Celso Bejarano e André Frigo
Notícias Gerais
Brasília (DF) e São João del-Rei (MG) – Parlamentares mineiros que atuam em Brasília que se manifestaram até o início da noite quanto à derrocada do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde), demitido do cargo por Jair Bolsonaro, na tarde desta quinta-feira (16), opinaram de modo distinto quanto a atitude do presidente.
Pelas redes sociais, o senador Antônio Anastásia (PSDB-MG), ao contrário da direção nacional de seu partido, que criticou a demissão de Mandetta, foi comedido ao elogiar o trabalho do ex-ministro e desejar sorte ao novo chefe da pasta, o médico oncologista Nelson Teich. Mandetta, que é médico ortopedista, foi tirado do ministério por discordar de Bolsonaro nas estratégias de combate ao coronavírus.
“É muito positivo quando um servidor realiza com galhardia e eficiência seu trabalho. É o que todos esperamos quando falamos do serviço público. O ministro Luiz Henrique Mandetta, com muito esforço e dedicação, honrou nossa Nação e seu trabalho como médico, servindo à Nação com base nos seus conhecimentos técnicos e científicos. Merece nossos agradecimentos e nosso melhor reconhecimento”, afirmou o senador.
Anastásia ainda acrescentou: “Ao novo ministro Nelson Teich desejo sucesso e um bom trabalho. O Brasil necessita e espera isso, especialmente nesse momento”.
Já o senador Rodrigo Pacheco, um dos líderes do DEM (sigla do ministro Mandetta) no Congresso Nacional, um dia antes da demissão, disse em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo que a exoneração do ex-ministro pode ter consequência. Para ele, Mandetta “age com base na ciência” e que segue as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Aqueles [países] que não enfrentaram da forma como Mandetta está sugerindo estão arcando com as consequências tardiamente e gravemente”, disse o senador mineiro à Folha. Imposição do distanciamento social sustentado à exaustão por Mandetta foi um dos motivos de sua demissão. Bolsonaro vem pregando o fim do isolamento social horizontal e em alguns discursos, chamou a doença que atinge quase todos os países do planeta, de “gripezinha”.
O comando nacional do DEM, sigla de Pacheco, por meio de nota divulgado à imprensa logo depois da demissão de Mandetta, comentou o caso, mas sem posicionamento crítico. Limitou-se a enaltecer o ex-ministro e pediu ao substituto que siga o recomendado pela OMS, ou seja, que mantenha a política de prevenção exercida por Mandetta.
“O Democratas reconhece o trabalho exemplar desenvolvido por Luiz Henrique Mandetta à frente do Ministério da Saúde. Diante da crise do Coronavírus, Mandetta sempre agiu de acordo com critérios científicos para tentar conter o avanço da pandemia e, assim, diminuir ao máximo a perda de vidas”, diz trecho do comunicado.
Já o PSDB nacional, sigla do deputado federal Aécio Neves que ainda não se manifestou quanto à saída de Mandetta, em nota, usou um tom mais firme: “é lamentável a demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, no momento em que o país caminha para a fase mais aguda da pandemia. Mandetta se tornou alvo de críticas e intrigas dentro do governo nos últimos dias, justamente por estar fazendo um bom trabalho, alinhado à ciência, aos organismos e às autoridades internacionais. O que se espera, neste momento, é que seu substituto mantenha a linha de atuação que os países, na sua grande maioria, estão adotando”.
O presidente do Senado e do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, ambos do DEM, assinaram juntos um comunicado em que comentaram a saída de Mandetta. Em tom político, pediram ao novo ministro que “dê continuidade ao bom trabalho que vinha sendo desempenhado pelo Ministério da Saúde, agindo de forma vigorosa, de acordo com as melhores técnicas científica”.
Maia e Alcolumbre afirmaram na nota que a “vida e a saúde dos brasileiros devem ser sempre nossa maior prioridade. O Congresso Nacional deseja êxito ao novo ministro em sua enorme responsabilidade e imenso desafio. O Parlamento faz um apelo à união e ao bom senso dos poderes da República a fim de que, juntos, possamos somar esforços contra o verdadeiro inimigo público da Nação, que é a pandemia da Covid-19”.
O deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG) vê na troca de nomes no Ministério da Saúde uma opção do presidente Bolsonaro pela economia ao invés de privilegiar a vida. O deputado ressalta que a OMS lista seis condições fundamentais para os países adotarem o relaxamento do isolamento social. “O Brasil está longe de cumprir qualquer uma delas. Então não eu não sei como o ministro vai respeitar vidas e ao mesmo tempo fazer o jogo irresponsável de reabrir a economia”, afirmou.
Reginaldo Lopes, que é crítico as ações de Bolsonaro na condução do combate à pandemia, enxerga que o futuro ministro da saúde vai enfrentar um dilema: “Não sei o que o novo ministro vai defender. Se a irresponsabilidade dos crimes que Bolsonaro comete em relação aos códigos sanitários brasileiros ou se ele vai defender a vida”, acrescentou.
A reportagem de Notícias Gerais tentou contato com outros parlamentares de Minas Gerais, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.