Frederico Lisboa
Especial para o Notícias Gerais
Mozart, Verdi, Wagner? Nada disso. O nome dele é Matheus Lopes, 24 anos, estudante de canto lírico no curso de Música da UFSJ. Ele é o autor da ópera Benção do Addio, executada na última quarta (12) por alunos do curso e músicos convidados, sob a regência do professor Modesto Flávio.
O drama se passa no final do século XIX e conta a história de uma família de imigrantes italianos cujo pai faz um pacto macabro em troca de riquezas na terra nova. Além de São João del-Rei, o concerto já foi apresentado em Lavras, no ano passado, e percorrerá outras cidades de Minas Gerais, em 2020.
Em seus dez anos de instituição, Modesto Flávio conta que é a primeira vez que um estudante do curso cria uma obra completa do gênero. Para o maestro, a iniciativa do aluno é fértil para seus colegas e para a comunidade.
“Estimula outros que têm interesse e não se sentem confortáveis para produzir algo assim e mostra que ainda é possível fazer esse tipo de música em pleno século XXI”, disse o professor, que também atua como regente da Lira Sanjoanense, a orquestra em atividade mais antiga das américas.
‘Sempre da música’
A composição da Benção do Addio surge da confiança e teimosia de Matheus. Antes de entrar na UFSJ, disseram que ele nunca cantaria em uma ópera renomada pois é muito difícil e o mercado é fechado. “Se eu não posso cantar em uma ópera renomada, escrevo uma para eu cantar”, conta o compositor.
Além disso, a oportunidade de fazer uma ópera no interior de Minas Gerais contribui para a popularização do gênero. “Se temos um curso de música na cidade, com pessoas vivendo aqui, por que não montar uma ópera e entregar para a sociedade?”, questiona o autor da obra.
Ato de resistência
Matheus Lopes tem 24 anos e nunca fez outra coisa senão música. Natural de Conselheiro Lafaiete, iniciou os estudos na área aos 9 anos de idade, em São Brás do Suaçuí. Antes de ingressar no curso de canto lírico na UFSJ, em 2018, formou-se em oboé no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. “Sempre fui da música, nunca fiz outra coisa” afirmou o autor da ópera.
Com boa vontade dos músicos, financiamento a partir de vaquinha online e do famoso “chapéu”, Matheus acredita que a criação de uma ópera a partir da Universidade é uma demonstração de resistência aos constantes ataques do governo federal ao ensino público.
“Não estamos aqui para fazer o que eles dizem que estamos fazendo. A gente está estudando, fazendo nosso curso e ao mesmo tempo entregando um produto para a sociedade. Esse é o nosso maior objetivo”, afirma o compositor.
A ópera está sendo executada em sua versão “pocket” (curta). Os concertos com a obra completa começam a partir de junho. Ainda no formato reduzido, a Benção do Addio tem apresentação marcada para o dia 26 de abril, em Resende Costa. Nazareno, Juiz de Fora e Viçosa são cidades que também devem receber o concerto até junho.