Evandro Candido
A MORTE: UMA INTERMITÊNCIA
De repente, ele não morreu. Voltou-se para a mãe entristecida, murmurou um “ai” que a sobressaltou, dois passos dela na direção do leito, mãe abraçando filho, filho ainda gemendo de incompreensão; abraço de mãe deveria permanecer. Lá fora, gente ainda chorava; a morte já tinha sido anunciada; mas não: ele vivia, estranhamente vivia, e tinha vinte e dois anos.
Veio o tempo. Aos quarenta e cinco, um acidente fatal, gente morrendo no ato, e ele (dezenas de ossos quebrados) recuperando-se no hospital, passo a passo. Dois anos antes, a mãe morrera; cinco anos depois, o pai morreria; morreria um irmão, e depois o outro, um primo e um amigo, um tio e um sobrinho, um cunhado, um amor e um inimigo, todos tragados, um a um, e a morte brincando de pega-pega, sem nunca ser perseguida.
Aos setenta anos, um assalto no banco. Ele ia sacar sua magra aposentadoria. Um tiro acidental veio atingir-lhe a cabeça; caiu, e todos o julgaram morto, enquanto os assaltantes correram, para logo serem apanhados. No hospital, a surpresa: não morreria… e não morreu.
Veio a casa dos oitenta, o corpo dando mostras de começar a vergar. Um filho se foi em definitivo, coisas que debilitam, quando, piedosas, não matam. Veio uma sensação de vida esvaziada e uma vontade incontida de pôr termo a tudo. Em seu quarto, noite ainda jovem, um copo fatal nas mãos, veneno a caminho dos lábios, e eis que uma música lhe chegou da rua, afastando o copo e a vontade de morrer. Não haveria de ser naquela noite.
Estando prestes a completar os noventa, sepultou o melhor amigo. No cemitério, uma chuva macia, peneirando, enfeitada por um céu cinza-tristeza. Ficou olhando toda a gente que se afastava. Ao voltar-se para o túmulo (sobre ele a foto do amigo), percebeu, perplexo, que o túmulo olhava de volta, e não suportou; caminhou, aos tropeços, para perto do povo. Naquela noite, foi dormir querendo morrer…, mas não morreu.
Desdobraram-se os noventa e os cem, e a pele se dobrando sobre si mesma. Vivia num mundo que não lhe pertencia mais. Vieram dores e angústias, a falta de paz, de interlocutores, de companheiros que lhe conferissem sentido, e uma ânsia de pôr de sol, a sensação de inverno… e o medo. Só a morte não vinha.
Aos cento e dez, sentia ainda a força de seus órgãos internos. Pensava num tempo deixado para trás, nos rostos que um dia vira, todos tragados não se sabe para onde. Queria ir junto, mas via o momento muito distante, sonho nebuloso que mal se insinuava.
Sozinho, cabisbaixo e de passos lentos, principiava a jornada dos cento e vinte e dois, e um mundo inteiro lhe pesava nos ombros.
Um dia, bateram-lhe a porta. Um arrastar de pés ecoou casa adentro, uma sensação de ermo sem conserto, desde muito tempo. Abriu. Era uma mulher vestida de branco, pele alva e cabelo ondulado, jovem, talvez dezenove anos, olhinhos um tanto puxados, linda de viver e sorrindo perante o velho que a fitava, num suspiro inevitável.
Entrou a mulher sem permissão; assentou-se na poltrona de outras auroras. Conversaram, enquanto que as areias do tempo se desmanchavam. Ele foi contando memórias, cada qual pulando a seu turno, lágrimas despontando dos bolsões dos olhos, irrigando a pele do rosto, um rastro do que havia sido um dia, agora tão descolorido, qual chão de deserto. A mulher o conduziu ao quarto; aos poucos, foi se despindo e despindo o velho, peça por peça, ele gemendo de incompreensão, ao passo que era puxado pela mão, rumo ao leito quase centenário; e ficaram apenas abraçados e quase inertes, pele com pele. No rosto dela, um sorriso branco de luar; no dele, uma expressão de sol nascendo que deixava evidente por que os seres humanos deveriam temer tanto a morte.
– Por que precisamos morrer? – indagou ele.
– Talvez não precisemos! – afirmou ela, dormitando.
