Início Opinião Crônica CRÔNICA: TOMÁ CAFÉ EU VÔ, CAFÉ NÃO COSTUMA FAIÁ

CRÔNICA: TOMÁ CAFÉ EU VÔ, CAFÉ NÃO COSTUMA FAIÁ

Imagem ilustrativa: reprodução / Freepik

Victória de Souza Fernando *

Aceita um café?

Tomar café sempre foi um ritual para mim. Quando pequena, minha mãe me afastava da bebida, afinal ela não era boba de deixar uma criança que vivia ligada no 220 volts perto de uma substância capaz de acelerá-la ainda mais. Porém, como toda boa avó, a minha fazia questão de burlar algumas regras impostas pela filha. Foi assim que passar o café da tarde ficou sob minha responsabilidade.

O grão, consagrado na história do Brasil e tema de canções de grandes artistas como Jorge Ben Jor, promoveu releituras interessantes que me fascinam. Gilberto Gil canta: “andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá” e algum indivíduo achou que seria interessante provocar uma mudança no verso: “Tomá café eu vô, café não costuma faiá”. O meu chute é que foi um mineiro e ele estava certo! Aposto que até o Gil preferiu a música assim. Por sua vez, Ben Jor descreveu tão bem o afeto proporcionado por uma xícara de café bem quente, que ninguém sequer ousou interferir.

Não conheço o país todo, mas acredito que ao sair à rua, seja qual for o horário, ao passar em frente a uma padaria ou lanchonete, com certeza haverá ao menos uma pessoa degustando a bebida. Pelo menos aqui em Minas Gerais é assim. Sejam quais forem as condições climáticas, uma dose por dia é indispensável. E não é de hoje que é assim, viu? Ou
você achou que o nome República do Café com Leite era figurativo? Somos o maior produtor do grão até hoje!

Mas a questão econômica não é o foco. Para mim, o café é um agente sociocultural. Já parou para pensar na união que ele provoca? Parece uma lei, um código de ética social, a necessidade da existência de uma máquina de café ou Cafeteira em praticamente todos os lugares em que entramos. Ela pode ser preta, marrom tradicional ou até mais chique. Não importa. A garrafa de café está presente no escritório, na oficina, no consultório, nas academias, nas escolas, nos restaurantes e até no bandejão da faculdade! E o mais chocante nem é isso. Normalmente, o famoso cafezinho é de graça! Nada nesse país é de graça, mas o café tem esse privilégio.

É por tudo isso que tomar café é um ritual. Seja pela manhã ou à tarde, quando fervo a água e a observo entrando em contato com o pó, envolto pelo coador de pano, o cheiro me abraça. Me transporto para a minha casa, para o frio da minha cidade, para a xícara amarela que faz parte da louça da minha mãe. Me recordo do pão dormido que a minha avó adorava molhar na bebida, no pedaço de rapadura derretendo. Me sinto viva. Que saudade de casa!

Seja qual for a sua lembrança com o café, eu tenho certeza de que ela existe até mesmo se você não gostar…

  • É estudante de Comunicação Social – Jornalismo na UFSJ.

1 COMENTÁRIO

  1. Aaaah que lindeza! Quanto aconchego nessas palavras, nessas construções afetivas, que carregam a gente de volta pra casa dos avós…Aquela mesa repleta de guloseimas, o cheirinho do café passado na hora, cada palavra da Victória foi pensada e escolhida com intenção cirúrgica.
    Espero ler mais dessa cronista.

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