Ana Laura Queiroz
Notícias Gerais
O relógio marcava quase 00h da última terça-feira (12), na Segunda Companhia Independente de Bombeiros de Barbacena, quando os telefones começaram a tocar, segundo relato do sargento Wellington Augusto da Silva, de 42 anos, que estava de plantão no momento.
Pelo telefone, chegou a informação que o distrito de Correio de Almeida, localizado a 23km da cidade de Barbacena, foi alagado pela chuva e parte da população estava ilhada. Foi pelo acostamento da BR 040, em meio à tromba d’água, que as duas guarnições de bombeiros chegaram ao local. A surpresa foi imediata: o rio que possuía, antes, cerca de 15 metros se transformou em um rio de 100 metros, de acordo com o tenente Matheus Nascimento Viol, de 28 anos.
Em entrevista exclusiva, o Notícias Gerais escutou dois dos quatro integrantes da guarnição de bombeiros responsáveis pelo salvamento da vítima de 34 anos, picada por uma cobra em meio à correnteza.
“O bombeiro sempre acredita”
Um dos mais jovens da guarnição e já com uma experiência de seis anos e meio na corporação, o tenente Matheus é natural de Barbacena. Inspirado pelo pai, ele ingressou na carreira de bombeiro militar. “Ele (meu pai) sempre inspirou esse lado de querer fazer o bem ao próximo. O que me inspirou muito na carreira de bombeiro militar foi poder fazer isso profissionalmente também”, conta.
Ao ser questionado sobre o grau de dificuldade do resgate à vítima, Viol é pontual: “o bombeiro sempre acredita”. Para ele, resgates vitoriosos como o da última madrugada são consequência de muito treinamento.
“O bombeiro militar tem que viver treinando, a preparação é essencial, porque quando a ocorrência acontece não é hora de saber se tem condições de fazer, é hora simplesmente de fazer”, frisa.
Experiência que salva vidas
Um dos três sargentos designados para a operação, Wellington, também é barbacenense e se formou como soldado do Corpo de Bombeiros em 2005. Com mais de quinze anos de experiência na corporação, já participou de operações marcantes como a Operação Enchente e Inundação no Espírito Santo, Operação Pacificadora no Rio de Janeiro e a Operação Brumadinho.
Emocionado, o sargento compartilha a dificuldade do resgate. “O salvamento foi diferenciado, acho que todos os moradores que estavam no local já não tinham mais esperança de encontrarmos a Mayana com vida”, admite.
Para ele, o apoio e reconhecimento da população foi essencial para o trabalho. Ao chegar no local, os moradores demonstravam acolhimento uns com os outros, cedendo suas casas para os desalojados ou auxiliando, com cautela, nos resgates.
“Logo depois dela (Mayana, a mulher arrastada pela correnteza) ser encaminhada para o hospital e eu sentar no chão para descansar, alguns populares vieram agradecer e começaram a rezar um ‘Pai Nosso’ em agradecimento, aí não deu para conter as lágrimas”, conta.
“A vontade de viver foi essencial”
Por quase uma hora, a vítima se manteve agarrada em uma árvore enquanto a tromba d’água descia a rua onde estava. De acordo com o Corpo de Bombeiros, Mayana, de 34 anos, foi arrastada pela força da correnteza por cerca de 150 metros.
Em meio à correnteza, ela foi se agarrando ao que via pela frente, primeiro a um muro, depois a um caiaque e, por fim, a uma árvore de grande porte.
“Ao se agarrar e ficar abraçada à árvore, sentiu uma picada no pé e viu que era uma cobra. Ao tentar se defender foi picada mais duas vezes. […] Ela mesma, juntamente com o marido, nos contou no hospital”, compartilha o sargento Wellington.
Para o tenente Matheus, a vontade de viver foi essencial: “O que fez ela sobreviver mesmo foi a força de vontade, porque ela lutou muito!”.
Além dos entrevistados, o sargento Agnaldo e o sargento Siqueira, ambos da Segunda Companhia Independente de Bombeiros de Barbacena, também trabalharam no resgate à vítima.
Danos estruturais
Segundo levantamento divulgado pela corporação, 103 pessoas ficaram desalojadas e estão em casas de parentes. Um residente da localidade ficou desabrigado e uma pessoa está ferida.
De acordo com a nota, não houve vítimas fatais e não há desaparecidos.