Início Gerais Política VEREADORA DENUNCIA PERSEGUIÇÃO DE COLEGA NA CÂMARA DE SÃO TIAGO; PARLAMENTAR NEGA

VEREADORA DENUNCIA PERSEGUIÇÃO DE COLEGA NA CÂMARA DE SÃO TIAGO; PARLAMENTAR NEGA

Aparecida Maria da Silva (PDT) e Eduardo Kennedy Martins (PSDB). Fotos: Câmara de São Tiago – Montagem: Notícias Gerais.

Kamila Amaral
Notícias Gerais

A vereadora Aparecida Maria da Silva (PDT) – conhecida como Cida Preta, de São Tiago – está denunciando o também vereador Eduardo Kennedy Martins (PSDB) por assédio e perseguição. Na última sexta (19), ela registrou um boletim de ocorrência contra o parlamentar e, segundo ela, na segunda (22), ao tirar satisfação sobre a denúncia, o vereador teria puxado seu braço. Os dois estavam na prefeitura, local de trabalho de ambos, e, de acordo com a parlamentar, uma colega de trabalho precisou interferir na situação.

“Ele estava mais nervoso ainda. Eu estava com as minhas coisas de tomar café, na hora do meu lanche de manhã, e ele veio pegando no meu braço e falando ‘Vem cá que eu quero conversar com você, eu preciso conversar com você”, conta Cida Preta ao Notícias Gerais.

À reportagem, Eduardo Martins confirma que foi procurar a vereadora no prédio do Executivo, na manhã de segunda (22), mas apresenta outra versão do ocorrido. 

“Eu não pus a mão nela. Eu posso ter encostado nela, porque a gente estava em uma escada, tinha umas meninas perto e aí falei com ela ‘Eu preciso conversar com você, Cida. Vamos ali dentro’. Mas assim, ‘dentro’ não era em local fechado não, era na entrada da prefeitura. (Eu)(chamei para) sair de perto das pessoas”, afirma o vereador. 

Perseguição

Cumprindo seu primeiro mandato, Cida Preta foi a terceira vereadora mais votada em São Tiago. Ela alega que a situação de assédio e perseguição tem acontecido desde a primeira reunião do Legislativo em 2021. 

“É nítido em todas reuniões que o alvo dele sou eu”, diz Cida. Para ela, os embates que ocorrem por motivos políticos dentro da Câmara são comuns e realmente acontecem – o problema é quando isso é levado para o âmbito pessoal. 

“Nas reuniões ele também tenta me diminuir, as vezes com informações que ele já sabe. Então ele tenta mostrar que eu sou menos (capaz), que eu não sei do que eu estou falando, nem fazendo”, relata a vereadora.

Na versão do vereador Eduardo Kennedy Martins, tudo começou porque ele questionou – na primeira reunião da Câmara no atual mandato – uma das falas da vereadora Cida durante a campanha eleitoral: ela teria dito que um vereador deveria receber um salário mínimo. Após a posse, ele a questionou se ainda pensava assim e a vereadora teria negado essa fala.

“Na próxima reunião (depois dessa fala), eu levei o vídeo dela falando que, pra ela, um salário mínimo estava bom. Ela disse que não falou isso, mas está lá gravado. E foi isso, ‘morreu a questão’, não toquei mais no assunto”, declara o tucano.

O boletim de ocorrência

O estopim para o registro do boletim de ocorrência aconteceu na quinta (18). Outro motivo de conflito entre os colegas de Legislativo é que, enquanto o vereador Eduardo Martins defende que a administração municipal divulgue a lista com o nome dos vacinados para Covid-19, Cida pensa diferente. 

“Para mim, particularmente, o que importa é as pessoas estarem vacinadas, seguindo os protocolos de vacinação, que todos estejam vacinados. Quanto a revelar nomes, isso para mim não importa. São Tiago é uma cidade pequena, então eu acredito que em muito pouco tempo todo mundo vai estar vacinado”, comenta Cida. 

