Wanderson Nascimento *
Notícias Gerais
Os amantes do carnaval de Barroso, assim como em todo o Brasil, estão impedidos de “botar o seu bloco na rua” em 2021. A pandemia da covid-19 “jogou água na cerveja” dos barrosenses, que têm no carnaval de rua sua paixão e tradição, que vêm de muitas décadas, sempre modificando com o passar do tempo, mas nunca deixando de lado a alegria da maior festa popular do Brasil.
A reportagem do Notícias Gerais conversou com o historiador barrosense Wellington Tibério, que contou um pouco da história e das histórias do carnaval da cidade. Segundo o estudioso, os registros mais antigos do Carnaval em Barroso são do período de 1939 a 1941, quando os clubes “Mensageiros do Amor” e “Alegria das Morenas” eram opções de entretenimento para uma população que ultrapassava os 2000 habitantes, menos de 10% da população atual. “Não havendo na localidade a presença de um pároco residente que coibisse os excessos e na condição de distrito sem autonomia administrativa, os festejos carnavalescos eram realizados espontaneamente pela população”, declara.
Conservadorismo e religiosidade
Tibério explica que foi na administração do prefeito Macedo Couto que os primeiros blocos carnavalescos contaram com apoio da administração municipal, isso no ano de 1958, ocasião em que a prefeitura e a companhia de eletricidade apoiaram a realização do carnaval na cidade. Isso levou o pároco, padre Luiz Giarola Carlos, conhecido pela sua rigidez e seu conservadorismo, a suspender as solenidades da Semana Santa.
Com a inauguração dos clubes na cidade, os bailes carnavalescos tinham endereço fixo. “Segundo o jornal Progresso, que circulava na cidade em 1965, o Carnaval em Barroso teria ocorrido de forma tranquila, pois ‘os foliões agiram como deviam, usando pouco álcool, não dando nenhum trabalho à policia'”.
Os clubes existentes em Barroso eram a “Cabana”, inaugurada em 15 de agosto de 1964, e, posteriormente, o “Clube Recreativo Barrosense” (1967). Logo depois veio o clube “Alegria do Morro”, fundado por Nilder José Moreira de Souza, no bairro Joaquim Gabriel de Souza.
Dos clubes para as ruas
O historiador conta que foi em 1971 que, além dos bailes nos clubes, o carnaval começou a ganhar as ruas. “O sucesso do carnaval foi tão significativo, que os festejos de momo foram ampliados com enfeites na rua, disputa entre os blocos e a participação de escolas de samba de outras cidades”, declara.
A festa foi crescendo tanto que, já em 1972, foi criado o primeiro desfile intermunicipal de blocos carnavalescos, com premiação em dinheiro para o 1º lugar de CR$5.000 e 2º lugar CR$ 1.000. A disputa entre os blocos locais ficou entre o Clube Recreativo Barrosense, que obteve 512 pontos, e o Barcelona, em segundo lugar.
“O carnaval em Barroso passou por uma grande transformação, com incentivo maior da administração municipal. A participação de escolas de outras cidades, a instituição de disputas entre os blocos desde 1972, as ornamentações de rua, tudo foi colaborando para a ampliação de nosso carnaval”, acrescenta o historiador.
Um dos carnavais mais marcantes foi o de 1984, com a presença de grandes blocos veteranos. “Tínhamos o Clube Recreativo Barrosense, explorando o enredo ‘Brasil Tropical’, com suas cores verde e branco; a Alegria do Morro, com suas tradicionais cores vermelho e branco, optou pelo enredo ‘Carnaval da Saudade’, e a escola de Samba da Praia que, com as cores rosa e branco, trouxe para a avenida a ‘História de Barroso em seus 30 anos de vida político-administrativa'”.
Carnaval de protesto
Tibério explica que naquele mesmo ano de 1984, a Escola Mocidade Independente do Santa Maria estreou na avenida com as cores preto e branco e o enredo ‘Final Feliz’, abordando a agonia de uma velha estrada de ferro. “Naquela ocasião estava sendo desativada a centenária Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM) e o principal carro alegórico da escola era um trem de madeira confeccionado pelo Samuel Ribeiro, simbolizando a última passagem da Maria Fumaça em Barroso”.
Em 1985 surgia a escola de Samba Unidos do Azul e Branco, organizada por moradores do bairro Jardim Bandeirantes. Os anos da década de 1990 foram marcados pelo característico “Sambão” na praça Salvador da Silva e com o entusiasmo dos foliões no Bloco da Geralda.
Modernidade x tradição
Nos anos 2000, com as evoluções tecnológicas e a popularização de outros estilos musicais, como axé, funk e música eletrônica, a tradição das marchinhas tocadas por bandinhas acompanhando os blocos foi dando lugar a carros equipados com sonorização de alta potência, com as “músicas modernas” embalando o carnaval da juventude.
Um dos únicos blocos que mantém a tradição das marchinhas tocadas por bandas é o “Boi Mamado”, que atrai grande público, principalmente os foliões mais saudosistas. Com o passar dos anos, a tradição das escolas de samba também foi perdendo espaço e o carnaval foi se concentrando cada vez mais em som mecânico e bandas tocando os hits do momento, principalmente de axé, funk e tantos outros estilos que ganharam o gosto dos foliões, em especial os jovens.
Em 2021, o carnaval vai ficar apenas na memória e as batidas dos tamborins são serão sentidas no coração dos foliões, uma vez que sequer haverá o feriado na data tradicional, com funcionamento normal do comércio e dos serviços públicos.