– Parece que a morte vem deitar comigo! – disse ele.
– Talvez tenha vindo mesmo! – confirmou ela.
Ele quis saber o porquê de tudo aquilo.
– Eu te vi há algum tempo… e gostei… e é só isso!
Foi a explicação dela, e nada mais havia no velho além da certeza de morrer naquela noite, ao calor de mulher jovem, tal como ele sempre quisera, toda a vida.
Despontou o dia seguinte num quê acinzentado. Na cama, não havia mulher, apenas um perfume amadeirado divinizando o ar. De fato, haveria uma história para contar, na qual ninguém acreditaria.
Um pincel de sol entrou para beijar a velha testa exaurida.
Como sempre, ele não morreu.
EM LONGO CÁRCERE
De repente, estremeceu ao sentir a porta da cela fechada por detrás de si. Era um ambiente escuro, com cheiro de solidão. Lentamente, num gemido prolongado, assentou-se no chão de cimento. Abraçou as pernas, reparou um pouco mais na escuridão do recinto, buscando evidências de que se tratava de pesadelo, dentre os tantos que costumava ter. O vento trouxe pela janela o cheiro da terra molhada; principiava a chover, e era um cheiro de definitivo. Então, não pode mais e chorou. Era de faces chupadas e uns olhos muito pretos. O corpinho magrelo se comprimiu contra a parede. Encontrava-se mais frágil ainda, naquele estado de abandono.
Pensou no motivo de estar ali. Tinha visto na loja um carrinho de aço, belo demais para ser ignorado. Era avermelhado, reluzente e pesado, tão pesado quanto sua vontade de possuí-lo. Pesado também era o preço, que ia além das forças de seu pai. Foi para casa com a ideia fixa do brinquedo a lhe fazer cócegas. Sonhou com ele a noite toda e, no dia seguinte, na casa de um companheiro de rua, viu um carrinho semelhante ao da loja. Parecia mais belo por pertencer à outra pessoa. Não haveria consequências no ato de levá-lo; a vontade era maior que qualquer escrúpulo. Naquele momento, só havia o carrinho, tão bonito quanto acessível. E então, na despedida ao amigo, em pleno descuido deste, guardou o brinquedo no bolso e saiu pela rua pensando em seu contentamento. Não considerava aquilo um roubo, mas sim a satisfação despejada sobre sua existência, tão curta até então. O pai não desconfiaria, o amigo não se daria pela falta do brinquedo, e, por fim, com o carrinho em sua possessão, seria feliz.
Agora, era a triste cela, um barulho de gota pingando, a certeza de um mundo acontecendo lá fora, noite adentro. Noite até então sem sono, com sombras cada vez mais profundas. Pensava em sua cama macia, no travesseiro baixo e gostoso, no sono de delícia que sempre vinha devagar, pesando nas pálpebras, até que mais nada era ouvido, apenas o corpo conduzido pelas veredas da madrugada.
Naquela cela, parecia que tinha morrido. O ambiente doía fundo, confundindo qualquer pensamento. Queria se lembrar dos dias de liberdade, da paz de correr a qualquer hora para onde quisesse, a ventura de uma liberdade jamais analisada em dias de plenitude. Agora, pensava forte; no presente, a certeza da alegria perdida; com um movimento de mão, tentava, em vão, alcançá-la. Morreria? A morte seria enigmática demais. A prisão, com a luz da lua querendo entrar, era túmulo; era preciso olhar para ele, e fazê-lo em suas entranhas era muito mais aterrador do que olhá-lo de fora.
Por que fora roubar? Bastava ter ignorado a beleza do carrinho, as cócegas da cobiça, e passado com tranquilidade. O cálculo da satisfação de subtrair a coisa alheia não levara em conta o risco do que agora enfrentava. Em longo cárcere, espaço em que tudo se reduz a quase nada. Sentia a prisão como vento de inverno a lhe congelar os ossos. Queria sair, queria gritar uma inocência que sabia ser mentira. Pensava que alguém ouviria. Do lado de fora, haveria gente piedosa, que entenderia a inocência de quem roubava pela primeira vez. Aproximou-se da grade da cela a passos curtos. Abriu a boca para gritar, mas apenas o silêncio ecoou pelos corredores. Longo cárcere!
