Kamila Amaral
Notícias Gerais
São João del-Rei já registrou 334 casos confirmados de Covid-19. Na cidade, os bairros que mais apresentam casos, até esta quinta (16), são a Colônia do Marçal (62) e o Tijuco (54). No entanto, nenhuma das oito mortes, pela doença, registradas na cidade estão nesses bairros.
As docentes Daniela Abritta e Liziane Mangili, docentes e integrantes do Observatório Urbano de São João del-Rei, traçam uma análise dos dados oficiais sobre o avanço do novo coronavírus no município e levantam algumas considerações pertinentes que podem explicar essa situação.
No relatório, feito com base nos dados do boletim municipal do dia 15/7, às professoras explicam que o adensamento, ou seja, a ocupação intensa, e muitas vezes desordenada, do solo, não contribui para maior disseminação do contágio do novo coronavírus.
Pesquisas indicam que “a pandemia está acometendo de maneira muito mais intensa os trabalhadores de serviços essenciais e outros que tem que sair para trabalhar, inclusive viabilizando isolamento social de parte da sociedade (segmentos de média e alta rendas)”, enfatiza o relatório.
Em síntese, o que se tem observado mundialmente é que “outras áreas podem ter maiores incidências de casos confirmados, mas mais pobres irão morrer pela infecção pelo coronavírus”, destaca a análise do Observatório Urbano.
É o que tem sido observado em São João del-Rei. No topo da lista de regiões com mortes na cidade está o Senhor dos Montes (2) que, com 13 casos confirmados da doença, apresenta 3,9% dos casos registrados no município.
Desigualdade
Apesar da taxa de mortalidade ser mais alta nos bairros mais pobres, a maior incidência da doença não foi registrada nesses locais.
O Observatório Urbano defende que “por serem local de moradia das pessoas que têm de sair para trabalhar, e, por isso estão mais sujeitas a pegar a doença pela circulação, essas mesmas pessoas têm maior consciência e cuidado quanto aos requisitos de higiene, limpeza e uso de máscaras”.
Outro fator destacado na análise é a atuação de coletivos e movimentos sociais, que têm buscado minimizar os efeitos da pandemia junto a população mais vulnerável.
Tijuco e Colônia do Marçal
Os dois bairros que mais apresentam casos confirmados de Covid-19, em São João del-Rei, a princípio não apresentam muitos pontos em comum. Cada um ocupa uma das extremidades da cidade e são ocupados por populações com perfis socioeconômicos diferentes.
A análise do observatório, no entanto, apresenta um ponto convergente na situação dos bairros, que é o fato de ambos apresentarem sub-centros com atividades comerciais consideradas essenciais, o que aumenta a circulação de pessoas.
“O bairro Colônia do Marçal, ocupado majoritariamente por população de média renda, apresenta uma ocupação pouco densa e tipologia predominante de casas – algo que incentiva também as reuniões entre familiares e amigos e os churrascos no final de semana”, destacam Abritta e Mangili.
Abre comércio, fecha comércio
A inconsistência da abertura do comércio na cidade também foi apontada como um fator para o aumento da circulação de pessoas na cidade e, consequentemente, aumento no número de casos. “O recente fechamento do comércio também não diminuiu tal circulação. Isso porque sabemos que há um fechamento ‘pra inglês ver’. Na prática os estabelecimentos estão com as portas fechadas, mas funcionando em seu interior normalmente”, cita.
Ausência de dados mais consistentes
Destacando que a análise apresenta apenas hipóteses, uma vez que a ausência de dados mais conscientes, que deveriam ser produzidos pelo município, impede a realização de estudos mais complexos, o Observatório Urbano de São João del-Rei enfatiza que é necessário pensar em políticas que protejam as pessoas em seus percursos, pensar em meios de ampliar o direito ao isolamento para as pessoas que não estão envolvidas com serviços essenciais, mas precisam trabalhar para garantir seu sustento e conscientizar a população sobre o cuidado coletivo, tornando efetivo o uso de máscaras e a aplicação das condições de higiene que minimizam a disseminação do vírus.
“Por fim, ressaltamos que a forma como as informações e os dados são divulgados – por bairros – pouco auxilia na análise dos impactos territoriais e da difusão espacial da pandemia”, acredita. “Se houvesse um mapeamento dos infectados por endereço, cep, local de trabalho, por exemplo, ajudaria a verificar, localmente, as especificidades territoriais e auxiliaria trabalhar melhor na prevenção da difusão da doença”, finaliza o documento.