Najla Passos *
Da Editoria
Autoridades médicas e políticas aguardam o resultado do exame de Covid-19 para esclarecer a causa da morte de tiradentina Franciele Carla, 26 anos, ocorrida nesta terça (7), na Santa Casa de Misericórdia de São João del-Rei. O exame foi encaminhado à Fundação Ezequiel Dias (Fumed), o laboratório central do Estado, em Belo Horizonte.
“Eu sei que é angustiante. Se é para vocês, imaginem para nós, que somos gestores. Mas nós temos que aguardar a resposta da Fumed. Até o presente momento não temos nenhum caso confirmado”, afirmou o prefeito de Tiradentes, Zé Antônio do Pacu, em vídeo publicado nesta quarta (8) nas redes sociais do município.
O prefeito prestou condolências a família da vítima e garantiu que todos os protocolos de saúde foram cumpridos pelo município para garantir que ela tivesse o melhor atendimento. Ele também parabenizou a atuação do secretário de Saúde de Tiradentes, José Roberto dos Santos, pelo trabalho desempenhado.
Atuação polêmica
A atuação de Santos no caso, no entanto, vem causando polêmica. Circula nas redes sociais um áudio atribuído ao secretário, em que ele acusa a rede pública de saúde de São João del-Rei de ter dificultado o atendimento à paciente, o que teria prejudicado seu quadro de saúde.
“A UPA, não queria aceitar essa medida de jeito nenhum, mas aceitou. (…) Eu estava em Belo Horizonte, o doutor João Reus me ligou, eu tenho as gravações dele, pedindo pra mim (sic) tirar esta menina da UPA, porque ela estava contaminando todos lá dentro da UPA”, afirma no áudio.
No áudio atribuído ao secretário, é dito ainda que a Santa Casa de Misericórdia de São João se negou a receber a paciente dez vezes. “Eu estou com as negativas todas na mão”, avisa. O secretário, então, procurou o Ministério Público para conseguir uma ordem judicial e, finalmente, internar a paciente na Santa Casa, hospital com recursos como leitos de UTI e respiradores. O procedimento ocorreu tarde. Em seguida a transferência, a paciente morreu.
Pânico e indignação
Para a população de Tiradentes, São João del-Rei e toda a região, a morte da paciente causou revolta, indignação e até pânico, traduzida em mensagens diversas nas redes sociais. E escancarou uma preocupação recorrente: a rede pública de saúde está preparada para lidar com a pandemia de coronavírus?
No áudio atribuído ao secretário de Tiradentes, a preocupação geral é verbalizada: “E se acontecer mais casos, para onde vai o povo? Vai morrer tudo na porta, porque não existe fluxo em São João del-Rei. É uma vergonha o que acontece em São João del-Rei”.
Versão diferente
Em vídeo, o diretor clínico da Unidade de Pronto Atendimento de São João del-Rei (UPA), João Reus, apresentou uma verão diferente do caso. Segundo ele, a paciente foi transferida da Unidade Básica de Saúde de Tiradentes com quadro respiratório grave e acolhida na UPA, mesmo a unidade não sendo referência para casos suspeitos de Covid-19, na segunda (6).
Reus explicou que a UPA não tem isolamento e não estava preparada para receber esse tipo de paciente, porque já tem um fluxo pré-determinado.
“Ao vê-la na UPA entrei em contato com José Roberto e com outras pessoas, porque ela estava em estado grave e precisava ser transferida, não porque ia contaminar alguém, porque eu não sabia se estava com Covid-19 ou não, mas porque a vida dela corria risco e eu precisava transferi-la para o CTI”, afirmou.
O diretor clínico da UPA ressalta que, durante dois dias, tentou transferi-la, sem sucesso, até que na terça (7), ela foi entubada, tratada na UPA e transferida para a Santa Casa em função do risco eminente de morte. “Em nenhum momento nós priorizamos a possibilidade de contágio. Em todos os momentos foi priorizada a vida dela. Queria esclarecer a todos que tudo foi feito por ela, mesmo não sendo a UPA referência para esses casos”, concluiu.
Sem retorno
A reportagem do Notícias Gerais tentou contato com o secretário de Saúde de Tiradentes durante toda a quarta (8) e na manhã desta quinta (9), para confirmar ou não a autoria da gravação, sem sucesso. O celular do secretário permaneceu desligado todo o tempo. O telefone fixo não atendeu.
A reportagem também entrou em contato com a Santa Casa de Misericórdia de São João del-Rei, na manhã desta quinta (9), mas nem o administrador do hospital, Adriano José Tomaz Teixeira, e nem o diretor-técnico, Allysson Dangelo de Carvalho, estavam no local. Carvalho também não atendeu ao celular. Nenhum dos dois retornou à reportagem.
*Colaboraram com a reportagem André Frigo e Carol Rodrigues.
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