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QUAL A ORIENTAÇÃO DO ELEITORADO FEMININO? SUFRAGISTA MINEIRA RESPONDEU HÁ QUASE UM SÉCULO

Mietta Santiago, a sufragista mineira que conquistou direito ao voto e à candidatura política para as mulheres brasileiras em 1928. (Imagem: Márcia Paravizzi)

Por Celso Bejarano
Especial para o Notícias Gerais

Brasília (DF) – No corredor que liga os gabinetes dos deputados federais ao plenário da Câmara dos Deputados, colado ao chamado Salão Verde do Congresso Nacional, por estes dias, servidores, visitantes e congressistas que circulam pela galeria notam por meio de retratos, textos e vídeos, históricos já de décadas, de séculos atrás, que mostram o quão antiga é a marcha da mulher pela defesa da igualdade de gênero. 

Ali, conta-se históricos das sufragistas, como chamaram as mulheres que brigaram contra o sexismo, pelo direito à participação política, ao voto – a primeira onda do feminismo que se tem notícia no mundo, surgida na Europa a partir de 1893. Os homens não viam nas mulheres capacidade política. 

A exposição em Brasília exibe relatos das brasileiras sufragistas, somente.

(Imagem: Arquivo histórico)

Num dos dez quadrinhos onde aparecem ilustrações de mulheres que fizeram história na política brasileira, desponta Maria Ernestina Carneiro Santiago Manso Pereira, a Mietta Santiago, nascida em 1903, em Varginha, cidade distante 200 km de São João Del Rei, território mineiro.

Do lado da fotografia da mineira, uma reflexão, divulgada há nove décadas, ainda evidente hoje.

“Qual seria a orientação de um eleitorado feminino?  A liberdade. Votar pelo valor do candidato. Não só valor político. Mas antes de tudo, valor moral – a pública e a privada. Os senhores verão que quem sabe rodar uma máquina de costura saberá rodar a máquina social política”.

Depois de estudar por um período na cidade ao Sul de Minas, Mietta mudou-se para Belo Horizonte e, logo contrariou a família e quis cursar Direito, à época, por volta de 1920, uma escolha inusual entre as mulheres. A família dela queria vê-la professora. 

Além de tornar-se advogada criminalista, com conhecimentos trazidos do exterior, ela destacou-se como escritora e poeta. 

Já formada, casada com um médico, Mietta, lá pelos vinte e poucos anos de idade, circulava por lugares repletos de políticos e também em paragens boêmias, frequentadas, por exemplo, pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, como revelou em biografia escrita por Schumma Shumaher e Antonia Cerval.

Anos depois, Drummond produziu um poema que diz que, depois de Mietta, “Minas endoideceu” (ver trecho logo abaixo).

Embora as intensas atividades ligadas à literatura e à advocacia, Mietta conquistou fama mesmo por causa feminista, assunto que já havia atraído ela fora do país, período em que estudava por lá. 

Tanto que, ao retornar da Europa, a poeta e advogada fundou, em Minas, a Liga de Eleitoras Mineiras.

Exposição As Sufragistas, no corredor da Câmara Federal, em Brasília. (Imagem: Márcia Paravizzi)

A CONQUISTA

Em 1928, ela ingressou com mandado de segurança sustentando que a proibição do voto feria um dos artigos, o 70, da Constituição Federal, que havia sido escrita em 1891, 27 anos antes.

A apelação de Mietta deu certo e ela conquistou sentença favorável. Não só votou como candidatou-se (não foi eleita) a uma vaga na Câmara Federal.

Dali em diante, surgiram novos triunfos judiciais e a decisão dada à causa da advogada mineira ecoou por outras regiões brasileiras. Lages, no Rio Grande do Norte, por exemplo, elegeu no mesmo ano da sentença, em 1928, Alzira Soriano Teixeira, do Partido Republicado, como a primeira prefeita do país.

Embora a vitória lá atrás, ainda hoje, 92 anos depois, segue o domínio dos homens na política. Dos 53 mandatos de deputados federais de MG, apenas três têm sido ocupados por mulheres.

Mietta morreu em 1995, no Rio de Janeiro.

MINAS ENDOIDECEU

Carlos Drummond de Andrade

“Mietta Santiago 
loura poeta bacharel 
Conquista, por sentença de Juiz, 
direito de votar e ser votada
para vereador, deputado, senador,
e até Presidente da República, 
Mulher votando? 
Mulher, quem sabe, Chefe da Nação? 
O escândalo abafa a Mantiqueira, 
faz tremerem os trilhos da Central
e acende no Bairro dos Funcionários, 
melhor: na cidade inteira funcionária, 
a suspeita de que Minas endoidece, 
já endoideceu: o mundo acaba”.

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