Redação
Notícias Gerais
Conforme publicado pelo Notícias Gerais nessa quarta (6), a relação entre o prefeito de São João del-Rei, Nivaldo Andrade, e os outros prefeitos da região parece não estar das melhores. O motivo para tal afirmação? O chefe do Poder Executivo são-joanense, insiste em querer reabrir os estabelecimentos comerciais não essenciais da cidade, mesmo com acordos intermunicipais indicando que essa decisão precisa ser delineada em conjunto – visto que o que uma cidade faz impacta a outra, já que o sistema de saúde no Brasil é regional.
Além disso, nesta semana, dois episódios destacam a discordância entre os prefeitos das Vertentes. Na terça (5), durante reunião na Câmara dos Vereadores transmitida on-line, Nivaldo destinou críticas para alguns prefeitos, não mencionados.
“Quando nós vamos nas casas das pessoas, a promessa é uma coisa: ‘pode votar em mim que eu vou dar minha vida pra você’. A conversa é esta. Mas depois que ganha, os prefeitos que estão aí, eu não vejo ninguém brigar, morrer ou matar por ninguém. E eu dei minha prova, filmando e tudo, estou no Rio. Aqui tá com epidemia, mas eu vim. E se eu tiver que morrer, já vivi muito, 63 anos eu já vivi bem”, provocou.
“[…] os prefeitos que estão aí, eu não vejo ninguém brigar, morrer ou matar por ninguém. E eu dei minha prova, filmando e tudo, estou no Rio. Aqui tá com epidemia, mas eu vim. E se eu tiver que morrer, já vivi muito, 63 anos eu já vivi bem”
– Nivaldo Andrade, prefeito de São João del-Rei.
Já nessa quarta (6), em comunicado audiovisual publicado pela administração municipal de São João del-Rei no Facebook, a crítica foi mais direta: os prefeitos das cidades que compõem o Campo das Vertentes foram alvos de ataques do Poder Executivo local.
Dessa vez, o interlocutor da crítica foi Tovar Luiz, profissional de comunicação da prefeitura, que, em determinado trecho do vídeo, disse: “as prefeituras da região do Campo das Vertentes, que desejam fazer uma ação social como a Prefeitura de São João del-Rei, deveriam comprar respiradores para doarem para a Santa Casa, Hospital e a Upa de São João del-Rei, onde essas prefeituras dependem do sistema de saúde do nosso município. Então faça ação social, não, ação política”.
Assista:
Horas depois da publicação de uma matéria do NG citando o teor do vídeo acima, a publicação foi apagada da rede social. No entanto, já tinha sido assistido por centenas de pessoas da região.
Autoridades do Campo das Vertentes comentam
Alguns prefeitos da região já se posicionaram sobre a flexibilização do distanciamento social, a dependência do sistema de saúde de São João del-Rei, que é a cidade polo da respectiva microrregião, e as críticas feitas nessa semana por Nivaldo Andrade e Tovar Luiz. Confira:
Marcílio Tadeu Teixeira Cotta (MDB) é prefeito de Dores de Campos – município com cerca de 10 mil habitantes, que possui uma policlínica para algumas consultas e outros procedimentos, mas que vai depender do sistema regional de saúde, caso ocorra o agravamento de algum paciente com Covid-19.
Durante entrevista, Marcílio defendeu que “ainda não é hora de relaxarmos (o isolamento). O pico da pandemia está chegando em nossas cidades”. “Todo mês nós mandamos R$ 20 mil para o Cisver (Consórcio Intermunicipal de Saúde das Vertentes). Como os procedimentos eletivos estão suspensos, essa verba está sendo investida na compra de equipamentos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para a Santa Casa de Misericórdia de São João del-Rei e o Hospital de Nossa Senhora das Mercês”, completou o prefeito.
O prefeito de Barroso e presidente do Cisver, Reinaldo Fonseca (PSDB), reafirmou a decisão atual da macrorregião: somente quando as cidades estiverem com 70% dos leitos de UTI necessários disponíveis, poderá se avançar na flexibilização do comércio. “Por enquanto, tudo permanece como está”, resumiu.
“Por enquanto, tudo permanece
– Reinaldo Fonseca, prefeito de Barroso e presidente do Cisver.
como está”
Ele frisou ainda que mesmo com os leitos adquiridos não será um questão de abrir o comércio indiscriminadamente. “Vamos ver o que e como pode ser aberto”, explicou.
Segundo Fonseca, cada município tem sua própria autonomia. No entanto, é preciso pensar microregionalmente. “O CISVER conseguiu nove respiradores para atender a região e outros nove equipamentos cardíacos. Além de testes rápidos que estão para ser entregue e serão distribuídos entre os municípios da região”, lembrou o prefeito, que indica que está previsto para ocorrer, na segunda (11), uma nova reunião entre os 51 municípios que compõem a macrorregião Centro Sul.
