Assessoria de Comunicação UFSJ
Nos 34 anos da Universidade Federal de São João del-Rei, o reitor Marcelo Pereira de Andrade fala sobre a trajetória da instituição, as dificuldades do momento atual, e renova sua esperança na vocação de lutas da UFSJ em favor de uma universidade pública, gratuita e de qualidade. Confira também nesta entrevista a mensagem do reitor à comunidade acadêmica.
– A UFSJ celebra hoje mais um aniversário. O que ela tem a comemorar?
Temos uma Universidade que ao longo de sua história foi crescendo e ampliando (mais recentemente, na primeira década do século XXI, no governo Luís Inácio Lula da Silva), os cursos de graduação e pós-graduação em diferentes áreas do conhecimento. Hoje, temos professoras, professores, técnicos e técnicas administrativas, alunos e alunas de diferentes partes do país, e vivemos a expansão de nossa internacionalização. Em um momento tão difícil, este da pandemia da Covid-19, os membros da nossa comunidade acadêmica atenderam ao apelo da sociedade e se envolveram no apoio ao combate dessa doença, principalmente por meio da pesquisa e da extensão. É importante destacar o campo da pesquisa na UFSJ: ao longo da nossa história, avançamos na produção do conhecimento científico, mesmo com todas as dificuldades. Nossa instituição e sua comunidade acadêmica têm a característica de lutar pela garantia de uma Universidade Pública, de qualidade e gratuita – é uma característica marcante e que nos enche de orgulho. Por isso celebro meu pertencimento a essa comunidade.
– Você tem expressado a todo tempo uma forte preocupação com os cortes anunciados pelo MEC. Como se encaixa a UFSJ nesse cenário?
Realmente, estamos muito preocupados e atentos. Apesar do momento de comemoração do aniversário de federalização da nossa querida UFSJ, temos mantido os Conselhos Superiores, Congregação e demais colegiados informados sobre nossa situação orçamentária. Os cortes em nosso orçamento 2021 foram de 19,6% em termos percentuais, o que significa 10,5 milhões de reais em valores absolutos, nas despesas discricionárias propostas na lei orçamentária aprovada, mas não sancionada ainda pela Presidência da República. Mensalmente, temos recebido 1/18 avos de 40% do orçamento, ou seja 1/48 avos do total do orçamento. De acordo com a Lei Orçamentária Anual, está previsto um contingenciamento de 60%, sujeito à liberação legislativa. Para o efetivo pagamento das despesas (100% que é liquidado), ou seja, o que é registrado no sistema do governo que temos para pagar, não tem sido suficiente para quitar o pagamento de bolsas e prestação de serviços na UFSJ, com apenas 40% de financeiro recebido. Nós, junto às pró-reitorias de Administração e de Planejamento e Desenvolvimento, estamos acompanhando e analisando cotidianamente nosso orçamento, para que possamos tomar as medidas necessárias assim que for sancionada a Lei Orçamentária. Frente a esses cortes, temos nos posicionado nos diferentes fóruns e no parlamento brasileiro em defesa da nossa Universidade e do nosso orçamento.
Os cortes em nosso orçamento 2021 foram de 19,6% em termos percentuais, o que significa 10,5 milhões de reais em valores absolutos.
– A pandemia da Covid-19 impôs uma nova realidade e novos desafios às universidades federais. Qual é, a seu ver, o principal desafio da UFSJ nesse momento? E qual a maior limitação?
