas alguns setores da economia estão liberados, já que não trazem grandes riscos para a população. 

Para passar para “onda branca”, a macrorregional de saúde Centro-Sul, que tem como cidades-polo Barbacena, Congonhas, Lafaiete e São João determinou um número mínimo de leitos para que ocorra a reabertura do comércio (entenda o caso).

Como se trata de decisão pactuada entre os municípios, todos eles devem atingir os critérios definidos em reunião do último dia 18. Só assim poderiam pular para a onda branca, que amplia os diferentes segmentos que vão poder abrir as portas.

Mas, até o fechamento do texto, na manhã desta quarta (20), o hotsite do Governo Estadual não inclui nenhum desses municípios na onda branca.

Ora, se os líderes da carreata defendem uma “abertura consciente do comércio” deveriam se pautar, pelo menos, nas orientações do executivo mineiro.

Sob pena da economia amargar ainda mais retração com um descontrole da Covid-19 que pode ser gerado com a flexibilização inconsciente do isolamento social.

Sem um cenário minimamente seguro, o discurso de uma pequena elite a favor “do povo” é falacioso. É como disse Mario de Andrade na obra “Macunaíma” (1928), “Pouca saúde, muita saúva, os males do Brasil são”.                    

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