Kamila Amaral
Notícias Gerais
Na última sexta (12), foi realizada pela Câmara Municipal de Barbacena uma audiência pública para discutir a possibilidade de volta às aulas presenciais na cidade. Durante a reunião, o ex-secretário adjunto de Saúde de Minas Gerais, Marcelo Cabral, utilizou do seu espaço de fala para cobrar que uma das pessoas presentes na reunião se retratasse sobre uma publicação feita nas redes sociais que o acusava de furar a fila da vacinação contra à Covid-19.
A professora da rede municipal de ensino de Barbacena, Fabíola Elias, havia compartilhado em suas redes sociais, no dia da audiência, uma notícia sobre a demissão do ex-secretário adjunto com os seguintes dizeres: “O grande apoiador do Movimento das Escolas Abertas de Barbacena furou fila e está pra ser exonerado do cargo de secretário-adjunto”. Então, ela se sentiu intimidade e resolveu também utilizar aquele espaço e rebater a fala de Marcelo Cabral, que havia afirmado que o responsável pela postagem seria “devidamente processado pelas informações falsas que faz na internet”.
No entanto, o vereador José Bonifácio Couto de Andrada (PTC), o Zezinho Andrada, que era responsável pela condução dos trabalhos na audiência, mandou desativar o microfone da professora, alegando que ela estava se desviando do assunto da reunião.
Fabíola afirma que conhece o regimento interno da Câmara de Barbacena e que ele realmente diz que, em audiências públicas, os participantes não devem se desviar do tema discutido. No entanto, ela contesta o fato do ex-subsecretário ter tido a oportunidade de falar sem ser interrompido e ela não.
“Na hora que eu fui me defender eles me calaram”, disse a professora. “Eu até pensei em deixar isso para lá, mas depois eu pensei melhor: em plena semana da mulher, em uma Câmara sem nenhuma representatividade feminina, composta só de homens brancos… aí decidi: não, vou dar um jeito”, completa.
Confira aqui a fala do ex-secretário adjunto de Saúde, Marcelo Cabral:
Confira aqui a fala da professora Fabíola Elias:
Espaço democrático de debate
O caso ganhou repercussão nas redes sociais e a Frente Popular pelos Direitos, de Barbacena, chegou a publicar uma nota de repúdio “ao caso de machismo na audiência pública do dia 12 de março”.
Na nota, o movimento afirma que “em um espaço democrático de debate, como uma audiência pública, espera-se dos coordenadores uma postura ponderada e equânime em relação aos participantes. E, infelizmente, no mês em que se destaca a luta das mulheres por direitos e respeito, o que vimos foi um tratamento diferenciado dado a uma professora, quando a mesma se manifestou em resposta à ameaça pública que sofreu, por parte de um dos convidados da audiência durante a realização da mesma”.
Ao Notícias Gerais, Marcelo Cabral afirmou que, no dia da audiência pública, teve uma queda na conexão e não presenciou a interrupção na fala da professora. “Quero destacar que repudio qualquer atitude discriminatória e em relação a qualquer pessoa. Mas, caso isso viesse a acontecer deveria ser apurado com toda a oportunidade de defesa para que pudesse ser demonstrado sem qualquer viés ou questão suspeita de pessoalidade”, disse.
Ele ressaltou que o Brasil, por disposição constitucional, segue o devido processo legal, com direito a ampla defesa e ao contraditório, primando pela presunção de não culpabilidade (inocência). “Portanto, qualquer acusação e prova dela têm que ser precedida de processo. Não cometeria o mesmo erro que praticaram comigo quando me acusaram de “fura-fila”, sem qualquer fundamento, sem qualquer direito de defesa”, cita Cabral.
Alegações
Para contestar a acusação de que estaria divulgando informações falsas, a professora Fabíola Elias conta que, após sua fala sobre a volta às aulas em Barbacena, iniciou a leitura de algumas matérias de jornais sobre a demissão do secretário Estadual de Saúde de Minas Gerais, Carlos Eduardo Amaral, e do secretário-adjunto, Marcelo Cabral, após denúncia de irregularidades na vacinação de servidores da pasta que não atuam na linha de frente do combate à Covid-19.