Assumimos a gestão em meio à pandemia da Covid-19, um momento bastante difícil para o mundo e com agravamento ainda maior para o Brasil. Mesmo sem saber quem seria o reitor ou a reitora nomeados, trabalhamos no levantamento e sistematização das informações com a equipe de pró-reitores da gestão anterior. A última reunião presencial, me recordo bem, foi no dia 19 de março de 2020, com o professor Ivan Vasconcellos, na Pró-Reitoria de Extensão. No dia seguinte começamos as reuniões remotas. Até minha nomeação, em 9 de maio, fizemos uma centena de reuniões para levantamentos, composição da equipe e planejamento. Ao assumir a gestão, tínhamos um outro problema: recompor os Órgãos Colegiados Superiores, o que era de extrema importância para construirmos uma resposta, em especial voltada ao ensino de graduação e de pós-graduação. Em menos de dois meses, conseguimos recompô-los e, partindo do marco zero, conseguimos elaborar, com a comunidade acadêmica, a proposta de Ensino Remoto Emergencial. A crise nos levou a adotar ações muito importantes, como a implantação das bolsas de inclusão digital, a assinatura de uma biblioteca virtual, a manutenção e a ampliação das bolsas para alunos em vulnerabilidade socioeconômica. No campo administrativo, conseguimos implantar e implementar o fluxo digital de processos e, como parte da modernização digital, foi possível ampliar módulos do Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas em curto espaço de tempo. Tem sido um outono muito longo, são 13 meses de pandemia e distanciamento social. Nossa maior preocupação é com o bem-estar das pessoas, dentro e fora da comunidade acadêmica, não apenas em relação à Covid-19, mas também ao seu bem-estar físico, psíquico e social. Como manter o equilíbrio, numa sociedade que se mostra ainda mais desigual e desequilibrada? A resposta é a unidade da nossa Universidade – apesar das diferenças que possamos ter, precisamos estar juntos para passar esse momento tão difícil e, ao mesmo tempo, contribuir com a sociedade, como temos feito. Vejam que esse momento exige a nossa aproximação ainda maior da sociedade, ratificando a importância da Ciência e da produção do conhecimento. Precisamos estar unidos, até porque temos outro grande desafio em vista: resistir aos cortes orçamentários tão severos que se anunciam, de modo a garantir a autonomia da nossa e das outras universidades públicas.
Precisamos estar unidos, até porque temos outro grande desafio em vista: resistir aos cortes orçamentários tão severos que se anunciam, de modo a garantir a autonomia da nossa e das outras universidades públicas.
– Recentemente, a Comissão Própria de Avaliação (CPA) apresentou o relatório de 2020, cumprindo o ciclo de avaliações trianual. O que isso significa para a UFSJ como um todo?
Os relatórios anuais da Comissão permitem a gestão se avaliar a partir da leitura da comunidade acadêmica. São indicadores que devem ser vistos e entendidos como pedagógicos, isto é, que permitem mudar ou manter a trajetória da gestão acadêmica e administrativa, naquilo em que deverão ser feitos investimentos, implantação de projetos e programas que mudem fluxos dos processos cotidianos. Por esse motivo, o chamado da CPA para participação da comunidade acadêmica, respondendo aos seus questionários, é de extrema importância. Para avançar, precisamos saber quem somos e o que fazemos.
– Como manter o funcionamento e planejar o futuro da Universidade num cenário tão adverso?
É um grande desafio. Em conversas com companheiros e companheiras de outras instituições, tenho dito que a crise gerada pela pandemia da Covid-19 nos colocou em pé de igualdade na gestão, ou seja, por mais que sejamos preparados, nos deparamos com algo que é, sem dúvida nenhuma, o maior desafio apresentado em diferentes gerações. Como a comunidade acadêmica sabe, e é preciso que a sociedade saiba, a Ciência brasileira tem sofrido com os cortes no financiamento da pesquisa e das bolsas para os programas de pós-graduação, o que claramente afeta as universidade públicas, centros de produção de conhecimento. Apesar disso, foi a Ciência brasileira, foram as universidades públicas, foi o Sistema Único de Saúde que se apresentaram ao enfrentamento da pandemia. Não fosse por essas instituições, a situação do povo brasileiro seria ainda muito mais difícil. Quando superarmos esse cenário crítico, não poderemos deixar que se esqueçam do que fizemos. Agora, precisamos planejar nosso futuro, estar preparados para as oportunidades que virão, mas também, por hora, temos que nos posicionar em defesa da Universidade Pública Brasileira, em especial, da UFSJ.
– Qual sua mensagem de aniversário à comunidade da UFSJ nesta data?
Comemoramos 34 anos de federalização da UFSJ. Mais do que a soma dos anos, temos uma história de luta, de fazer nossa instituição avançar. Uma instituição que recebe hoje pessoas de diferentes partes do Brasil e do exterior. Quando cheguei aqui, em 2006, sempre nos referíamos à UFSJ como uma universidade dos trabalhadores, e temos que continuar nesse rumo. Que a UFSJ continue recebendo aqueles que buscam a educação superior, para o que é preciso que nunca nos esqueçamos que nossa instituição sempre lutou por uma Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade, para o que precisamos estar junto nas diferenças. Parabéns comunidade acadêmica! Parabéns UFSJ!