Kamila Amaral
Notícias Gerais
Os ataques à imprensa no Campo das Vertentes tem se tornado cada vez mais recorrentes. Assim como em todo o território nacional, cada vez mais jornalistas e veículos de comunicação da região sofrem com ataques físicos e verbais.
Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o número de ataques à profissionais da imprensa cresceu 54% em 2019, em relação ao ano anterior.
Entidades e categorias de diversos setores classificam os ataques à imprensa como ataques diretos à democracia.
Ataques à imprensa no Campo das Vertentes
No final do mês de maio, um dos colaboradores da Folha de Barbacena (FB) foi acusado, injustamente, de ter criado uma petição on-line contrária à reabertura do comércio em Barbacena.
Em um grupo de rede social, foram divulgados vários áudios ofendendo e ameaçando o estagiário da Folha de Barbacena, Iuri Fontora. “Um dos áudios, que eu tornei público, dizia que eu era um ‘faveladozinho’ ali do Santa Luzia. Pegar esse cara e dar um pau nele”, relembra Iuri.
O profissional não se deixou intimidar e entregou o material às autoridades competentes. “No jornalismo você nunca deve se sentir intimidado, ainda mais estando certo; agi como se deve agir”, afirma Fontora.
Ele conta também que, após a repercussão do caso, recebeu apoio de outros veículos da região e também de pessoas de diversos outros setores. Fontora não acredita que os ataques amedrontam os jornalistas a ponto de mudar suas formas de trabalho, pelo contrário, isso seria um incentivo para os profissionais que atuam na defesa dos interesses da população.
“É claro que fica uma situação ruim, porque foge da normalidade e, ao tentar desqualificar ou ameaçar a imprensa, você está agindo contra os interesses da população, os interesses de quem quer saber a verdade”, afirma.
Mesmo com todas as dificuldades, ele acredita que é possível reverter a situação dos ataques constantes à imprensa e seus profissionais. “O primeiro passo é acreditar nas instituições. O segundo passo é não se calar, continuar o trabalho e, sempre que isso acontecer, não recuar e acionar a justiça, para mostrar que toda ação tem uma reação”, declara.
Imprensa na capital versus no interior
Já o jornalista Adriano Vianini, do portal Mais Vertentes, destaca as peculiaridades do trabalho da imprensa em cidades do interior. Segundo ele, nas capitais, o trabalho do sindicato é mais atuante e os próprios veículos são mais bem estruturados. “No interior falta estrutura, não existe um sindicato de jornalistas, a imprensa não é investigativa, mas institucional, e os próprios jornalistas não se ajudam”, classifica.
O cenário de polarização política no Brasil favorece os ataques que o jornalismo enfrenta diariamente nos últimos anos. “Nesse ambiente, as fake news são atribuídas aos profissionais da área como uma forma de desacreditar o trabalho dos meios de comunicação e tentar intimidar o jornalismo crítico”, diz Vianini.
Para o jornalista, que tem 25 anos de profissão, a polarização tem prejudicado o entendimento geral sobre o fato de que a imprensa não cria fatos, ela os noticia. “As pessoas estão dando a nós o poder de criadores de fatos e isso a gente não faz. Os fatos acontecem e cabe ao jornalista contá-los. É preciso entender que o jornalista não produz fake news porque isso é fraude. O jornalista pode errar e, quando isso ocorre, ele pede desculpa e enfrenta punição legal, podendo até ser demitido. Fraude é completamente diferente do erro jornalístico”, explica.
Além dos governantes e dos próprios jornalistas e veículos de imprensa, a sociedade civil tem um papel importante nesse cenário. “A sociedade sabe reconhecer um jornalismo sério. Porém, a sociedade precisa também saber reconhecer que a democracia está em risco no Brasil. Acreditar que o militarismo irá salvar o país ou acabar com a corrupção é um equívoco dos tolos”, defende Vianini.
Ele acredita que a corrupção só acaba quando houver transparência e fiscalização, inclusive da imprensa. “A democracia só sobrevive quando há ambiente favorável e respeito às instituições”, conclui.
“O jornalismo sério fica”
Apesar do cenário desfavorável, parece ser um consenso entre os profissionais da área a percepção de que o jornalismo se manterá, como sempre, frente aos ataques, ao obscurantismo e aos governos autoritários.
“Eu sempre cito Mario Quintana quando me perguntam sobre isso, ‘a todos aqueles que atravancaram o meu caminho, eles passarão e eu passarinho’. Durante a história todos passaram, mas a imprensa ficou”, disse Fontora. O pensamento é compartilhado por Vianini. “Os governantes passam, mas o jornalismo sério fica e se fortalece a cada dia”, afirma o jornalista.