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PRETA RARA LANÇA “EU, EMPREGADA DOMÉSTICA” EM SÃO JOÃO DEL-REI

Preta Rara em conversa durante o lançamento do livro  “Eu, Empregada Doméstica”

Scarlet Freitas
Especial para o Notícias Gerais

A rapper, historiadora e escritora Joyce Fernandes, mais conhecida como Preta Rara, esteve em São João del-Rei no sábado (7), para o lançamento do seu livro “Eu, Empregada Doméstica – A Senzala Moderna É O Quartinho Da Empregada”, no Centro Cultural da UFSJ.

O lançamento fez parte do evento Nós Mulheres e teve início às 15h, quando a autora iniciou uma conversa a respeito de sua jornada como empregada doméstica e também sobre como foi o processo de surgimento do livro. Além disso, pautas como machismo, cultura do estupro, e feminismo também foram abordadas ao longo do lançamento. 

O livro surgiu como resultado da página do Facebook “Eu, Empregada Doméstica” criada em 2016. Preta Rara conta que resolveu criar a página em um período de férias, após um momento de reflexão sobre seu passado. 

Como era bem presente nas redes sociais, ela fez um relato sobre seu último emprego de doméstica, do qual havia sido demitida Diante da viralização, sugeriu que outras pessoas que também sofreram situações parecidas mandassem seus relatos utilizando a hashtag “#euempregadadomestica”. 

Nessa época a escritora já tinha saído da condição de doméstica e revela que ficou surpresa ao receber relatos de abusos e violência parecidos ou até piores aos que sofrera.

Casos como o de uma empregada doméstica de 72 anos que, ao se deparar com o elevador de serviços quebrado, precisou subir até o oitavo andar de escadas, após ser impedida de utilizar o elevador social, fizeram com que Preta Rara percebesse o gigantesco problema que existe no Brasil e iniciasse uma luta contra ele. 

Preta Rara e a professora Rosana Mendes

A luta teve uma grande repercussão no país e no mundo. A presença da escritora em São João del-Rei encheu o espaço destinado ao lançamento. A professora universitária Rosana Mendes mora em Lavras e viajou apenas para prestigiar o evento. 

Ela revela que sempre utilizou as falas da escritora nas redes sociais como inspiração para se aceitar como uma mulher gorda. A professora se surpreendeu após realizar a leitura do livro, pois não tinha conhecimento da forma desumanizada com que as empregadas domésticas são tratadas. 

A professora Iuli do Carmo Melo também esteve presente no lançamento. Ela disse que já conhecia o trabalho de Preta Rara e até chegou a utilizar alguns relatos da página “Eu empregada doméstica” em sua tese de mestrado, onde abordou o tema Cultura do Estupro. 

Iuli conta que também vê na página e no livro a representatividade da mulher negra e periférica. “Minha mãe é empregada doméstica e, antes de entrar na faculdade e ao concluir meu mestrado, realizei alguns trabalhos como babá. Como a autora diz, não é um tipo de trabalho comum. É um trabalho que deixa marcas e que produz muitas coisas na gente como mulher preta”, afirmou.

História de vida

Além dos casos recolhidos nas redes sociais, o livro contém a história da autora, da sua mãe e de sua avó que também trabalharam como empregadas domésticas. Ela foi a última da família a enfrentar a profissão, mas ainda percebe as marcas desse trabalho em sua mãe e em si mesma.

“Eu tive e ainda tenho diversas marcas na questão do trabalho doméstico, ainda trabalhando em terapia hoje, mas o medo constante é de que algo da minha profissão atual não dê certo e eu tenha que voltar a para a casa de família. Eu ainda fico meio que assustada”, admite. 

A vereadora Lívia Guimarães, envolvida na realização do Nós Mulheres, disse que a unificação de várias vozes e coletivos na realização do evento foi o que permitiu uma programação tão extensa e enriquecedora. Segundo ela, todos os coletivos levaram suas questões e suas propostas. 

“Não tem como discutir o feminismo sem discutir o feminismo negro”, ressalta a vereadora,  que completa dizendo que não adianta ficar discutindo só o feminismo no mercado de trabalho, por exemplo. “É preciso entender que o feminismo é muito amplo e que deve ser anti-racista, anticapitalista… e por isso a participação da Preta Rara na programação foi tão importante”, destacou.

Assista ao bate-papo com Preta Rara:


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