

Fonte: Redes sociais.
Najla Passos
Notícias Gerais
Pelo menos 42% das 1.230 vítimas fatais da Covid-19 em Minas Gerais eram pretas e pardas, conforme dados do boletim epidemiológico do Comitê Coronavírus do Estado, emitido nesta segunda (6).
Os brancos compõem 35% do total, se analisados isoladamente. Os pardos são 34% e os pretos, 8%. Juntos, portanto, somam um contingente maior. Os amarelas somam 1% e não há registros de vítimas fatais indígenas.
Os números ainda sofrem alguma imprecisão porque muitos municípios ainda não informam a cor/raça das vítimas nas notificações de óbito em decorrência do novo coronavírus, encaminhados à Secretaria de Estado de Saúde. Por este motivo, 21% dos mortos não tem a cor/raça especificadas nos registros.
Entre os casos suspeitos já notificados pelo Estado, os pardos são maioria, com 22% dos casos, seguidos pelos brancos, que somam 21%. Os amarelos são 6% dos casos e os pretos, 3%. Não há registro de indígenas.
Mas o que mais assusta é o percentual de casos em que a cor/raça das vítimas não é notificada: 48%. Ou seja, quase a metade delas. A ausência do dado prejudica a análise do perfil das vítimas e a formulação de políticas públicas adequadas.
A cor da pandemia: relembre o caso
A informação sobre a cor/raça das vítimas fatais da covid-19 só passou a constar no boletim epidemiológico do comitê estadual a partir do dia 26 de junho. Três dias antes, o Notícias Gerais publicou matéria denunciando a carência dos dados na publicação oficial.
Na reportagem, a estudante de Medicina da UFSJ e membro do coletivo NegreX, Michelle Venâncio, observou que a não inclusão deste recorte racial nos boletins do governo é um indicativo de que a pauta negra ainda é pouco ouvida pelo Estado.
“Muitos estados ainda não tornaram a divulgação deste dado como obrigatória porque não encaram o racismo como um tema essencial em suas agendas. Não estão dispostos ao debate e nem preparados para lidarem com essa questão urgente, tratando a população como integrante do enraizado e falacioso mito da democracia racial”, defende Michele.
Os pesquisadores do Observatório Saúde Coletiva da UFSJ referendaram a posição, em nota coletiva encaminhada ao NG. Segundo eles, é importante alinhar dados da cor da pele com informações de classe, renda, gênero, local de residência e de trabalho para analisar os impactos sociais do vírus.
“São pretos, pobres, trabalhadores precarizados que vivem em áreas periféricas da cidade e que contam com baixo acesso a equipamentos públicos de saúde. Esses elementos combinados traçam o panorama da desigualdade brasileira”, considera o Observatório de Saúde Coletiva, por meio de nota coletiva à reportagem do NG.
Na época, a SES informou que apenas um sexto das secretarias de saúde municipais mineiras, em média, notificava à secretaria estadual sobre a cor/raça das vítimas, o que dificultava a mensuração de um real cenário de infecções e casos de Covid-19, a partir de dados sobre a cor da pele dos infectados. Felizmente, o problema parece que vem sendo corrigido.