Início Especiais ANTIGO LEITO DA EFOM SERÁ RECUPERADO PARA CICLOTURISMO

ANTIGO LEITO DA EFOM SERÁ RECUPERADO PARA CICLOTURISMO

Estação de Campolide. Foto: Wanderson Nascimento

Wanderson Nascimento
Notícias Gerais

Há exatos 139 anos, D. Pedro II desembarcava em São João del-Rei para inaugurar a Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM), idealizada para ligar a corte, no Rio de Janeiro, à região do ouro das minas. Junto com ele chegava também – e principalmente – o progresso.

Em um carro parecido – mais muito mais especial – do que o vagão de luxo que se encontra preservado no Museu Ferroviário da cidade, o imperador cortou aquela que é hoje a mais estreita estrada de ferro do mundo, no trechinho de apenas 13 quilômetros, ainda em operação, entre São João del-Rei e Tiradentes. E até hoje a EFOM mantém o apelido de “Bitolinha”, justamente por apresentar uma distância entre os trilhos de apenas 76 centímetros.

A história da ferrovia mais querida da região, porém, começa um ano antes, no município de Antônio Carlos, na época chamado de Sítio e ainda pertencente a Barbacena, escolhido como marco zero EFOM justamente por já estar ligado à Estrada de Ferro Central do Brasil. Foi ali que, no dia 30 de setembro, uma locomotiva circulou pela primeira vez para encantar os mineiros e turistas que até hoje chegam de todos os cantos.

E foi dali também que partiram os trilhos que chegaram depois à São João del-Rei, cortando os municípios do caminho e levando a modernidade a todos eles. Dos 98 quilômetros inaugurais que ligavam Sítio a São João del-Rei, a EFOM chegou a ostentar quase 220 quilômetros, conectando várias regiões de Minas Gerais.

O texto acima é o trecho de uma reportagem especial produzida pela jornalista Najla Passos, publicada no Notícias Gerais em agosto de 2020, contando um pouco da história dessa charmosa ferrovia, da qual restaram apenas resquícios, memórias e ruínas em quase toda sua extensão, mas que ainda mantém-se viva nas lembranças do povo e por meio do uso de seu antigo leito para outras finalidades.

Última edição do Cicloturismo Oeste de Minas, em 2019, reuniu mais de 500 ciclistas de várias regiões. Foto: Wanderson Nascimento

No trecho entre Antônio Carlos e Tiradentes, com exceções de pequenas partes que foram invadidas e cercadas, como dos 13 quilômetros em que a bitolinha ainda está em operação, o movimento para o cicloturismo é intenso, em especial aos fins de semana.

Após o início da pandemia de covid-19, o movimento se intensificou ainda mais, com o aumento de praticantes do ciclismo. Esse mesmo trecho é rota tradicional do Cicloturismo Oeste de Minas, evento que reúne mais de 500 ciclistas de várias regiões, para percorrer o antigo leito da ferrovia. A última edição foi realizada em 2019, mas o evento foi cancelado em 2020 e 2021 devido à pandemia.

Uma notícia dada pelo gestor do circuito Trilha dos Inconfidentes e presidente da Federação dos Circuitos Turísticos de Minas Gerais (Fecitur), Marcus Januário, é animadora para os apaixonados por ecoturismo, cicloturismo e turismo esportivo de uma maneira geral, uma vez que o antigo leito da ferrovia também é atração para corredores e praticantes de canoagem, em trechos navegáveis e menos poluídos do Rio das Mortes.

De acordo com o gestor, uma iniciativa da Trilha dos Inconfidentes vai tornar transitável para cicloturismo todo o trecho entre Antônio Carlos (km zero) e Ibituruna, totalizando 190 km pelo antigo leito da antiga Estrada de Ferro Oeste de Minas.

Com a ação, será possível recuperar trechos que foram invadidos e desviados, tornando possível a passagem de ciclistas, corredores e caminhantes.

A estação de Prados, agora em ruínas, é um dos principais pontos de parada dos ciclistas. Foto: Wanderson Nascimento

De acordo com Marcus, a primeira etapa do trabalho já será desenvolvida nos próximos meses. “Nossa ideia é revitalizar esse roteiro, que já existe, e sinalizar esses trechos. Vamos precisar de ajuda, porque alguns trechos foram cercados, pessoas tomaram posse, o que vai dar um pouco mais de trabalho. Primeiro temos que fazer o levantamento e o mapeamento desse trajeto todo e marcar os pontos críticos”.

O gestor explica que o processo de tombamento de cada trecho será avaliado. “Ainda vamos ver se é ou não viável o tombamento de cada trecho pelos municípios, pois, com o tombamento, eles passariam a ser responsáveis pela manutenção. Alguns municípios já fizeram o tombamento das estações, mas o projeto nosso, dentro do circuito é fazer o resgate mesmo do trajeto, para ser possível ser feito por bicicleta, a pé, a cavalo, de preferência por veículo não motorizado”.

Além dos ciclistas, corredores também adoram percorrer as planas estradas e trilhas. Em 2019 a Prefeitura de Barroso realizou, com oragnização do jornalista e atleta que escreve esta reportagem, Wanderson Nascimento, de maneira experimental, a Ultra D’Oeste, uma ultramaratona de 80 km entre Tiradentes e Antônio Carlos. A pandemia, no entanto, impediu que o evento se repetisse em 2020 e 2021, já em forma de competição.

Ultra D’Oeste. Foto: divulgação

Projeto Rota B-76

O nome do novo projeto já foi criado e será Rota B-76. O B faz uma referência a Bike (bicicleta em inglês) e o 76 ao tamanho da bitola da ferrovia, que era de 76 cm.

Segundo Marcus, a Trilha conta com o assessor de cultura Ulisses, que está cuidando de todas as questões relativas ao patrimônio histórico, buscando alternativas de utilização do turismo e preservação do patrimônio. “A estação de Prados, por exemplo, precisa ser praticamente reconstruída, e temos mais estações que precisam ser trabalhadas, outras precisam ser desocupadas”.

Marcus declara que projeto será realizado em etapas, sendo a primeira já em andamento, com estudo da viabilidade do roteiro, seguida pelo levantamento das rotas entre Antônio Carlos e Ibituruna. A primeira etapa da sinalização será entre Antônio Carlos e Tiradentes, e está prevista para iniciar em setembro deste ano. A segunda etapa da sinalização será realizada entre São João del-Rei e Ibituruna.

Confira, abaixo, uma galeria de imagens da EFOM, que foi tema de várias reportagens na coluna Trem de Minas.

3 COMENTÁRIOS

  1. Que execelente iniciativa. Parabéns e coragem os envolvidos. Poderiam agilizar com as placas de sinalização,pista de ciclismo em pontos como na beira do Asfalto até estrada de chão sentido Antônio Carlos e a usina que é uma estrada encantadora. Em paradas para descanso como tem nas proximidades da usina hidrelétrica, aproveitar dos recursos da natureza como troncos, pedras etc… estive no local para um passeio e fiquei admirada com tantas oportunidades pode surgir para um ecociclismo conciente. Boa sorte.

  2. Ótima notícia. Já fiz várias vezes o trecho entre Ibituruna e Coqueiros de bike, algumas vezes indo e voltando, outras indo para Nazareno e Mercês de Água Limpa.
    Conheço o Circuito Trilha Verde da Maria Fumaça entre Diamantina e Corinto, que é um bom referencial.
    Parabéns pela iniciativa e que se concretize.

Deixe uma resposta para Em estudo: Recuperação de trajeto do cicloturismo em Barroso | Barroso EM DIA Cancelar resposta

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui