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MENINAS DE NHÁ RESGATAM CULINÁRIA REGIONAL E IMPULSIONAM RENDA DE FAMÍLIAS DO RIO DAS MORTES

As quitandas produzidas pelas Meninas de Nhá são comercializadas na Feira de Agroecologia e Economia Solidária, toda terça-feira, no Campus Santo Antônio da UFSJ, na parte da manhã.
(Imagem: Kamila Amaral/ Notícias Gerais)

Kamila Amaral
Especial para o Notícias Gerais

Entre os dias 4 e 28 de março, o Fórum de Mulheres das Vertentes, promove o “Nós Mulheres”, em alusão ao Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 8. A programação do evento é ampla e vai contar com oficinas, rodas de conversas e outros.

Um dos grupos envolvidos na organização desse evento é o coletivo Meninas de Nhá. Formado, principalmente, por mulheres negras da comunidade do Rio das Mortes, em São João del-Rei, o coletivo trabalha com a comercialização de quitandas artesanais, produzidas com materiais livres de agrotóxicos. 

O grupo tem esse nome devido a forte devoção dos moradores do Rio das Mortes à Nhá Chica. Nascida Francisca de Paula de Jesus, filha de ex-escrava, a beata Nhá Chica foi batizada no então distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes, em São João del-Rei, no ano de 1810. O coletivo Meninas de Nhá, que atualmente é composto por nove mulheres, surgiu em 2016 e tem como objetivo o resgate da tradição culinária da comunidade.

O coletivo Meninas de Nhá surgiu em 2016, é composto por nove mulheres e tem como objetivo o resgate da tradição culinária da comunidade. (Imagem: Arquivo pessoal da Tutuca)

Como explica uma das participantes do coletivo, Conceição Maria do Carmo, a Tutuca, as Meninas de Nhá possuem saberes próprios, que foram passados de mulher para mulher, de geração em geração. “Primeiro que elas fazem bolinho de feijão de maneira artesanal. Isso é muito interessante, elas sovam o feijão na pedra, e isso remonta a tradição local. E outra coisa que desperta pra gente é como que essas mulheres cozinham bem (…). Porque elas preservaram o jeito das mães e das avós”, afirma Tutuca. 

As atividades do coletivo, além de terem impacto histórico e gastronômico e de fornecerem alimentos mais saudáveis à comunidade e região, contribuem também com a geração de renda para as famílias do distrito do Rio das Mortes. 

“É significativo demais, a gente conversa muito sobre isso, faz a diferença de verdade. Impulsiona a renda familiar e isso é de muita importância para a autoestima, para a questão da afirmação das mulheres no mundo trabalho”, ressalta Tutuca. Ela conta que foi a um evento em que foi dito que, sem mulher, não há economia solidária.  “Sem mulher não há nada, nós somos a locomotiva desse mundo doido, a gente é que puxa os outros vagões”, afirma. 

As quitandas produzidas pelo grupo são comercializadas por meio de encomendas e estão presentes também na Feira de Agroecologia e Economia Solidária, que acontece toda terça-feira, no Campus Santo Antônio da UFSJ, na parte da manhã. 

Conceição Maria do Carmo, a Tutuca. (Imagem: Arquivo pessoal)

Merenda escolar de qualidade

O coletivo também trabalha com o fornecimento de merenda escolar. O coletivo Meninas de Nhá atuou, durante dois anos, em escolas da cidade de Santa Cruz de Minas e está aguardando o chamamento público, para retomar o trabalho em 2020. “A gente tem como foco oferecer para a merenda escolar dois biscoitos: o biscoito de fubá sem leite e o biscoito de coco sem leite, que são biscoitos mais duráveis”, conta Tutuca. 

Ela destaca também a preocupação do coletivo em fornecer alimentos mais saudáveis. “A gente não produz nada com leite condensado, não incentivamos o consumo exagerado de açúcar. A gente usa muito das coisas que nós temos, então é muito fubá, que faz parte do princípio básico da segurança alimentar”, esclarece. 

“Nós Mulheres”

Segundo Tutuca, a programação do evento organizado pelo movimento “Nós Mulheres” contém “uma parte cultural fortíssima, uma parte de denúncia sobre a perda de direitos das mulheres, mesas com debates que vão discutir desde a maternidade, o mundo do trabalho da mulher, que é o mundo doméstico e o mundo lá fora, e a parte em que a academia contribui demais com as pesquisas”, afirma. 

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