Por Najla Passos
Da Editoria
A exatos 198 Km de São João del-Rei, a Fazenda Santa Clara, que foi a maior em número de escravos da América Latina, ressoa o lembrete de que é preciso acertar as contas com a nossa história. Quase 132 anos após uma abolição da escravatura que já veio mais do que tardia, o Brasil pouco conhece do seu passado. E engatinha no que é precisa fazer para sanar suas marcas profundas.
Encravada no município mineiro de Santa Rita de Jacutinga, já na fronteira com o Rio de Janeiro, a Santa Clara é uma construção arquitetônica tão grandiosa que faz lembrar Versalhes, o palácio francês que incitou a revolução francesa. A fazenda mineira comporta 365 janelas (uma para cada dia do ano), 12 salões de festa (um para cada mês) e 52 quartos (um para cada semana).
Começou a ser erguida em 1805 e levou 30 anos para ficar pronta, mesmo sustentada no trabalho escravo contínuo e exaustivo, que jamais conhecia descanso. Mas a opulência de suas entranhas justifica o prazo. Piso de pinho de riga, que vinha da Rússia no assoalho dos navios.
A fazenda mineira comporta 365 janelas (uma para cada dia do ano), 12 salões de festa (um para cada mês) e 52 quartos (um para cada semana).
Telhas francesas, que se perderam com o passar dos séculos. E inovações de engenharia
impressionantes: banheiros com escoamento direto, galerias para refrigeração da casa,
sistema de filtragem de água, dentre outros.
Atividade principal era produção de ‘escravos’
Todo esse luxo, claro, ficava restrito à Casa Grande. Nas senzalas, as belas janelas eram falsas; o chão, de terra batida. Nenhum móvel, tapete, cobertor. Nem mesmo uma tina de água. Os 2,8 mil negros que viviam ali concomitantemente eram tratados como lixo. Mas não era só isso. A história oficial conta que a Santa Clara foi uma das maiores fazendas de cafeicultura do país. Mas há quem defenda a tese de que isso era só uma cortina de fumaça: a atividade principal seria a “criação” de escravos, numa época em que isso já era ilegal.
Confinadas em espaço isolado, 400 negras parideiras eram obrigadas a se dedicar
exclusivamente a uma tarefa tão inusitada quanto desumana: engravidar e parir novos negros para sustentar um sistema econômico que manchou para sempre a nossa história. Para cada grupo de 20 delas, havia um negro garanhão encarregado. Negros esses escolhidos a dedo: os mais altos, mais fortes e com melhores dentições!
Confinadas em espaço isolado, 400 ESCRAVAS eram obrigadas a engravidar e parir negros para sustentar um sistema econômico que manchou para sempre a nossa história.
Na fazenda, fujões e insubordinados eram tratados sem nenhuma piedade. A masmorra à
prova de fuga possuía aparelhos de tortura assustadores e variados. Era lacrada com uma
porta de ferro de variadas trancas. E localizada exatamente em frente à sala do capitão do mato, que hoje os herdeiros da propriedade enfeitam com gravuras de orixás africanos para homenagear aqueles que tombaram e sofreram por lá.
Cenário de novelas como Terra Nostra
A propriedade, que já foi palco da filmagem de produções globais como a novela Terra Nostra, encontra-se em mau estado de conservação, com problemas estruturais visíveis. Os herdeiros tentam um acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para preservá-la. Ainda assim, encontra-se aberta à visitação guiada, ao custo de R$ 15 por pessoa.
A sensação de estupor, revolta e indignação que a visita provoca em nada difere daquelas
experimentadas nos campos de concentração nazistas. Não é um roteiro fácil, embora extremamente importante para que se amplie a consciência do genocídio que a nação tenta esconder.
Os registros do tamanho da barbárie da escravidão no Brasil são incertos. A melhor fonte de informação a respeito é o censo de 1872, introduzido por D. Pedro II, que registrou 10 milhões de habitantes nas dez províncias brasileiras, sendo que 15,24% deles eram escravos. Lançados à própria sorte após a abolição, eles engrossaram a massa pobre das favelas e periferias.
O Ativador Office 2019 é a versão autônoma mais recente do renomado pacote de produtividade da Microsoft, seguindo o Office 2016. Ao contrário do Office 365, que é baseado em assinatura e recebe atualizações regulares e acréscimos de recursos, o Office 2019 é uma compra única que não inclui atualizações contínuas. Ele foi projetado para usuários que preferem um modelo tradicional de licenciamento de software e não precisam de serviços baseados em nuvem ou atualizações contínuas de recursos.
Ainda hoje, os negros são maioria entre a população mais necessitada, ganham menos do que os brancos e têm menor acesso à saúde e educação.