Najla Passos
Da Editoria
São João del-Rei é uma das poucas cidades brasileiras que conseguiu preservar intacto o seu pelourinho – a coluna símbolo do poder da Coroa portuguesa, usada durante o império tanto para a fixação de avisos e leis quanto para a punição de criminosos e escravos ditos rebeldes.
A manutenção do pelourinho em espaço público, porém, é polêmica. Há tanto quem acha que é um desrespeito à memória dos negros que sofreram ali castigos desumanos quanto quem defenda que é um alerta contra um passado que não deve ser esquecido, justamente para que não seja repetido.
Instalado atualmente na Praça Barão de Itambé, conhecida hoje como Largo do Pelourinho, o instrumento símbolo da tortura durante a escravidão no Brasil é atribuído ao artista plástico Aniceto de Souza Lopes. Feito de pedra, com 7 metros de altura, foi confeccionado em 1812 para substituir o antigo, de madeira, que ficava no Morro da Forca.
Fotografias antigas comprovam, entretanto, que seu endereço original era outro: a Praça Severiano de Resende, ao lado do Museu Regional, mais conhecida como Largo do Tamandaré, no centro da cidade. Não há registros se a transferência da coluna se deveu à vergonha do passado escravista ou outras razões.
Memórias da barbárie da escravidão
Na maioria das cidades brasileiras, os pelourinhos foram destruídos por ex-escravos e abolicionistas durante as comemorações pela promulgação da Lei Áurea, que extinguiu a escravidão em 1888.
Na então capital da colônia, o Rio de Janeiro, o pelourinho ficava no Largo do Rocio, atual Praça Tiradentes, conforme registrado em uma pintura feita pelo pintor francês Jean-Baptiste Debret, em 1921. Ele retratou o Brasil colonial entre 1816 e 1831, a pedido da Coroa portuguesa.
“O que se observa imediatamente no centro do Largo do Rocio, um dos largos mais antigos do Rio de Janeiro, é a coluna de granito com uma esfera celeste de cobre dourado e sobre cujo capitel se apoiam duas pequenas forcas de ferro, símbolo do direito de alta justiça exercido pelo governo da cidade”, escreveu Debret.
A crueldade cometida nos pelourinhos foi registrada pelo pintor oficial em uma outra tela, batizada de “Aplicação do Castigo do Açoite”, de 1827. Nela, ele retrata um negro nu da cintura para baixo, sendo chicoteado por um feitor.
Registros históricos
Segundo o médico e escritor Sérgio Martins Pandolfo, no artigo existem ainda outros quatro pelourinhos no país: o de Mariana (MG), o de Paranaguá (PR), o de Alcântara e o de São Luiz (MA).
Na Wikipédia, são listados outros quatro: em Óbitos (PA), em Rio Grande (RS), em São Mateus (ES), em Sorocaba (SP) e em Campo dos Goytacases (RJ).