Voltou a se assentar no chão de pedra. Vinham à tona memórias da mãe e dos irmãos, do dia em que pegou uma borboleta, para, logo em seguida, deixá-la partir. Se tinha libertado a borboleta, alcançaria, em algum momento, a liberdade. Bondade com bondade se paga.
A ideia de túmulo retornava, sombria. Pesavam mais as paredes grossas, na robustez daquele abrigo de pedra, do qual sabia que se tornava parte.
A chuva já tinha cessado. O luar vinha entrando devagar. Foi então que o pincel de prata clareou um canto da cela ainda não percebido. Lá estava a figura de um boneco do tamanho de uma criança de nove anos. Estava sujo, cabelos azuis, longos e desgrenhados, numa feiura lamentável. Ficou olhando para o boneco e recebendo de volta um olhar esquisito. Foi cerrando as pálpebras; o boneco permanecia inerte. Como teria chegado ali? Teria também tentado roubar alguma coisa? Boneco triste, em longo cárcere.
Entrou nas brumas do sono; nelas, estava na mesma cela, pelo mesmo motivo e diante do mesmo boneco. Queria dormir, e dormiu. E neste sonho, também estava na mesma cela, diante do mesmo boneco, pelos mesmos motivos; e ali também queria dormir, e dormia; e via a mesmas coisas, pelas mesmas razões, com o mesmo desejo de dormir que conduzia ao mesmo lugar; coisas mesmas, boneco mesmo, roubo igual, igual cela, lua de prata, prata de lua, roubo e boneco, sono e sonho, chão de pedra e túmulo, pálpebras pesadas, boneco, boneco, boneco… sonho dentro de sonho, em movimentos de abismo. Muitas vezes mais o mesmo gesto de dormir, caindo, caindo, caindo num precipício sem termo, até que, por fim, o boneco fez um gesto e, um instante antes de deixar sua cabeça cair e rolar, disse, numa voz metálica:
– Fica acordada comigo?
Diante daquela cabeça que rolava para ir parar em seu joelho, gritou como nunca na vida. Num salto, nos braços da mãe, percebeu que estava em sua cama e era de manhã. Um suspiro de alívio marcou o início do dia. Não haveria prisão, nem boneco, mas a imagem permaneceu, vigorosa: “fica acordada comigo?”
Voltou a pensar no carrinho de seus desejos, em suas cores bonitas e sua robustez de brinquedo que não quebraria tão cedo; em contrapartida, vinha a imagem do cárcere, os sonos e sonhos se sucedendo um dentro do outro, num abismo que tragava. No chão próximo a sua cama, uma mecha de cabelo azul, que soube, sem muito pensar, do que se tratava. “Fica acordada comigo?”, era a lembrança da voz vinda das profundezas dos sonhos sucessivos e em abismo.
Longo cárcere o daquela noite. Triste cárcere, de fato; mais triste, naquele momento, ao quentinho do sol da manhã, era o desejo insatisfeito do carrinho que, em algum lugar, aguardava para ser levado.
A FLORISTA
Ela passava todas as manhãs em que o céu estorricava de azul. Todos da rua a conheciam: era magrinha, muito pálida, nas veredas da adolescência e de um cabelo cujo amarelo se acentuava ao afago do sol. Chamava-se Nídia, e vinha com uma cestinha de flores coloridas. Parecia anjo do céu, pequenininha, e cantava sempre, muito bonito. Seus passos não eram ouvidos; apenas a voz a denunciava. Os peitinhos vinham já despontando e revelando formas por debaixo do vestido.
Todos a queriam bem, todos compravam suas flores coloridas. Havia, no entanto, um tom de pena não confessada: Nídia era cega. Reinava um zelo geral para com a menina: os velhos a viam como neta; os de meia-idade a queriam como filha; os de sua idade pensavam-na como irmãzinha; os pequenininhos abraçavam suas pernas.
Nídia era o sol da rua, a se agregar ao sol de todas as manhãs. Passava como passarinho, alegrando os moradores. Para alguns (os mais velhinhos), dava flores de graça; para os menores, distribuía beijos; abraçava os de sua idade, era terna e meiga. Não havia quem não saísse na janela quando o canto de Nídia enchia a rua; queriam cumprimentá-la, ver as opções de flores do dia, oferecer-lhe ajuda. Ela, porém, andava sem tropeçar, de tão familiar a cada buraco ou falha da rua. Sabia o nome de todos, conhecia-os pela voz, percebia, pelo toque, a casa de cada um. Era como se enxergasse.