Na ocasião, o vereador psdbista, que é presidente da Comissão de Saúde da Câmara de São Tiago, estava na Câmara para assinar um documento que seria enviado ao Ministério Público comunicando que a prefeitura não havia solicitado – ao Legislativo – a divulgação da lista de vacinados, o que era uma orientação do MPMG. 

“Eu cheguei lá para assinar o comunicado e, por educação, eu perguntei aos vereadores presentes se eles iam querer me acompanhar na assinatura. O que me foi respondido pela vereadora (Cida) e pelos demais vereadores presentes foi que eles não iriam assinar. A vereadora Cida me questionou da seguinte maneira: ‘Você tem alguma prova de coisa errada?’ Eu falei que não. (…)”, narra o vereador. 

Martins argumenta que acredita nos profissionais da saúde de São Tiago e em seus trabalhos. No entanto, enquanto vereador, tem a obrigação de estar a par das coisas que estão acontecendo. 

“Eu falei para todos os vereadores: ‘Para assinar isso aqui ‘tem que ser macho’. Não é qualquer um que assina isso aqui não’. Eu falei ‘macho’ não no sentido de ‘opção’ (orientação) sexual de ninguém. Eu falei como uma questão de coragem, a gente no interior a gente fala isso. Essa foi a minha fala, mas eu não dirigi à vereadora”, relata Eduardo. 

Na versão da vereadora, depois que os vereadores presentes naquele momento se recusaram a assinar o documento, o vereador teria virado para ela e dito a seguinte frase: “é bom mesmo você não assinar, porque isso aqui é para macho”. 

“Aí quando eu estava saindo da Câmara eu perguntei para ele ‘Você vai parar de me perseguir quando?’”. A resposta teria sido que ela não viu nada e que ele estava só começando. “Fiz o B.O. porque ele confirmou que vai continuar me perseguindo”, afirma Cida. 

“O que eu falei foi que eu, enquanto fosse vereador, ia fiscalizar o município, que eu ainda nem tinha começado a fiscalizar”, rebate o vereador. Ele indica que não ouviu a pergunta da vereadora sobre persegui-la.  

Medidas cabíveis

Além do boletim de ocorrência, a vereadora encaminhou a situação para o Comitê de Ética da Câmara Municipal de São Tiago e aguarda o parecer sobre o caso para dar continuidade às providências cabíveis.

“Eu estou me defendendo e não vou tolerar esse tipo de coisa, porque a minha vida inteira eu venho sofrendo preconceito por ser negra, por ser pobre, por ser homossexual, por ter opinião forte”, pontua Cida, ao NG

Apoio à parlamentar

O caso ganhou repercussão nas redes sociais, fazendo com que entidades e movimentos prestem apoio à vereadora Cida (PDT). A vereadora Lívia Guimarães (PT), de São João del-Rei, defende que não se pode admitir esse tipo de atitude em uma Câmara de Vereadores e que o que está acontecendo com Cida Preta é uma afronta à liberdade.

“Ela foi eleita democraticamente para exercer o cargo de vereadora. Não vamos admitir que ela seja perseguida por ser mulher, negra ou lésbica”, indica Lívia. 

Em sua página no Facebook, a petista publicou uma nota de solidariedade para Cida, assinada também pelo vereador são-joanense, Rogério Bosco (PT); Marina Campos, presidenta do PSOL São João del-Rei; José Raimundo, presidente do PT São João del-Rei; Sindicato dos Servidores da UFSJ (Sinds UFSJ); Frente Brasil Popular; União da Juventude Comunista (UJC UFSJ); Seção Sindical dos Docentes da UFSJ (Adufsj); Fórum de Mulheres das Vertentes; Macaé Evaristo (PT), vereadora em Belo Horizonte; Afronte; Levante Popular da Juventude e Sindicato dos Trabalhadores em Saúde (Sintras).

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