Enquanto isso, o prefeito de São Tiago, Denilson Silva Reis (PSDB), reagiu com surpresa ao teor do vídeo postado pela prefeitura de São João del-Rei nas redes sociais nessa quarta-feira (6), no qual, em determinado momento é feito um ataque aos prefeitos da região.
Para Reis, a declaração veio em uma hora inoportuna e não reflete a verdade sobre as ações dos prefeitos da microrregião. “A Prefeitura de São João del-Rei perdeu uma grande oportunidade de dizer a verdade, do trabalho importante que todos nós temos realizado pela região. Publicações como essa não ajudam em nada, pelo contrário”, afirmou ao NG.
“É importante ressaltar que as prefeituras da região vem realizando um trabalho de investimento nas casas (Santa Casa e Hospital Nossa Senhora das Mercês). E temos isso comprovado, porque nosso consórcio é uma instituição pública e faz compras nos moldes e no regramento de uma instituição pública”
– Denilson Silva Reis, prefeito de São Tiago.
O prefeito de Tiradentes, Zé Antônio do Pacu (PSDB), apontou que a sua administração já repassou dois respiradores (por meio do Cisver) e R$ 153 mil para a Prefeitura de São João del-Rei atender às vítimas da Covid-19 da região.
O secretário de Administração, Tomás Henrique de Oliveira, expôs que Tiradentes traçou metas municipais e intermunicipais, tendo em vista que a cidade referência na região para o tratamento dos pacientes com Covid-19 é São João del-Rei.
“Sabendo da necessidade do grande desafio que é o enfrentamento ao Covid-19, a Prefeitura Municipal de Tiradentes se antecipou e logo traçou diretrizes e metas a serem cumpridas”, relatou.
Segundo ele, além dos respiradores, a administração repassou verba para a saúde do município vizinho. “O prefeito determinou que se repassasse uma verba direta às casas de saúde de São João del-Rei. Então, estamos repassando o montante de R$ 153.048, sendo dividido em partes iguais para o Hospital Nossa Senhora das Mercês e a Santa Casa de Misericórdia”, esclareceu.
A administração municipal de Tiradentes também investiu na Casa de Saúde do Pacu.
A Prefeitura de Santa Cruz de Minas, junto com a Prefeitura de Tiradentes e o Cisver, já destinou equipamentos e verbas para unidades de saúde de São João del-Rei, para tratar os pacientes com quadros graves de Covid-19.
Também procurado pela reportagem, o prefeito de Barbacena, Luís Álvaro (PSD), por meio de sua assessoria, informou que não vai se pronunciar sobre essa questão. “O Nivaldo não citou nomes, não direcionou para qual cidade ele estava falando. Sendo assim, não nos sentimos atingidos”, afirma. Barbacena também é uma cidade polo de uma microrregião.
Relembre o caso
Na superlive promovida pelo NG, no dia 27/4, para discutir os impactos da interiorização da pandemia de Covid-19 na região, os prefeitos e autoridades públicas presentes explicaram que, como a rede de saúde brasileira é organizada por regiões administrativas, um prefeito não pode tomar decidir reabrir o comércio local isoladamente, já que o impacto da decisão de um município afeta os demais.
“O que um município fizer vai impactar no outro. Nós estamos falando de uma população que vive de assistência de saúde conjunta”, afirmou o médico infectologista Hebert Fernandes, da secretaria de Saúde de Barbacena. “A gente não é contra flexibilização do comércio, nada disso, mas temos que fazer isso de forma segura. E neste momento, o nosso mandamento ainda é o isolamento, é manter o uso das máscaras”, acrescentou.
Nessa segunda (4), uma reunião entre os prefeitos dos 51 municípios que fazem parte da macrorregião Centro-Sul de Saúde terminou com a decisão de manter o distanciamento social nas cidades que compõem as microrregiões de Barbacena, São João del-Rei, Congonhas e Conselheiro Lafaiete.
Naquele dia, segundo fonte contatada pela reportagem do Notícias Gerais, “como a macrorregião ainda não está de toda preparada com os leitos necessários, não pudemos deliberar para avançar na flexibilização. Permanecemos da mesma forma, então”.
De acordo com pronunciamento feito por Nivaldo durante reunião da Câmara nessa terça (5), e com a assessoria da Prefeitura, São João del-Rei conta com 20 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O recomendado pelo Ministério Público para avaliar a flexibilização do isolamento social, no caso são-joanense, são 36 leitos de UTI com respiradores.
Essa reunião da Câmara, que foi transmitida on-line, foi marcada por discussões e desentendimentos entre as autoridades quanto ao números para o combate à Covid-19. “Nós temos 32 respiradores, faltam quatro. 20 (leitos) já estão completo(s), mas os outros 16, eu estou esperando […]. Eu preciso arrumar mais quatro respiradores, eu comprei 20 e poucos, eu acho”, disse Nivaldo, demonstrando incerteza.
Em certo momento em que o secretário de Saúde do município, José Marcos Ferreira de Andrade, falava sobre a capacidade das unidades de saúde, Nivaldo chegou a interrompê-lo. “Não, não, está errado, deixa eu explicar”, cortou.