Início Cultura CENTRO DE CULTURA POPULAR ABRIGA ESPAÇOS DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO EM SJDR

CENTRO DE CULTURA POPULAR ABRIGA ESPAÇOS DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO EM SJDR

Fortim dos Emboabas.
(Foto: divulgação)

Kamila Amaral
Notícias Gerais

Doado pelo almirante Max Justo Guedes, em 2009, para a Universidade Federal de São João del-Rei, o Fortim dos Emboabas foi cedido com a intenção de transformá-lo em um espaço cultural para a comunidade do Alto das Mercês. Atualmente, o local abriga o Centro de Referência de Cultura Popular Max Justo Guedes, do qual fazem parte o Museu do Barro e o Museu de Vivências.

Museu do Barro

A iniciativa teve início ainda em 2009, após a universidade receber a doação do fortim e de um acervo de 116 peças de cerâmica que o almirante colecionou durante os anos. A coordenadora do projeto – a artista e professora do curso de Artes Visuais e do Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação em Artes, Urbanidades e Sustentabilidade (Pipaus) da UFSJ -, Zandra Coelho de Miranda explica que o objetivo inicial da ação era estudar e conhecer melhor o acervo doado.

Fotos: acervo do Museu do Barro / Montagem: Notícias Gerais

Em um segundo momento, o projeto passou a se integrar mais como a comunidade da região – realizando um trabalho com as crianças nas escolas, ensinando sobre cerâmica para a comunidade do Alto das Mercês e divulgando informações e conteúdos úteis que podem se transformar em renda para a população local. 

Com a pandemia da Covid-19, a programação que o Museu do Barro tinha para o primeiro semestre do ano foi adaptada para as redes sociais, com a publicação de vídeos tutoriais em substituição das oficinas que seriam oferecidas presencialmente. 

Neste segundo semestre do ano, algumas novidades marcaram o setor mais burocrático do museu. A primeira delas foi a aprovação do Centro de Referência de Cultura Popular Max Justo Guedes no Conselho Universitário (Consu) da UFSJ como um museu vinculado à Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Proex), fortalecendo uma forma institucional ao museu.

“Agora, a gente está se debruçando sobre as leituras que orientam o plano museológico do Ibram (Instituto Brasileito de Museus) e estamos com essa tarefa em vista para os próximos meses, de elaborar o nosso plano museológico com todos os itens que o Ibram exige”, explica a professora responsável pelo Museu do Barro.

Outra ponto de destaque citado é a aprovação, pelo Ministério Público, da liberação de uma verba no valor de R$ 30 mil, que é remanescente do valor destinado para a reforma do telhado do Fortim dos Emboabas, a ser utilizada em outras áreas do casarão. 

“É uma verba que dá para a gente fazer algumas coisas emergenciais lá dentro… tornar o espaço habitável minimamente. Lá fora, (precisamos) ter alguma infraestrutura para as oficinas, um tanque e um banheiro, a gente vai tentar fazer”, comenta Zandra.

Comunidade

Devido a pandemia e o fato do Fortim estar, temporariamente, interditado, a relação entre o projeto e a comunidade está ocorrendo por meio de “pessoas-chave”, tais como os líderes comunitários e alguns moradores que já possuíam uma relação de proximidade maior com os coordenadores.

“Desde o início, a gente acabou conseguindo entrar na comunidade de forma muito pacífica porque as lideranças deram apoio antes da gente começar as atividades”, ressalta a artista e professora. 

Entre os dois líderes comunitários que o Alto das Mercês teve durante o período de criação do Museu do Barro, Zandra pontua peculiaridades. O primeiro deles foi um garimpeiro, que conhece tudo sobre as betas (valas feitas para extração do minério) e sobre os causos e histórias do tempo do ouro. 

Já o atual líder comunitário do local, a professora define como alguém mais jovem e cujo trabalho esteve sempre voltado para a pacificação das partes alta e baixa do Alto das Mercês. “Entre as duas comunidades, existe um conflito, muito grande, histórico. Até então, o trabalho dele foi muito bacana (na tentativa) de botar as duas comunidades para conversar mais entre si e se entender como uma só”, avalia a coordenadora do museu. 

Zandra afirma que a comunidade do Alto das Mercês possui uma relevância cultural e histórica que precisa ser conhecida e valorizada. Um dos passos para isso poderia se dar por meio de uma demanda antiga da comunidade: o reconhecimento, oficial, do Alto das Mercês enquanto bairro.

“Na divisão geográfica oficial do município ele é metade Tijuco e metade Senhor dos Montes, por isso ele não tem um CRAS, um posto de saúde…”, explica. 

A partir do trabalho realizado junto a população local, o Museu do Barro promove o resgate da cultura material da comunidade. “Tem a ver com a situação dos saberes e fazeres ligados à cerâmica. Então aí você envolve todos os processos… processo de queima… técnicas e tradições de aplicação da cerâmica na panela de barro”, cita. 

Para a professora, essa questão das panelas de barro é muito promissora e deve ser explorada por meio de pesquisas adequadas, uma vez que “a panela de barro é parte da tradição, da culinária, do brasileiro em muitos lugares”. 

Junto ao Ibram, o Museu do Barro está inserido na categoria de “museu de território”, justamente por sua relação com a comunidade na qual está inserido. Além disso, o museu também é um museu universitário. “Então a gente também tem vínculos com ensino, pesquisa e extensão”, reflete a docente.  

Museu de Vivências

Enquanto o Museu do Barro lida com o resgate da cultura material, o Núcleo Museu de Vivências se dedica a preservação da cultura imaterial do Alto das Mercês. Para tal, a bolsista do projeto Lara Mendonça, que é mestranda da UFSJ, ressalta que o patrimônio imaterial não é congelado e que ele consegue sobreviver por si mesmo se tiver condições de sobrevivência. 

“Então, a gente estuda a parte teórica e tenta aplicar de maneira que a gente trabalhe com as pessoas do bairro para um desenvolvimento cultural. Mas a gente não dita as regras do que seria essa cultura… a gente trabalha com as demandas do próprio bairro”, esclarece. 

O projeto atua com crianças de seis a doze anos – promovendo festas, eventos, e oficinas voltadas para a arte, como contação de história, desenho, pintura e outros. Como a Covid-19 impossibilitou a realização desses trabalhos de forma presencial, essas atividades migraram para as redes sociais em uma tentativa de manter as atividades de extensão. No entanto, a proposta inicial do projeto teve que ser adaptada à nova realidade. 

“A gente quer mostrar a essas crianças que existem essas possibilidades de trabalho artístico… onde elas podem se expressar, onde elas podem se divertir e também, quem sabe, descobrir um talento para que possam depois trabalhar melhor e vir a ser uma profissão”, sinaliza a bolsista.

O Núcleo Museu de Vivências também havia iniciado um rastreamento de culturas afrodescendentes na comunidade do Alto das Mercês, mas o projeto está parado por conta da pandemia. A intenção era produzir um documentário com esse material.

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