Kamila Amaral
Notícias Gerais
Nesta quinta (3), a Coordenadoria da Mulher Advogada com Deficiência, um projeto da Comissão da Mulher Advogada (CMA) da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Minas Gerais, promoverá uma live com o tema “Mulher com deficiência: Desafios dentro e fora da pandemia”.
“Embora o título seja ‘mulher advogada’ o nosso objetivo é passar uma informação para a sociedade toda. Mas a gente foca na mulher”, explica a advogada e membro da CMA, Silvana Nazareth, que irá apresentar o encontro virtual.
A convidada será a jornalista Thais Altomar – que é mãe, esposa, chefe de família, profissional e cadeirante. “Ela representa para nós, com esse projeto, tudo que a gente precisa para falar dos desafios (que a mulher cadeirante enfrenta)”, comenta a advogada.
“A gente só vê a dificuldade quando está do lado de cá”
O principal desafio citado é a invisibilidade. Se as necessidades específicas das mulheres muitas vezes são desconsideradas socialmente, a realidade das mulheres com deficiência é ainda mais negligenciada.
“A gente só vê a dificuldade quando está do lado de cá, dos bastidores”, afirma a aposentada, Ana Paula da Silveira. Moradora de Santa Cruz de Minas, ela passou por uma amputação das duas pernas, aos dois anos de idade, após contrair uma doença que nunca chegou a ser identificada.
Hoje, aos 48 anos, Ana Paula confidencia que seu maior sonho é um novo par de próteses. A aposentada possui uma cadeira de rodas motorizada e já teve próteses, mas, há cerca de um ano, está somente com a cadeira. “É mais ou menos R$ 45 mil, cada prótese, e eu preciso das duas. Dá 90 mil reais e eu não tenho esse dinheiro”, conta Silveira.
Na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) para aquisição do equipamento, ela revela que existem momentos em que está mais engajada na luta por seus direitos, mas às vezes sente que é preciso descansar.
Ana Paula já enfrentou problemas para autenticar um documento em cartório, pois o local não tinha rampa de acesso. A funcionário do local atendeu a cadeirante do lado de fora do local.
“E era coisa simples, se eles não puderem mexer no passeio, é só fazer uma rampa de madeira. De manhã coloca lá e no fim do expediente guarda de novo. Nesse dia, eles deram sorte que eu não queria brigar, só fiz o que eu precisava fazer e fui para casa”, admite.
Outro episódio marcante, esse de mobilização, foi a construção de uma rampa em uma escola municipal da cidade. “Fui fazer aula de música e não tinha rampa. Mandei ofício para a escola, para a Prefeitura… passaram três semanas. Na quarta, eu simplesmente peguei o pedreiro pelo braço e disse: ‘não te solto enquanto você não construir aquela rampa’. Agora a rampa está lá, para quem precisar”, lembra.
Ela afirma também que tem passado bem pela pandemia de Covid-19: a família tem se mantido reclusa, uma vez que a matriarca dos Silveira, de 73 anos, passou por um procedimento cirúrgico há cerca de três meses e fazendo parte do grupo de risco da infecção pelo coronavírus, os familiares temem por seu bem-estar. “Eu moro sozinha, mas a minha mãe vive do lado. Como as minhas irmãs trabalham, sou eu que cozinho para ela”, explica.
“Os desafios são os mesmos, porém se tornam mais complicados”
A pandemia da Covid-19 não trouxe, necessariamente, novos problemas para as pessoas com deficiência. O que ocorre, muitas vezes, são complicações que potencializam e evidenciam as dificuldades já enfrentadas pelo grupo, conforme explicado pela advogada Silvana Nazareth.
“A gente pegou esse título ‘dentro e fora da pandemia’ exatamente porque os desafios são os mesmos, porém se tornam mais complicados na pandemia. Muita gente que não tem deficiência, não lembra de quem tem deficiência. Então, um dos nossos focos na live é a invisibilidade da pessoa com deficiência’, sinaliza Silvana.
Para ela, uma das maneiras de resolver efetivamente os problemas dessa – grande – parte da população é praticando o ato de ouvi-la. Isso impede que sejam adotadas “soluções bonitas e muitas vezes bem-intencionadas, mas que na prática são pouco efetivas”.
Além da situação das pessoas com deficiência em geral, as mulheres têm ainda a carga de cuidados com a família e suas – até triplas – jornadas de trabalho.
“A pandemia complica ainda mais a situação. E tem também as pessoas com deficiência que possuem alguma comorbidade associada. A pessoa com deficiência nem sempre tem doença, mas as vezes você tem diabetes associada a uma deficiência visual, por exemplo. Ou qualquer outra deficiência que tenha uma doença associada. Igualzinho qualquer outra pessoa que tenha algum problema de saúde. Aí, a pandemia complica um pouco isso”, enfatiza a advogada.
Serviço
A live “Mulher com deficiência: Desafios dentro e fora da pandemia” ocorrerá nesta quinta (3), às 17h. A transmissão ao vivo poderá ser assistida pelo Instagram: @cmaoabmg.