“Eu tinha todas as fontes de onde eu tinha olhado, tinha até passado na televisão. Eu estava tranquila em relação a isso”, afirma a professora.
O ex-subsecretário relata que no momento em que entrou na audiência, recebeu uma mensagem com prints, de número não identificado, onde havia menções ao nome dele como “fura-fila” da vacinação insinuando que ele não estaria em condição moral ou técnica para opinar sobre a volta às aulas e até que teria outros interesses no retorno assunto.
“Tenho dois filhos pequenos e sei o que está se passando com eles, além de a mãe ser pediatra, ter sido eu secretário-adjunto de Saúde (participei da gestão do SUS em MG) e ser especialista em Direito Sanitário. Tendo cogitado que a ideia seria desacreditar minha opinião, afastei a invectiva, a acusação, não tendo mencionado o nome de ninguém. Tal foi feito com o intuito de fazer valer opinião sobre o tema (volta às aulas) e diante do convite que me fora feito, tudo baseado em evidências técnicas e científicas”, disse Cabral.
Ele foi convidado a participar da audiência pública enquanto Secretário de Estado Adjunto de Saúde de MG. No momento da audiência seu afastamento já havia sido divulgado, mas a exoneração só foi publicada no no Diário Oficial no sábado (13).
Segundo a professora, o ex-secretário adjunto, em sua fala na audiência, já havia dado a entender que não estava lá como representante do estado e sim como pai.
Câmara Municipal
O vereador Zezinho Andrada afirma que, enquanto responsável pela condução dos trabalhos na audiência, não tem o que se pronunciar sobre a discussão entre o ex-subsecretário e a professora. Sobre a interrupção na fala de Fabíola, ele afirma: “ao longo de toda a audiência, teve várias falhas técnicas (…). O que aconteceu ali durante a fala dela foi uma falha técnica também que aconteceu com ela, assim como os demais. E a todo momento que o participante estava extrapolando o assunto da audiência foi avisado (…). Independente de quem foi, isso foi igual para todos”.
Após o contato do Notícias Gerais com o vereador, a Câmara Municipal de Barbacena soltou uma nota atestando o mesmo comportamento e indicando que “em momento algum da sessão, ou mesmo nesses primeiros meses da atual Legislatura, houve, por parte de qualquer Vereador, tratamento diferenciado a qualquer cidadão em suas manifestações”.
A audiência completa está disponível aqui.
Irregularidades na vacinação
Marcelo Cabral defende que ele e todos que foram vacinados na Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) estão dentro da lei.
“Afasto de plano e de modo severo a alegação de “não pertencer ao grupo prioritário”. Fui convocado pela Vigilância Estadual no momento exato e rigorosamente legal em que era para eu ser vacinado. Eu e todos que foram vacinados na Secretaria de Estado de Saúde fomos absolutamente dentro da lei. Aliás, lembro que minha lotação era na Saúde, na Secretaria de Estado de Saúde. Dei expediente em UTIs COVID pelo Estado, estive presencialmente, na crise do Triângulo Mineiro, entrei em hospital onde havia gente com COVID com ventilação mecânica no corredor, na cidade de Coromandel. E fui infectado pela COVID, depois de um retorno de viagem a serviço da saúde, em Governador Valadares. Fui junto com outros agentes e em helicóptero do corpo de bombeiros, diante da urgência. Estou há dois anos sem parar na Secretaria, tendo 63 dias de férias vencidos. Passei pelas crises da Backer, das chuvas, acompanhei as tratativas de Brumadinho e há um ano, estou no comando, junto com o Carlos Eduardo, da Secretaria, que combate a pandemia no Estado. A secretaria trata da habilitação de leitos, repasses para os municípios, compra de insumos, recebimento de vacinas do Ministério da Saúde e cuida de toda a política assistencial na saúde do Estado. Ficamos o tempo todo à disposição”, relatou.
Ele destacou ainda que a supervisão do Plano Nacional de Imunização é de responsabilidade da União e que toda e qualquer vacinação começa por todos os profissionais da área da saúde por uma questão óbvia: são as pessoas que operacionalizam, em todos os segmentos, a vacinação.