Tinha, porém, algo que intrigava os vizinhos: tudo o que Nídia dizia, acontecia. O caso foi testemunhado pela primeira vez no dia em que a menina, em frente à casa da mulher mais velha da rua, disse: “o gatinho amarelo vai vir aqui!” Imediatamente, veio o gato amarelo do vizinho se deitar e brincar aos pés da florista. Ela se abaixou para coçar a barriga do recém-chegado e receber mordidinhas na mão. A velha, recebendo a flor mais bonita da cesta, não atinou com o caso, supondo coincidência e brinquedos de criança.
O segundo caso se deu quando a menina, diante da janela de um homem de meia-idade, disse que, naquela tarde, cairia uma chuva de derrubar o mundo. O homem olhou para o céu que gritava de tanto azul e teve pena da menina; se pudesse, ao menos, ver o sol que ele via! Na metade do dia, nuvens começaram a se formar; no meio da tarde, o vento assoprou, tudo escureceu, e a chuva veio, torrencial e poderosa.
O terceiro caso ocorreu no dia em que um menino, soluçando de tanto chorar, disse à Nídia que não era capaz de fazer uma pipa. A menina, estendendo uma flor ao rapazinho, disse que, naquela mesma tarde, sua pipa, embora não fosse a mais bonita, seria a mais poderosa e a que melhor voaria dentre todas as pipas da rua. O menino montou o brinquedo da melhor forma que pode: juntou os pauzinhos, encapou aos remendos, preparou a rabiola, finalizou com o cabresto. Todos riram da pipa feia e remendada, mas quando foi solta, ela se elevou, majestosa, leve, superior a todas as outras, voando alto como sonhos de menino, exatamente como prognosticara a florista.
Os casos começaram a ganhar corpo. Começavam a dizer que Nídia não era deste mundo, que todas as suas palavras, tudo o que ela dizia, acontecia. Um velho contava que a menina dissera que queria o arco-íris naquela mesma manhã. Em menos de um minuto, o céu se tingiu de forma nunca vista. Encantado com as cores vivas, teve pena da criaturinha incapaz de ver sua própria obra. Comprou-lhe sete flores, uma para cada cor que tingia o céu.
Certo dia, Nídia, passando como de costume, sentiu um chiadinho a seus pés. Era um cachorrinho de rua que tremia de fome. Afagou o pobre e teve pena. Disse que alguém haveria de adotá-lo e cuidar dele com esmero. Meia hora depois, passou um jovem desconhecido em um carro, viu o cãozinho e o levou.
As palavras de Nídia aconteciam. Cantando ao lado de uma árvore, desejou que uma flor amarela caísse em sua mãozinha. Imediatamente, uma flor, caindo e girando, veio pousar em sua palma estendida. Um ou outro viu o evento, e todos se espantaram com o caso. “Nessa noite, vai ter eclipse da lua” – e o eclipse acontecia. “Amanhã não vou passar por aqui… o dia vai amanhecer nublado” – e as nuvens tomavam conta de tudo no dia seguinte; “amanhã vai passar um carro pobre que vai enguiçar; o dono precisará de ajuda” – e o carro, encarquilhado, passava, enguiçava e alguém auxiliava. Aquela menina não poderia ser deste mundo.
A gente se deu conta de que pouco se sabia de Nídia. Era florista e cega, mas de onde vinha? E por que não passava nos dias nublados? O que eram aqueles olhos que viam muito mais que aqueles que enxergavam? Por que tudo o que ela dizia acontecia? Seria anjo? Seus cabelos, muito amarelos, esvoaçavam quando ela caminhava; sua voz, melodiosa, percorria a rua; suas flores, sempre cheirosas, embelezavam as casas.
Houve, porém, o dia em que um homem, interrompendo os passos e o canto de Nídia, disse:
– Menina, diga que vou acertar na loteria!
– Bobagem! – respondeu ela, seguindo seu rumo e cantando – para que isso?
