Najla Passos
Notícias Gerais
Com as queimadas que devastam a região, é grande o número de animais silvestres mortos e feridos. Os que têm mais sorte e conseguem escapar das chamas, acabam fazendo visitinhas inesperadas aos moradores da cidade. E aí ficam expostos a outros tipos de riscos, como os ataques de cães e mesmo de pessoas que não sabem lidar adequadamente com aqueles “intrusos”.
Na tarde da última terça (8), os bombeiros de Barbacena capturaram uma siriema em uma loja da Rua Baronesa Maria Rosa, na região central da cidade. A ave, de médio porte, estava com uma fratura próxima a coxa, com sangramento, e foi encaminhada a um veterinário de plantão. Os bombeiros não identificaram a origem do ferimento.
Na tarde da quarta (9), eles resgataram um lagarto da espécie teiú, de cerca de um metro de comprimento, em uma residência do bairro Caiçaras. O visitante inesperado foi brutalmente atacado por cachorros e ficou bastante ferido. O dono da residência agiu rápido e pediu ajuda ao 193. Mas não foi suficiente.
“Ele estava muito machucado pelas mordidas dos cachorros e não resistiu. Morreu antes mesmo que eu iniciasse o atendimento”, lamenta a veterinária Gabriela Liguori que, ao lado do marido, o também veterinário Felipe de Assis Braz, cuida gratuita e voluntariamente dos animais silvestres feridos e capturados pelos bombeiros.
Segundo ela, o intuito é tentar salvar aqueles bichinhos que não têm quem olhe por eles. “Quando as agressões acontecem com animais domésticos, como gatos e cachorros, as pessoas se mobilizam para conseguir tratamento, mesmo quando eles vivem nas ruas. Mas os animais silvestres ficam esquecidos”, afirma.
Proprietária da Clínica Late & Mia, Gabriela e o marido atendem animais feridos em ocorrências diversas. Juntos há 8 anos, eles se ajudam para salvar vidas. “Como aqui em Barbacena não há posto do Ibama, eles teriam que esperar muito para serem cuidados em outras cidades, o que não é viável. A maioria dos casos é de urgência”, esclarece.
Uns finais felizes; outros nem tanto
O lagarto não sobreviveu, mas nem sempre o desfecho é trágico. O casal acumula excelentes histórias no trabalho da clínica, onde já atenderam capivaras, lobos guarás, onças, corujas, gaviões, cocotas, gambás, micos e macacos, raposas, quatis e uma infinidade de espécies incomuns na cidade.
“O número de atendimentos varia dependendo da época, mas eu diria que dá uma média de 6 a 8 atendimentos por mês. Na época da pipa, por exemplo, era quase todo dia. O cerol mata e fere muitos animais. Atendemos muitas corjas, cocotas e gaviões feridos”, exemplifica.
Em junho, Gabriela operou e cuidou de uma raposa atropelada pelo trem em Sá Fortes, distrito de Antônio Carlos, que foi resgatada pelos bombeiros e encaminhada à clínica. A torcida pela recuperação da raposa perneta mobilizou os leitores do Notícias Gerais: foram inúmeras as mensagens de pessoas dispostas a adotá-la.
Entretanto, como a lei não permite que este tipo de animal silvestre seja mantido em ambiente doméstico, justamente para não se estressar e oferecer risco às pessoas, a raposa está aos cuidados de uma pessoa residente em Belo Horizonte, cadastrada pelo Ibama para fazer este trabalho voluntariamente
Vilões da temporada
Os tipos de ocorrências que maltratam os animais silvestres variam conforme a época do ano. E nesta temporada de queimadas, o fogo é o principal vilão. Mas não o único. “Temos que conscientizar as pessoas a não provocarem queimadas. Muita gente coloca fogo em terrenos baldios com a ideia de que vai matar cobra. E isso é um problema, porque ninguém controla o fogo e, junto com as cobras, mata toda uma cadeia alimentar”, alerta.
De acordo com a veterinária, todo os animais têm sua importância na natureza e, por isso, a orientação é sempre acionar o Corpo de Bombeiros, mesmo que a pessoa se assuste frente a um determinado animal.
“A cobra, que tantos perseguem, fornece soros para várias vacinas. O gambá é imune ao veneno do escorpião e, por isso, consegue fazer o controle da zoonose. Por isso, o correto é acionar os bombeiros que saberão capturar o animal com segurança e devolvê-lo a seu habitat natural”, exemplifica.