Caroline Santos Teixeira
Notícias Gerais
Dona do Espaço P, um estúdio voltado para a estética preta, Damyana Silva concede entrevista ao Notícias Gerais sobre sua vida e carreira, ressaltando a importância cultural das tranças.
As influências para virar trancista remontam à infância de Damyana: “desde criança eu tranço meu cabelo. Minha vó é trancista, tenho lembranças da minha vó indo até minha casa para me trançar; minha tia também trança”.
Ela conta que sempre gostou de lidar com cabelo, mas que durante a adolescência entrou na moda dos cabelos lisos: “o que bombava, quando eu tinha 15, 16 anos, era chapinha e escova” relembra. “(Eu) não era incentivada a trabalhar com trança”.
O interesse pela estética negra surgiu quando a trancista ingressou no Coletivo Dandara, um grupo feminista de mulheres negras de São João del-Rei: “a gente sempre conversou muito sobre a estética, fazendo recorte para a estética preta de periferia. Foi fazendo oficinas e trabalhando com estética que eu tomei gosto, e pensei ‘vou trabalhar com isso’. Vi que eu levava jeito e falei ‘vou apostar nisso para ver o que vai sair’ e deu super certo”.
Depois de visitar São Paulo, há cerca de três anos, Damyana teve a ideia de criar o Espaço P. “Uma das meninas que era do (coletivo) Dandara tem um salão afro lá (em São Paulo), e convidou a gente pra ir pra lá. Aí eu fui, vi aquela coisa toda lá e falei ‘vou fazer isso lá em São João’ e fiz”, comenta.
A trancista destaca que faltam espaços como o dela no município: “quando você chega em São Paulo, ou no Rio de Janeiro, você vê muitas pessoas com o cabelo crespo, com tranças, com dreads. Aqui em São João já não é tão assim. São João é uma cidade mais conservadora”, pontua. “Aqui na cidade a gente é carente dessa estética”, sinaliza a trancista.
Damyana ainda ressalta a importância de um espaço voltado para a beleza negra: “a importância para mim é a gente se ver representado. Lembro que quando eu era criança e usava trança, ficava com vergonha de ir para escola (usando trança); e hoje não: atualmente, a gente se aceita melhor, porque a gente vê mais pessoas parecidas com a gente”. “Isso é bom pra gente, pra nossa autoestima”, expõe.
Apesar da estar ganhando cada vez mais espaço em São João del-Rei, Damyana reafirma que é preciso que as pessoas conversem mais sobre as origens e a necessidade de valorizar a estética afro: “não só porque é bonito, mas porque é história e resistência”, justifica. “As pessoas deveriam desviar um pouco o olhar do conceito ‘moda’ e vê mais como uma coisa histórica, cultural e ancestral”, argumenta.
A pandemia e os negócios
Em relação aos negócios, Damyana revela que o Espaço P está indo bem, mas relembra que, neste ano, devido a pandemia da Covid-19, existiram dificuldades para manter o estúdio e que chegou a ficar um mês sem trabalhar: “no começo da pandemia foi difícil, porque meu trabalho não tem como ser feito a 1 ou 2 metros de distância das pessoas”.
Aos poucos, a trancista foi voltando ao trabalho, mas com menos clientes do que o habitual. “Não é a mesma coisa, deu uma caída. As pessoas ficaram com medo, tem a questão da renda também, o financeiro das pessoas influencia no meu trabalho”.
Contudo, Damyana anuncia estar com boas expectativas para 2021: “pro ano que vem, não tem coronavírus que me pare”.