

Kamila Amaral
Notícias Gerais
Professora de uma escola particular de São João del-Rei, pedagoga e pós-graduada em docência, relata que está há 4 meses sem salário. Com a suspensão das aulas e o estendido isolamento social, muitos pais cancelaram a matrícula dos filhos, que são de idade pré-escolar, avaliando que não teria tanto impacto para eles perder o ano. Isso está gerando crise no setor e muita preocupação. “Não sabemos se ano que vem a escola continuará aberta”. Mesmo sem salário, ela continua dando aula on-line para crianças de 2 anos. A proprietária explicou à equipe que o dinheiro que está entrando tem usado para o aluguel.
Segundo ela, boa parte dos profissionais da pedagogia de SJDR está atuando em escolas privadas e passando por este tipo de situação, porque na rede pública estadual e municipal, não tem concurso há muitos anos.
“Não sabemos se ano que vem a escola continuará aberta”
Uma outra professora, que trabalha com crianças no maternal, relata que um desafio a mais nesse momento é o fato de que, como a Educação Infantil só passa a ser obrigatória a partir dos 4 anos, os pais podem retirar a criança do maternal sem receio. “No início, nós até ficamos com metade das turmas (2) do maternal à distância, mas os pais foram tirando as crianças e o dono da escola não teve o que fazer”, comenta a professora.
Ela explica também que está com o salário suspenso no momento. “Mês de junho, que foi referente a maio, a gente recebeu metade, porque já estava parado. No mês de maio (pagamento referente a abril), a gente ainda recebeu direitinho, o dono da escola fez um esforço e pagou a gente integral”, detalha.
A escola em que ela trabalha atende apenas a Educação Infantil, não tem Ensino Fundamental, e, atualmente, está mantendo apenas três turmas por períodos que já são obrigatórios no histórico escolar da criança. “Foi conversado que, quando voltasse tudo, e a gente está torcendo para voltar (as aulas presenciais) agora em agosto, vai voltar todo mundo (todos os funcionários)”.
“De onde eu vou tirar dinheiro para pagar as minhas despesas? Lá era minha única fonte de renda”
A profissional ressalta o sentimento de incerteza e receio frente ao futuro. “Se não voltar, como é que eu vou ficar? De onde eu vou tirar dinheiro para pagar as minhas despesas? Lá era minha única fonte de renda”, conta.
Os nomes foram preservados a pedido das entrevistadas.
Sindicato dos professores
A diretora do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (SINPRO/MG), Alessandra Rosa, apela para que os professores das escolas particulares entrem em contato com o sindicato em casos de falta de pagamento, de atrasos, de abuso ou mesmo de demissão. “Se os professores não procuram o sindicato, a gente não tem como agir sem saber o que está acontecendo”.
A diretora do SINPRO/MG explica que o anonimato dos professores é garantido pelo sindicato. “A escola não pode, simplesmente, porque não tem aluno, não pagar o professor. Ou e escola faz a demissão, e paga a esses professores o que lhes é de direito., ou eles vão para a MP 936, que agora virou lei”, salienta.
A nova lei permite a suspensão temporária do contrato de trabalho e permite ao funcionário ser pago por meio do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda, disponibilizado pelo Governo Federal.
Rosa destaca também que a decisão SINPRO/MG, tomada em acordo na justiça, é de que “só voltam às aulas presenciais após a determinação do Comitê Extraordinário Covid-19, do Governo do Estado, e da Secretaria Estadual de Educação. Escola nenhuma, sob pena de multa, pode voltar às aulas sem que esses órgãos tenham tomado a decisão”, enfatiza.
A diretora do sindicato afirma também que os professores podem procurar o SINPRO/MG e entrarem com o pedido de rescisão indireta por quebra do contrato de trabalho.
Sindicato das escolas particulares
Para o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (SINEP/MG), o fechamento definitivo de escolas particulares em Minas é uma realidade concreta. Uma estimativa feita pelo SINEP/MG aponta que o cancelamento e suspensão de contratos estão entre 30 e 40% nas instituições mineiras e que, desde o início da pandemia, as escolas particulares em todos os níveis vêm sofrendo um aumento da inadimplência, “em alguns casos chegando a mais de 50%, além de cancelamentos de matrículas em todos os níveis, mas principalmente na Educação Infantil”, diz o sindicato.
Já a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) teme que 80% das instituições privadas de Educação Infantil sejam forçadas a fechar as portas em definitivo por causa da evasão causada pela pandemia. “Um dos grandes (resultados) é um inchaço das escolas e creches públicas, sem que haja capacidade para tal”, destaca o sindicato das escolas.