Início Opinião Crônica CRÔNICA: OS PREÇOS NÃO PARAM DE SUBIR

CRÔNICA: OS PREÇOS NÃO PARAM DE SUBIR

Foto: Arquivo/ Agência Brasil

Luisa Lucena *

Quanto custa uma vida? A pergunta pode soar sensacionalista a princípio, mas a epidemia tem reforçado, mais do que nunca, o lugar de cada um de nós na pirâmide social, e mostrado que essa classificação é, sim, uma questão de vida ou morte.

Um dia desses, checando as mensagens do grupo da família no Whatsapp, me peguei lendo uma das várias correntes relacionadas ao coronavírus. Essa, em especial, me chamou a atenção por não se tratar de medidas profiláticas, mas sim de uma curiosa –pra não dizer absurda- romantização de toda a situação: um trecho da mensagem chegava a dizer que “estamos todos no mesmo barco’’. 

E então ficou mais claro que a quarentena tinha dois pontos de vista completamente opostos e dolorosos de serem analisados: de um lado, pessoas de classe média a alta, agradecendo ao vírus por ter lhes dado a oportunidade de passar mais tempo em suas casas luxuosas, curtindo sua família, de se isolarem em suas casas de campo no interior e apreciar a natureza. Desse mesmo lado, patrões, em seus carros de luxo, fazendo carreatas em defesa da economia e da volta de seus funcionários aos seus empregos, sendo legitimados pelo presidente da república e seu movimento ‘’o Brasil não pode parar’’.

Do outro, pessoas que sequer têm condições de comprar álcool gel para os filhos, moradores de rua que mal sabem –ou nem sabem- a gravidade da situação, moradores de periferias e outros locais precários em que é impossível evitar aglomerações, trabalhadores que não podem ficar em quarentena, pessoas que estão realmente sentindo o terror e a dor de não saber o que vai acontecer no dia seguinte, se vão ter comida na mesa ou uma vaga no hospital, caso precisem.

O primeiro lado, que diz que ‘’as consequências econômicas serão mais graves para o país do que 5 ou 7 mil mortes’’ – palavras do dono do restaurante Madero -, é o mesmo lado que, caso precise de leito, será priorizado.

Enquanto uns esperam mais de 10 dias pelo resultado do teste da Covid-19, que estão escassos e sendo feitos apenas nos casos que apresentam sintomas mais graves, e dependem dos recursos limitados do SUS, outros fazem testes em si e em todos os familiares à manifestação do menor dos sintomas, e recebem o resultado em 24 horas.

Fica claro que, quando um empresário de grande magnitude faz uma afirmação dessa, ele não se refere a uma pessoa sequer do seu círculo social, mas a 5 ou 7 mil vidas não tão importantes quanto a economia. Vidas pobres que não têm valor, que foram jogadas para fora do barco e estão à deriva no mar.

  • É estudante de Jornalismo da UFSJ e produziu este texto sob a orientação do professor Paulo Caetano.

2 COMENTÁRIOS

  1. Muito boa a reflexão, a autora soube usar muito bem as palavras. Expressa perfeitamente os nossos sentimentos mediante a essa situação.

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