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“TENHO OLHADO COM CETICISMO ESTA DITA LITERATURA DE RESISTÊNCIA”, DIZ MARCELO PEREIRA RODRIGUES

Marcelo Pereira Rodrigues autografando “Corda Sobre o Abismo”, na Livraria Leitura do BH Shopping.
(Imagem: Arquivo Pessoal)

Kamila Amaral
Notícias Gerais

No sábado (14), às 14h, um grupo de escritores vai se reunir para um bate-papo literário, na Livraria Leitura, localizada no BH Shopping, em Belo Horizonte – MG. Tendo a literatura como pano de fundo, a discussão abordará temas variados, mas que tenham relação com o trabalho dos sete autores convidados.

Entre os escritores presentes estará Marcelo Pereira Rodrigues, natural de Barbacena – MG, mas com laços em São João del-Rei. Rodrigues se formou em Filosofia, em 2003, pela Universidade Federal de São João del-Rei – UFSJ. 

Os dois primeiros livros do autor foram publicados ainda na época da faculdade. Desde então, já são 14 obras publicadas, entre coleções de crônicas e romances. O escritor fala com muito carinho da UFSJ e de São João del-Rei. “É a casa que me formou”, declara. E mesmo não tendo seguido carreira na área, Rodrigues afirma ter a filosofia como base na vida pessoal, intelectual e profissional. 

Além de escritor, Rodrigues também é editor da Revista Conhece-te, periódico mensal de cultura e literatura, idealizado por ele e que se mantém a dezenove anos.

Em entrevista ao Notícias Gerais, Marcelo Pereira Rodrigues contou um pouco da história que começou com a publicação de crônicas nos murais do Campus Dom Bosco da UFSJ e já rendeu 14 obras publicadas e quase vinte anos vivendo de literatura. 

eu tenho olhado com muito ceticismo esta dita “literatura de resistência” ou de afirmação das minorias. Não que eu não valorize as minorias, não é essa a questão, mas muitos estão vendendo como livros de mulheres, de negros, de LGBTs, mas para mim a classificação essencial do livro é se ele é bom ou não.

Marcelo Pereira Rodrigues autografando na Bienal Internacional do Rio de Janeiro em 2019.
(Imagem: Arquivo Pessoal)

NG – O que você busca retratar em seus livros? Existe um tema recorrente em suas obras?

MPR – Eu escrevo dois gêneros, crônicas e romances. A crítica especializada afirmou que que eu escrevo romances filosóficos. Porém, eu não escrevo tratados de filosofia, eu escrevo com questões filosóficas do nosso dia a dia, da nossa contemporaneidade, aspectos que estão presentes na nossa sociedade, dramas humanos. Isso está bem representado no meu último romance,“ A Queda”. Pessoas que o leram o definiram como uma espécie de “A vida como ela é”, aquele epíteto do Nelson Rodrigues, por tratar tanto da realidade, que modéstia a parte, faz os personagens, que sempre são fictícios, parecerem reais. Com relação às crônicas, eu desenvolvi uma narrativa, até pelo fato de mensalmente eu ter que escrever um artigo de opinião para a Revista Conhece-te, eu desenvolvi um texto crítico, um texto que pode ser até mesmo atemporal, algumas crônicas passam assim até ao largo da temporalidade. Mas são crônicas que em determinado momento eu publiquei em formato de livros, como coletâneas. São textos breves, com fundo reflexivo, até mesmo de provocação, no bom sentido, sendo que eu como pensador tenho como princípio não querer que as pessoas comprem as minhas ideias, gosto que as pessoas se coloquem a pensar. 

NG – Qual é a influência do contexto político e cultural nacional na criação das suas obras?

