Redação
Notícias Gerais
A presidente da Comissão de Proteção aos Animais de Tiradentes (Compat), Luanda Conrado, registrou um boletim de ocorrência, acusando um dos proprietários do Haras do Alferes, Március Fróis, de tê-la ameaçado, no último dia 10/7.
O acusado tem criticado a atuação da comissão, nas redes sociais, desde que, em 19 de outubro do ano passado, a Compat, após realizar uma operação conjunta com a Polícia Militar, constatou e denunciou maus-tratos contra 16 animais mantidos no haras, além de exploração comercial ilegal dos mesmos.
Na época, a Justiça repassou à irmã de Március, Márcia Fróis, a administração do haras, herança herdada do pai por eles e seus dois outros irmãos. Március recorreu da decisão judicial e conseguiu uma liminar para continuar com a administração do haras em caráter provisório.
Denúncia de ameaça
Segundo a advogada da Compat, Isabelle Chiaini, Március Fróis primeiro fez publicações “com represálias” à atuação da Compat nas redes sociais e, no dia 10 de julho, foi até o estabelecimento de Luanda munido de um canivete e fazendo ameaças.
Na ocasião, conforme informações de Isabelle, ele alegou que a Compat tem que se responsabilizar por manter os animais do haras – que, atualmente, passa por processo judicial de inventariado, para divisão de herança entre Március e seus três irmãos.
“No entanto, para a Compat, não interessa essa briga de espólio, interessa é que os animais estejam bem tratados”, declara a advogada. “Se ele não consegue dar saúde e qualidade de vida para os animais, como a lei determina, ele tem que doar os animais”, completa.
De acordo com ela, o denunciado alega que a Compat precisa ajudar a manter os animais, já que a Comissão esteve presente em sua propriedade para fiscalizar quando foi recebida a denúncia de maus-tratos.
“Revoltado com isso, ele esteve na loja da presidente, que é a Luanda, e fez as ameaças que geraram o boletim de ocorrência para as devidas providências judiciais”, comenta.
De acordo com a Polícia Militar, o boletim de ocorrência foi registrado com o relato da vítima, no qual ela afirma que foi ameaçada e agredida pelo proprietário do haras.
O homem, por sua vez, compareceu posteriormente à 190ª Cia da PM, mas, como já havia passado o período de flagrante, foi encaminhado à Polícia Civil para prestar o respectivo depoimento.
Versões divergentes
Ao Notícias Gerais, o proprietário do haras apresentou outra versão para o ocorrido. Ele conta que, no sábado (10), ele foi até a loja da presidente da Compat com o intuito de comprar uma lareira, mas não chegou a entrar.
Március alega que estava olhando os produtos, quando Luanda teria saído com o celular, filmando-o e xingando-o de forma agressiva. A mulher que o acompanhava e o marido da presidente da Compat acabaram se envolvendo na discussão, que se transformou em briga de fato: ainda segundo Március, o marido de Luanda o agrediu com socos e o jogou em cima do próprio carro.
Já sobre o canivete mencionado, Március confirma a posse do objeto. No entanto, expõe que é costume de quem mora na roça andar com um canivete na cintura, por se tratar de uma ferramenta muito utilizada.
Posteriormente, ele narra que encontrou com o respectivo advogado, tendo relatado o caso e ido até a Delegacia de Polícia Civil. O delegado, ao ver as marcas da agressão sofrida por Március, teria o aconselhado a procurar uma casa de saúde pública e depois retornar. Ao voltar para a delegacia, Március diz que Luanda estava do lado de fora.
O caso agora segue sob investigação da Polícia Civil para posteriores providências judiciais.
Sobre as publicações que fez nas redes sociais, ele declara que não está colocando a responsabilidade pelos cuidados dos animais para a Compat, mas sim para sua irmã, que é a inventariante.
Ele também acusa a Compat de ter-se omitido a ajudar em um caso de abandono de animais, quando ele socorreu um potro que estava abandonado, doente. Segundo ele, recorreu à instituição pedindo ajuda para cuidar do animal, mas não foi atendido.
Disputa familiar
Ao NG, Március declara que sua irmã é inventariante da herança que o pai deixou para os quatro filhos, mas que é ele quem cuida sozinho da propriedade. Com isso, ele descreve que enfrenta dificuldades para a manutenção do haras, principalmente na época da pandemia e, agora, com o período da seca.
Inclusive, em abril deste ano, ele solicitou à Compat que fornecesse o documento acima afirmando a alegação dele de que estava sem condições de manter os animais, e, com isso, eles poderiam sofrer risco de maus tratos novamente.
Ele pontua que, na época em que foi denunciado pela irmã, a Compat esteve no local e tirou fotos apenas de dois animais: um cavalinho, que estava doente, e uma mula com manchas brancas naturais do próprio pelo, que a Compat alegou se tratarem de escoriações.
Fróis ainda explica que, alguns dias depois desse ocorrido, a Polícia de Meio Ambiente também esteve no local e não constatou maus-tratos aos animais.
Ele também apresenta a declaração de uma profissional veterinária, que atesta as boas condições dos animais, mas alerta para o risco de perda de peso por dificuldades que o proprietário estava enfrentando para alimentá-los – o que reforça a preocupação com o bem-estar dos animais.
Além disso, ele disponibiliza, ainda, um laudo ambiental feito pela Prefeitura de Tiradentes no final de 2020, no qual é citado que os animais não sofrem maus-tratos, apesar de estarem com a alimentação defasada.
Március também faz menção a uma decisão judicial sobre a autuação que ele recebeu em 2020. Datado de 27 de janeiro de 2021, o documento mantém o haras sob a administração de Március, e que havia sido requerida pela sua irmã.
De acordo com Március, a denúncia de maus-tratos feita pela irmã foi feita “unicamente com o intuito de prejudicá-lo”, uma vez que ela não conseguiu na justiça ficar com a administração do haras.
Versão da irmã
A reportagem no Notícias Gerais entrou em contato com Márcia, que foi citada pelo irmão. Ela declara que, em razão dos maus-tratos que foram constatados aos animais, o juiz concedeu a ela a posse do haras, para que ela pudesse administrar.
O irmão, então, recorreu e, liminarmente, conseguiu um efeito suspensivo, mantendo-se responsável pela propriedade, a qual ele explora comercialmente. A advogada de Márcia enviou uma nota ao NG explicando em detalhes a versão de sua cliente.
Confira na íntegra: