Redação
Notícias Gerais
Nessa terça-feira (28), o Brasil bateu um novo recorde de mortes causadas pelo coronavírus em um dia: foram 474 óbitos identificados, em 24 horas. Assim, o número de mortes por Covid-19 chegou a 5.017 no país – ultrapassando até mesmo o índice de falecimentos da China, que somava, até então, cerca de 4.643 mortes.
Ao ser questionado pela imprensa, ainda na noite de terça (28), sobre o número de óbitos que a doença já provocou no Brasil, o presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (sem partido), retrucou:
“E daí? Lamento. Quer que eu
– refutou Bolsonaro durante entrevista em frente ao Palácio da Alvorada, nessa terça (28)
faça o quê? Eu sou Messias,
mas não faço milagre”
Para apresentar algumas opções do que a população espera do presidente, a equipe de reportagem do Notícias Gerais perguntou para diversas pessoas: “afinal, você quer que o Bolsonaro faça o quê?”.
Confira as respostas!
Marcelo Souza, médico
“O que eu queria que ele fizesse era atuar no sentido de conseguir equipamento, material de proteção individual, comprar ventiladores, estar mobilizando as UTIs, aumentando a capacidade de leitos para poder atender pacientes graves, promover medidas de proteção coletiva, que é estímulo à higienização das mãos, à evitar aglomeração. Se ele fizesse esse tipo de coisa, como é feito no Japão e na Coreia, eu ia me sentir mais seguro.”
Sálvio Penna, assessor parlamentar
“Cabe ao presidente dirigir e coordenar uma ação unificada entre governo federal e os estados. Estimular e promover o federalismo solidário, estados em melhor situação ajudam outros (que estão) em pior. Buscar a experiência e a solidariedade internacional. Criar programas de assistência aos pobres nas áreas de economia, saúde, moradia, transporte e trabalho, principalmente.”
Luciene Tófoli, professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)
“Eu quero que ele leve a sério o cargo para o qual ele foi eleito, respeitando a Constituição, a ciência e o ser humano”.
Rodrigo Picon, advogado
“Eu gostaria que o presidente decretasse isolamento social em nível nacional, liberasse mais rapidamente o auxílio emergencial de R$ 600 para que, assim, menos pessoas fossem às ruas, e disponibilizasse o auxílio que está travado para os municípios.
Além disso, esperaria que ele próprio desse o primeiro exemplo e não fosse contrário ao isolamento social, não saísse às ruas em manifestações ou para cumprimentar apoiadores”.
Maria Clara Oliveira Santos, professora do Departamento de Ciências Sociais da UFSJ e 1ª secretária da ADUFSJ – Seção Sindical
“Quero que ele articule um sistema de saúde, que possa fazer um enfrentamento da pandemia, articulando estados, municípios e governo federal.
Eu quero também que ele libere auxílio emergencial para todo mundo que já está cadastrado, e que dê prioridade para a conferência do cadastro das pessoas – inclusive, liberando um valor inicial em suspensão. Então assim, já libera para todo mundo. E se eventualmente tiver um problema no cadastro, suspende até a análise definitiva.
Estabeleça políticas de fronteira mais adequadas; não simplesmente um fechamento de fronteiras, mas principalmente, um processo de reciprocidade, para não termos problemas internacionais depois da pandemia.
Um financiamento massivo dos laboratórios públicos, e também alguma ajuda para os laboratórios privados, também são necessários para termos testes em massa. Um sistema robusto de testagem de Covid-19 na população.
Mas, principalmente, quero que ele escute os cientistas deste país. A comunidade acadêmica tem informações precisas sobre a infecção e a pandemia, que devem ser acessadas e levadas em consideração.”
Ricardo Bassi, empresário e ambientalista
” […] Dar bons exemplos, uma palavra de conforto, compaixão, empatia e solidariedade. […]”
Lívia Guimarães, jornalista e vereadora em São João del-Rei
“As declarações do presidente são lamentáveis e irresponsáveis. Bolsonaro assume um posto, frente a esta crise, de um genocida. Neste momento, a preocupação deveria ser a preservação da vida, o compromisso com a saúde pública e com a ciência brasileira.
O que Bolsonaro faz é criminoso.”
Leandro Garcez Targa, sociólogo
“O presidente poderia repensar sua visão de mundo: para ele a vida de alguns é mais importante que a vida de outros, (o que é) um absurdo! Se ele entendesse que a vida de todas e todos é importante por igual, não desdenharia da morte de tantas pessoas. Agiria como um gestor público responsável e usaria o Estado como instrumento de providência material e existencial para quem pode e deve ficar em casa para se proteger. ‘Mas, cadê as políticas públicas para proteção da população, principalmente a mais vulnerável?’ Já as providências para a proteção dos bancos já foram lançadas.
O presidente é representante de um grupo de pessoas do país que hierarquizam a vida. Para ele, homens são mais importantes que mulheres, brancos mais importantes que negros, jovens mais importantes que idosos, etc. Uma visão de mundo herdeira de nossa tradição escravocrata, a qual diz que apenas alguns podem ser considerados aptos a viver, enquanto outros podem morrer que não tem problema. E hoje vivemos num país onde uns reivindicam o direito de matar, enquanto a maioria reivindica o direito de sobreviver.
Isso fica escancarado no momento atual, dessa pandemia. Mas essa lógica está presente em toda a história de nosso país. E a população pobre, da periferia, entende bem essa lógica desde muito antes dessa pandemia existir”.
Kívia Costa, estudante de Geografia na UFSJ
“Eu quero que o Bolsonaro compre mais testes rápidos pro Brasil, revogue a EC 95 que congela investimentos na saúde e na educação, compre mais respiradores pro Brasil, que construa hospitais, que comece a levar a sério a quarentena, que garanta os direitos das e dos trabalhadores, que proíba as demissões em massa, que taxe grandes fortunas e reverta esse dinheiro para financiar a educação e a saúde pública e que ele pare de trabalhar em função de aumentar os privilégios das elites e grandes empresas e passe a colocar como prioridade a classe trabalhadora, que está desamparada durante essa pandemia“.
Luciano Nascimento, radialista
“Não é nem uma questão de querer. Nem mesmo uma expectativa. Temos um senhor, de nome Jair Messias Bolsonaro, que se candidatou a um cargo eletivo remunerado. Vou deixar as antipatias, as divergências político-ideológicas de lado. Já antipatizo com ele desde os tempos de deputado, enquanto entrevistado do antigo programa ‘Custe o que Custar’, da Band.
Hoje, eu só quero que ele seja um bom funcionário público. Uma vez que está eleito e no cargo máximo do Poder Executivo do Brasil, que faça o que foi, digamos, ‘contratado’ para fazer e pelo qual recebe. Exerça as atribuições do cargo e cumpra o papel designado ou então, peça demissão.”
Denilson Ronan de Carvalho, coordenador-geral do Sindicato dos Servidores da Universidade Federal de São João del-Rei (Sinds UFSJ)
“Quero que ele trabalhe como um estadista, né? Nesse momento que a gente tem um aumento do número de mortos, espero que ele tome as medidas necessárias de ampliação de leitos, que garanta e agilize a chegada do auxílio emergencial e que disponibilize recursos para pequenas e médias empresas, que não estão tendo como atuar. Espero também que ele destine leitos das unidades particulares para o setor público.
E se não puder ter essas posições, (espero) que ele renuncie. Um outro caminho é o impeachment dele, ou o seu afastamento por causa das ações dele.
Nesse momento, o mais grave para o país – além do coronavírus – é o nosso presidente, que causou esse maior número de mortos.
A gente chegou nesse índice de óbitos neste momento muito por causa da responsabilização dele, de prefeitos e governadores como o (governador, Romeu) Zema (Novo), que estão negando o distanciamento social como uma das principais medidas (contra a Covid-19).”
Maria de Fátima Inocêncio Leite, aposentada, ex-profissional da educação
“Quero deixar claro que desde o golpe que afastou a presidenta Dilma (Rousseff), eu prego a desobediência civil. Não porque não respeito às leis ou às autoridades, mas porque não considerei legítima a autoridade do Michel Temer, assim como não considero legítima a autoridade de Jair Bolsonaro. Ambos assumiram o poder por meio de golpes rasteiros, sendo a eleição de Bolsonaro ao meu ver, uma grande fraude, que espero, se descortinará brevemente. Então, quando me perguntam, o que acho que Jair Bolsonaro poderia ou deveria fazer?
A minha resposta é clara e seguramente a melhor alternativa, a única legal e possível, que colocaria o Brasil de volta nos trilhos da democracia. Jair Bolsonaro não tem que fazer absolutamente nada, ele é tão vil que nada nos pode oferecer; nós, o povo e as instituições e que devemos fazer algo para arrancá-lo do poder, preferencialmente com a cassação da chapa Bolsonaro/Mourão ou, para abreviar, levando-os à renúncia, o que evitaria que gastássemos nosso precioso tempo com um processo de impeachment.
Bolsonaro é tão abjeto, tão barato que nem sequer merece o tempo que se gastaria com um processo de impeachment. Bolsonaro ao meu ver, é a síntese fria dos sete pecados capitais.”