MPR – Ao longo da minha carreira, eu posso abordar diversas fases do meu pensamento e como nós somos mutantes, digamos assim, de um tempo pra cá eu tenho ficado meio ao largo dessas discussões de gostos partidários A  e B. Eu venho sentido que a discussão está muito polarizada, muito vazia e pouco refletida. Eu tenho pensado muito ultimamente na arte, no valor da arte e no valor da literatura, que acaba sendo universal e muito mais importante do que a realidade como ela nos apresenta. Sobre as coisas do país, eu tenho olhado com muito ceticismo esta dita “literatura de resistência” ou de afirmação das minorias. Não que eu não valorize as minorias, não é essa a questão, mas muitos estão vendendo como livros de mulheres, de negros, de LGBTs, mas para mim a classificação essencial do livro é se ele é bom ou não. 

NG – Entre as suas obras está “O Filósofo Idiota: O livro proibido na UFSJ”. Qual a história por trás desse livro?

MPR – Esse é um livro que eu tenho o maior carinho com ele, porque eu cometi um “atrevimento” que é o seguinte, uma característica que eu tenho nos meus livros, principalmente nos romances, é que mesmo que as histórias sejam ficcionais eu gosto de retratar os cenários com exatidão. Então, grande parte desse livro se passa em São João del-Rei. E eu aproveitei meu tempo de estudante para, ao escrever o livro, fazer alguns cenários e roteiros que tem muito de São João del-Rei e, principalmente, do Campus Dom Bosco da UFSJ. E de modo engraçado, os únicos personagens mais “reais” deste livro são os professores que eu tive. A história é muito divertida, é um orgulho para mim ter escrito esse livro. 

“Esse lado democrático das mídias sociais é muito bom, é um facilitador, mas ele também pode ocasionar o modismo até no ofício da escrita.” 

O escritor participou também da Bienal Internacional do Livro de São Paulo em 2018.
(Imagem: Arquivo Pessoal)

NG – Como você avalia o mercado literário atual?

MPR – Eu tenho uma sorte de ter começado em uma época em que a internet estava apenas encaminhando, era um momento que a gente tinha um contato mais direto com nosso leitor e eu procurei manter isso ao longo do tempo. Mesmo, atualmente, crescendo muito meu número de leitores, tendo as vendas pelo site, as vendas nas livrarias, eu nunca perdi o foco no objetivo do meu trabalho, que é exatamente dar atenção ao meu público leitor. Para mim, essa relação com o mercado sempre foi fruto de muito trabalho, de muita divulgação, de muito empenho. Eu tenho muita desconfiança em relação a esses sucessos que brotam da noite para o dia. Eu penso que uma obra de arte, um livro, é para ser julgado por ele em si, ou seja, pela excelência dele ou não. E o mercado nem sempre está preocupado com o valor artístico da obra e sim com seu valor comercial. Eu não fico muito ligado ao mercado, porque acredito que quando você lança um livro ou desenvolve algum trabalho artístico, você deve necessariamente estar fora dessas questões de mercado. Eu sou um felizardo, tenho meus livros vendidos e consigo viver disso. Mas para além disso, o Brasil está passando por uma crise no setor livreiro, uma vez que duas das maiores varejistas de livros entraram em regime de recuperação judicial, esse mercado está muito abalado. Eu tento passar ao largo disso tudo. Nós, infelizmente, estamos em um país que lê pouco, a gente não tem os livros como prioridade, e isso é muito triste. E não é uma questão só desse governo, nós temos um histórico de governos que parecem não investir na educação. 

NG – Como você avalia o impacto das novas tecnologias e plataformas digitais na literatura?

MPR – Eu vejo de uma maneira extremamente positiva. A única coisa que eu percebo e para isso eu sempre uso a fala dos escritor italiano Umberto Eco, que disse “Antes os imbecis eram imediatamente silenciados, agora, com o advento das redes sociais, eles ganharam o mesmo direito a palavra que um Prêmio Nobel”. Esse lado democrático das mídias sociais é muito bom, é um facilitador, mas ele também pode ocasionar o modismo até no ofício da escrita. 

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