Início Gerais Brasil “PAI, AFASTA DE MIM ESSE ‘CALE-SE'”

“PAI, AFASTA DE MIM ESSE ‘CALE-SE'”

Imagem: Reprodução/YouTube

Douglas Caputo
Especial para o Notícias Gerais

Depois do berrante, os berros. Não é difícil entender que o desespero leva a ações
extremas. Mas extremistas, aí já é bem diferente. Não por acaso, o mandatário Jair
Bolsonaro (sem partido) teve mais um de seus rompantes antidemocráticos nessa
terça-feira (5).

Ao sair do Palácio da Alvorada na manhã de ontem, vociferou contra repórteres, “Cala
a boca! Não te perguntei nada!”, gritou Bolsonaro ao ser questionado por uma
repórter se ele havia pedido a troca da superintendência da Polícia Federal (PF) no
Rio de Janeiro.

Interpelado por outro jornalista sobre o mesmo assunto, a mandatário berrou
novamente, “Cala a boca! Cala a boca!”. O acesso de fúria de Bolsonaro ocorreu
enquanto o mandatário segurava uma imagem que reproduzia a versão impressa da
Folha de S. Paulo dessa terça.

A manchete de capa do jornal estampava, “Novo diretor da PF assume e acata pedido
de Bolsonaro”, em referência à nomeação de Rolando de Souza como diretor-geral da
instituição. Souza teria sido indicado por Alexandre Ramagem, impedido pelo
Supremo de assumir o mesmo cargo.

Isso porque, ao deixar o governo, o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, havia
denunciado que a indicação de Ramagem era um ato político e motivado por
interesses pessoais de Bolsonaro diante da PF, que investiga supostos crimes do
senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente.

Imediatamente à posse, Souza convidou o atual chefe da PF no Rio, Carlos Henrique
Oliveira, para o cargo de diretor-executivo do órgão em Brasília, segundo na hierarquia
da instituição. A ida de Oliveira para o Planalto causou estranheza na corporação, já
que a sua saída deixa a superintendência carioca aberta a um nome ainda
desconhecido.

A troca no Rio era um desejo de Bolsonaro, além disso Souza e Oliveira não são
próximos e o novo diretor-executivo está há menos de seis meses na chefia da PF
carioca, considerado pouco tempo para que haja uma troca de comando.

Comparação

“Cala a Boca! Desliga essa droga aí”. Imagem: Reprodução/YouTube

O ataque de Bolsonaro contra os repórteres foi comparado, nas redes sociais, em vídeo produzido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF), à
agressão do general Newton Cruz contra o jornalista Honório Dantas em 1983, dois
anos antes do fim da Ditadura Militar no Brasil.

Durante entrevista ao vivo, Dantas, então jornalista da Rádio Planalto, perguntou ao
general sobre medidas de emergência decretadas pelo Governo Federal. A resposta
veio com um “desliga essa droga”, ao se referir ao gravador do repórter.

Só que o ataque não parou nisso. Assim que Cruz deu as costas, o radialista ironizou
sobre o comportamento do militar que voltou ao local. O general chamou o profissional
de “moleque” e aplicou-lhe uma chave de braço, o golpe só foi encerrado com um
pedido de desculpas de Dantas.

Embora não tenha partido para as vias de fato com os jornalistas, Bolsonaro usou o
mesmo tom agressivo ao se referir à imprensa. “Canalha é elogio para a Folha de
S.Paulo” e arrematou “Isso é uma patifaria!”. Mais tarde, de volta ao Alvorada, o
mandatário tentou contornar a situação. “Quero me desculpar, de manhã fui grosseiro
com uma senhora e um senhor aqui“.

A ira de Bolsonaro aconteceu dois dias depois de manifestação violenta em Brasília,
quando bolsonaristas agrediram fisicamente repórteres que faziam cobertura do
protesto.

Diretora-executiva do Notícias Gerais, a jornalista Najla Passos manifesta apoio aos
colegas de profissão e repudia a postura antidemocrática de Bolsonaro.

“O NG acredita no jornalismo como ferramenta indispensável para a Democracia. Não
só em Brasília, mas em Minas e em outros estados, onde há casos de agressões
contra repórteres. Vamos continuar lutando para que isso não se torne prática
comum”, conclui.

Conforme o Art. 220 da Constituição Federal, “A manifestação do pensamento, a
criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não
sofrerão qualquer restrição”.

É como diz a letra de Gilberto Gil imortalizada na voz de Chico Buarque: “Pai afasta de
mim esse cálice, de vinho tinto de sangue”.

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