Início Opinião Crônica CRÔNICA: NORMAL PARA QUEM?

CRÔNICA: NORMAL PARA QUEM?

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Talita da Silva Nifa *

A pandemia que o mundo enfrenta hoje fez com que diversos atos rotineiros fossem alterados. Desde coisas simples como higienização pessoal e contato com familiares a alteração na política governamental. Enganou-se quem pensou que o período de isolamento social duraria um ou dois meses.

Assim, a mudança na vida social ou a própria falta de socialização tem sido um peso para muitas pessoas. Toda essa instabilidade nos faz pensar como será o amanhã. Como será quando a Covid-19 for controlada e, enfim, pudermos retomar os antigos e saudosos costumes? Fica aí uma questão para qual todos e todas querem uma resposta.

E enquanto apostamos sobre como será o novo normal, várias situações desencadeiam para que você, espero, assim como eu, saibamos o quão privilegiados somos, de certo modo. Pois se tem algo para que toda essa crise serviu, foi para escandalizar as mazelas de nosso país.

E sabendo de todas as disparidades nos mais diversos âmbitos da sociedade, cabe uma reflexão sobre o que é normalidade, a volta ao antigo status que tanto queremos. Seria um costume? Algo natural? Um padrão?

Bom, se for assim, só se formos, no mínimo, superficiais ou bastante individualistas para ansiar por como as coisas vinham ocorrendo. E tudo continua desanimador com o passar do tempo.

Fique em casa! Que casa?

Para começar, disseram-nos para ficarmos em casa. Realmente, num primeiro olhar, parece algo muito simples, porém, não é difícil de ser problematizado. E quem não tem casa – como as pessoas em situação de rua – faz o quê? E quem sai às ruas não por opção, mas por necessidade – como centenas de trabalhadores e trabalhadoras?

Depois, para minimizar impactos da quarentena, surgiu o Auxílio Emergencial do Governo. Como se não bastasse todo o caos vigente, diversos problemas com o aplicativo que disponibiliza o pagamento foram relatados: há gente que, como constava no aplicativo, foi presidente do Brasil e nem sabia! Sem contar os casos de pagamentos indevidos.

Além disso, ao que parece, é democrático o acesso à internet no país. Só que não! Ter de baixar o tal aplicativo é uma barreira e até mesmo uma afronta a quem não dispõe de meios para acessar a internet. Na zona rural, por exemplo, pode ser precária a conexão à rede de dados.

De outra parte, grande parcela da população dispõe apenas de internet por franquia. E, claro, há aqueles aos quais o acesso à rede é inexistente, e por aí segue uma série de fatores limitantes.

Educação para todos?

Por falar em acesso à internet (ou sobre a falta dele), convém pontuar sobre a educação e o ensino públicos no país, já que a rede tem sido uma questão no meio educativo. Como já se sabia há tempos, é gritante a diferença entre a rede pública e a rede privada de educação.

Enquanto a rede privada oferece aulas virtuais e afins, a rede pública coloca em prática programas para distribuição de bolsa merenda, atingindo estudantes de famílias mais vulneráveis, por exemplo.

Basta isso para sabermos que aulas virtuais tornam-se totalmente inviabilizadas para esse grupo. Trata-se de uma grande questão, visto que a barreira incapacita desde de estudantes do ensino básico aos do superior.

Englobando toda a dinâmica de problemas, está a instabilidade política. A cada dia é um novo conflito. Para perceber, basta se atentar aos noticiários ou até mesmo ao Twitter, rede social à qual parcela de políticos é adepta.

Essa situação, portanto, é bastante indignante, visto que em meio à pandemia, decerto o que queremos são governantes cordiais e bem instruídos(as) para gerir o país em escalas nacional, estadual e municipal. Porém, isso se torna cada vez mais distante.

Afinal, a cada dia é petição nova para assinar; uma hashtag de insatisfação nas redes sociais; uma denúncia e até mesmo as manifestações públicas já estão tomando as ruas. Nada parece ir bem.

A desigualdade é o normal?

Mas uma coisa é certa: não é normal não ter um lar. Não é normal inacesso à internet. Não é normal ter de sobrepor o emprego à vida; e não é normal inviabilizar o direito à educação de qualidade. Deveria se esperar mais do país que está entre as 10 maiores economias do mundo.

Se aos padrões pré-pandemia tudo isso era normal, com certeza passamos por um surto coletivo! Contornando isso, prevalece o anseio para que uma nova ordem seja instaurada, em que pessoas valham mais por sua empatia, e não sejam vulgarmente rotuladas e menosprezadas por gênero, cor de pele, orientação sexual, etnia ou crença.

Esse é o novo normal que devemos desejar! Um normal construído coletivamente. E pode ter certeza, esse paraíso já vêm sendo construído por pessoas que, com gestos de empatia e solidariedade, tornam a sociedade mais harmônica. E é, portanto, alterando uma macroestrutura que cada pessoa poderá usufruir de simples momentos de prazer e ter atendidos direitos básicos ao bem-estar pessoal.

Finalizo com uma frase de Thomas Morus em seu livro A Utopia, do século XVI: “aspiro, mais do que espero”.

* É estudante de Comunicação – Jornalismo da UFSJ e produziu este texto sob a orientação do professor Paulo Caetano, numa ação do projeto Observatório da Saúde Coletiva – UFSJ.

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