Outros tantos pediam que ela dissesse coisas de riqueza, mas Nídia ignorava; mencionava bonecas, janelas batendo, sombras de árvore, choro de criança, pigarro de velho, neblina e galhos secos, ir e vir de gente, amanhecer, entardecer, folhas murchas, lua saindo, pedras da rua, flores e mais flores.
– Menina, diga que não vai haver mais doença!
– Mas para que isso? – era a resposta – bobagem, bobagem!
E dizia de uma brisa fresquinha, de um barulho do rio, de uma bola correndo pela rua, da textura das casas, do cheiro de chão molhado, das vozes distintas das pessoas.
– A cobrinha vai vir aqui! – disse, certa vez, num tom triste – chegou a hora!
Quiseram saber por quê. Queria ela pisar na cabeça do vil animal?
– Não! – respondeu ela, meiga – tudo que é vivente merece permanecer.
Veio, ondeando, uma cobra pequena, de cores estranhas. Antes que Nídia pudesse perceber sua presença, cravou-lhe os dentes no calcanhar.
– Deixem ela ir – exortou a menina, deitada no chão e gemendo de dor –, tudo que é vivo é único.
A cobrinha voltou pelo caminho por onde viera. Levaram a florista ao hospital. Apesar de todos os tratamentos, Nídia morreu. O caso gerou comoção. Toda a gente apareceu para dar o último adeus ao anjo das flores. Não havia pai, nem mãe, nem qualquer responsável por ela. Apenas a gente da rua, intrigada. Fecharam o caixão. No caminho para o túmulo, mulheres entoaram não orações, mas as canções preferidas de Nídia nas manhãs de sol.
À beira do túmulo, no momento de abrir o caixão para o último adeus, perceberam que havia apenas flores coloridas e perfumadas. Alguns diziam que a menina evaporara, formara nuvens e que chovera, para habitar as entranhas da terra; outros, que ela se transformara em flores. Houve quem não manifestasse surpresa, posto que soubessem, desde sempre, que ela nunca pertencera a este mundo. Há quem diga ouvir ainda sua voz cantando pela rua. Conta-se que ela ainda vive, que, vez ou outra, aparece em sonhos de menino para cantar, oferecer flores e predizer o futuro. Conta-se que a rua nunca se esqueceu dela e que sua imagem é vista, sem amedrontar ninguém. Conta-se que ela permanece, tal como ela própria dizia de tudo que era vivo.
O túmulo permanece vazio, como símbolo, e ninguém tem medo de vê-lo; é um túmulo desses que não olham de volta; todos os anos, no aniversário de sepultamento de Nídia, amanhece coberto de flores perfumadas.
Biografia
Evandro – escolha cuidadosa da mãe; Candido por conta do pai. Nascido no Sul de Minas (Elói Mendes). Há algum tempo, professor. Leitor desde os quinze (quisera ter iniciado antes!). Doutorando em Letras (Literatura) pela UFMG. Ganhou muito na UFSJ (por lá, graduado e mestre em Letras). Vivenciou a UFV (graduação em História). Aprendiz de idiomas. Corpo chinfrim, altura mediana, 35 anos (idade da razão? Meio do caminho da vida?). Casado com Bia (amor e flor!). Aprecia as manhãs, deseja vida simples, tenta se reinventar. Enfim… repara na vida alheia (e quem não?); por isso mesmo, escritor em formação.
Sinopse do livro “O que as meninas têm entre as pernas e outras estórias” (2020), de onde os contos são tirados:
Era uma vez um homem que não morria e que, aos cento e vinte e dois anos, teria uma história inacreditável para contar. Era uma vez um jovem que ansiava por uma noite que não vinha. Era uma vez uma avó que queria contar causos. Era uma vez uma visita mais do que adorada, um par de orelhas de tormento, um gato-deus, uma casa solitária, uma chuva inoportuna, um curioso de toda uma vida. Era uma vez rugas e rosas, meninos inquietos, uma florista cega e um velho que ficou cego. Era uma vez o medo dentro da madrugada, uma pipa de vida curta e gloriosa, um garoto e seu cãozinho. Era uma vez um leitor, uma jovem e uma borboleta, uma prisão sem fim, uma semente nova, uma cigana delineando o futuro e um beijo tão esperado. Era uma vez olhares e amores… era uma vez, eram tantas vezes!…
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Deborah Castro, curadora.
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