Início Opinião Coluna GUIA CINÉFILO: OS DESTAQUES DE 2020 NO “CINEMA”

GUIA CINÉFILO: OS DESTAQUES DE 2020 NO “CINEMA”

Lucas Maranhão *

Os fãs de cinema tiveram sorte em 2019. O ano foi recheado de grandes filmes. Seja entre as grandes produções hollywoodianas (O Irlandês e Era Uma Vez em Hollywood), seja no cinema independente (Midsommar e O Farol), no nosso cinema (Bacurau e A Vida Invisível), ou pelo mundo (o espanhol Dor e Glória e sul-coreano Parasita). Já em 2020, desde os primeiros meses do ano, sabíamos que seria diferente.

O fechamento dos cinemas e o adiamento de diversos filmes não foi o pior problema que enfrentamos (e continuamos enfrentando), a pandemia deixará cicatrizes muito mais profundas. E nem por isso, passamos o ano sem acesso ao entretenimento audiovisual, pelo contrário, ele foi essencial. O streaming está aí para nos salvar (se isso representa ou não um risco às redes de cinemas discutiremos depois). 

Aqui mesmo no Notícias Gerais já comentamos sobre Destacamento Blood, último lançamento de Spike Lee, mas temos muitas outras produções que merecem destaque. Veja!

A Voz Suprema do Blues

A produção da Netflix é uma adaptação da peça de teatro de August Wilson, dirigida pelo – também dramaturgo – George C. Wolfe. Sendo assim, o filme adota uma estrutura teatral, com todos os seus atos acontecendo em um só lugar: um estúdio de gravação em Chicago.

Assim, somos introduzidos à Ma Rainey (Viola Davis), cantora do início do século XX, conhecida como mãe do blues. Ma é uma personagem real, mas divide protagonismo com um personagem fictício, Levee Green (Chadwick Boseman), trompetista de sua banda, que almeja uma carreira solo.

Em um roteiro construído apenas por diálogos, o brilho da produção certamente cai em seus dois atores principais: Davis e Boseman. Com falas bem escritas e afiadas, eles têm o material necessário para entregarem performances brilhantes. Vale lembrar que este é o último trabalho de Chadwick Boseman, que morreu em agosto de 2020, vítima de câncer.

Onde assistir? Netflix!

Mank

Herman Mankiewicz foi um dramaturgo que, como muitos profissionais de sua área, migrou para o cinema hollywoodiano na década de 20. Seu principal trabalho foi como roteirista, ao lado de Orson Welles, do filme Cidadão Kane (de 1945). E é justamente esse momento de sua vida que Mank apresenta.

Comandado pelo experiente diretor David Fincher, o filme ousa ao usar uma estética da época. Assim, mergulhamos na Hollywood preto-e-branca e aos poucos vamos conhecendo o universo que estimulou Mank a escrever sua obra prima. Descobrimos quem foi a principal inspiração para Charles Foster Kane e como o envolvimento do roteirista com a política afetou sua percepção de mundo.

Mank ainda conta com uma bela atuação do premiadíssimo Gary Oldman no papel principal.

Onde assistir? Netflix!

Borat 2 – Fita de Cinema Seguinte

Quem não conhece Borat? O personagem criado por Sacha Baron Coen nos anos 90 conquistou o mundo com seu filme solo de 2006. Seu estilo de humor, que mistura documentário e ficção, com intuito de mostrar o preconceito velado dentro dos entrevistados, foi um sucesso absoluto. Porém, foi também esse sucesso que impediu por muitos anos a volta do personagem, já que a efetividade da piada está justamente no total desconhecimento – por parte dos entrevistados – de quem Borat realmente é.

Se o Borat de 2006 viajava para o Estados Unidos de George Bush, o Borat de 2020 viaja para o país governado por Donald Trump. Esta é a principal diferença entre os dois filmes. E uma diferença crucial. Se antes o preconceito era velado, agora, não tanto.

Destaque também para a performance da novata atriz búlgara Maria Bakalova, que interpreta a filha de Borat, e consegue ser tão afiada em suas improvisações quanto Sacha Baron Cohen, um verdadeiro mestre no assunto.

Onde assistir? Prime Video!

Emicida: AmarElo – É Tudo Pra Ontem

Emicida certamente é um dos principais artistas brasileiros da atualidade. Esta é uma conclusão que podemos chegar ao acompanhar sua trajetória e a (já grande) carreira que criou. Da mixtape “Pra quem já Mordeu um Cachorro por Comida”, de 2009, até o álbum “AmarElo”, de 2019, Emicida passou de uma jovem promessa para uma das vozes mais lúcidas do rap nacional. A esse acervo de obras de arte agora podemos incluir também o documentário “AmarElo – É Tudo Pra Ontem”.

A produção tem como objetivo registrar a apresentação do artista no Theatro Municipal de São Paulo, mas é muito mais que isso. Podemos também acompanhar as reflexões de Emicida sobre o racismo, o papel das pessoas negras na história do Brasil e na construção da identidade nacional. Enriquecido pela musicalidade e letras impactantes do artista, o documentário ainda traz bastidores da gravação do álbum que o inspirou e participação de artistas como Fernanda Montenegro, Zeca Pagodinho e Pabllo Vittar.

Onde assistir? Netflix!

Menções honrosas: A Vastidão da Noite (Prime Video), Hamilton (Disney+) e O Som do Silêncio (Prime Video).
Outras obras de 2020 que ainda aguardam estreia oficial no Brasil (mas merecem menções pelos seus sucessos de crítica): Minari, Nomadland e First Cow.

  • É jornalista, designer e apaixonado por cinema.

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